Nós, mulheres da periferia, precisamos votar neste domingo

Seis motivos para mulheres da periferia votarem no segundo turno das eleições de 2022.

26|10|2022

- Alterado em 28|10|2022

Por Beatriz de Oliveira

Há mais pessoas sem ter o que comer, cidadãos fazem empréstimos para pagar contas básicas, casos de violência protagonizam os noticiários, doenças erradicadas voltam a aparecer e ainda não estamos no fim da pandemia de Covid-19. Diante desse cenário, o sentimento de desesperança é inevitável, principalmente para os públicos mais atingidos pelo caos do Brasil de 2022, as mulheres negras e pobres. Sei que a preocupação maior é o nosso presente, e em como lidaremos com todos os problemas que invadem nossas casas.

Mas, me permita dizer que sair de casa no próximo domingo para votar também é urgente. Exercer seu poder de escolha, com o pouco que ainda resta de esperança, é um ato de amor e perseverança. É por você e pela coletividade. É pelo futuro de seus filhos, netos, sobrinhos. É pela possibilidade de sair desse horror e viver com mais dignidade nos próximos quatro anos.

No próximo domingo, escolheremos entre Jair Bolsonaro (PL) e Luiz Inácio Lula da Silva (PT) para ocupar o cargo mais importante do país: presidente da República. O atual presidente tem maior apoio entre os homens brancos e ricos. Já o nosso ex, é o preferido entre a população pobre da nação. Além disso, as mulheres pobres são as que mais rejeitam Bolsonaro. Esses dados não são por acaso, é necessário mostrar nossa preferência nessas eleições.

Nós, mulheres da periferia, precisamos ir às urnas. Listo seis motivos para isso:

1. Vote para que possa escolher suas compras no supermercado sem se assustar com os preços ou precisar levar o produto de menor qualidade

Cenas de pessoas revirando restos de ossos e carnes descartados por supermercado. É a esse ponto que chegamos na gestão do atual governo federal. Segundo a pesquisa Olhe para a Fome, mais de 33 milhões de brasileiros passam fome em 2022, e mais da metade da população do país vive em algum grau de insegurança alimentar.

As idas ao supermercado se tornaram dolorosas. Vimos os preços dos alimentos subirem até se tornarem incompatíveis com a renda de muitas famílias brasileiras. Em 2020, um pacote de 5kg de arroz chegou a custar R$ 40.

Em 2014, o Brasil saiu do Mapa Mundial da Fome, após relatório da Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO) constatar que entre 2002 e 2013, caiu em 82% a população de brasileiros em situação de subalimentação. Boa parte desse período compreende os governos Lula – 2003 à 2011. Já durante a gestão de Jair Bolsonaro, em julho de 2022, o país voltou ao Mapa da Fome com uma situação mais grave que a média global.

Participar das eleições de 2022 é uma forma de buscar a saída desse cenário. É pela possibilidade de nos próximos anos não precisar abrir mão de alguns itens ao ir ao supermercado.

2. Vote pela sua saúde e de seus familiares, para ter a acesso a remédios e ser vacinada quando necessário

O programa de imunização brasileiro já foi referência internacional. Neste país, mais de 20 imunizantes para diferentes doenças são oferecidos de forma gratuita por meio do Sistema Único de Saúde (SUS). No entanto, quando enfrentamos os piores momentos da pandemia de Covid-19 o governo federal demorou a comprar vacinas. Famílias vivem o luto de mortes que poderiam ser evitadas. Mesmo diante dos cemitérios lotados, o poder executivo ignorou 101 emails enviados pela empresa Pfizer, ofertando a venda do imunizante.

Além disso, vivenciamos hoje a volta de algumas doenças erradicadas e a queda da cobertura vacinal. O Brasil está entre os 10 países com maior quantidade de crianças com vacinação atrasada. Em 2021, por exemplo, cerca de 60% das crianças estavam vacinadas contra hepatite B, tétano, difteria e coqueluche, quando o recomendado é que a imunização fique entre 90% e 95%.

Como se não bastasse, o governo federal propôs a redução de orçamento para o programa Farmácia Popular, que distribui remédios gratuitamente para população de baixa renda – o orçamento foi de R$ 2,04 bilhões em 2022 para R$ 804 milhões em 2023.

Ir às urnas no próximo domingo é um modo de defender sua saúde e a de seus familiares. Escolha por um presidente que vai zelar pelo bem estar da população.

3. Vote pelo controle do uso de armas, que tem tirado a vida de crianças até em escolas

Segundo pesquisa da empresa de consultoria Genial/Quaest de setembro deste ano, 82% das mulheres são contra a ampliação do acesso à armas de fogo. Essa é uma das principais pautas do presidente Jair Bolsonaro. Durante seu governo, o número de pessoas com licença para ter armas, os chamados CACs (Colecionador, Atirador Desportivo e Caçador), aumentou quase 500%, como mostram dados do Anuário de Segurança Pública. O mandatário assinou mais de 40 decretos para facilitar o acesso e promete liberar ainda mais, de acordo com seu plano de governo para reeleição.

Junto com o aumento de brasileiros com armas em casa, vimos também mais tragédias relacionadas a esse objeto. Em outubro, por exemplo, um estudante de 15 anos atirou contra três colegas em uma escola no Ceará com uma arma de colecionador.

Ademais, sabemos quem é mais alvo das balas que saem das armas de fogo: jovens negros e pobres. Seja em chacinas, no carro a caminho de um chá de bebê ou chegando em casa depois do trabalho, são os homens pretos os que mais morrem vítimas de armas de fogo. Em seu plano de governo para as eleições de 2022, Lula se compromete a implementar políticas de segurança pública que priorizem a prevenção e investigação de crimes e violências contra mulheres, juventude negra e população LGBTQIA+. É também por eles que você deve votar no dia 30. Vote pela vida.

4. Vote pela sua segurança e pelo combate à violência contra mulher

Provavelmente você conhece alguma mulher que já foi vítima de violência doméstica, é provável também que ela seja negra e/ou periférica. Nos quatro anos de gestão de Jair Bolsonaro houve queda de 94% nos recursos destinados à combater a violência contra mulher na comparação com os quatro anos anteriores, como revelou um levantamento do Instituto de Estudos Socioeconômicos. Vale citar ainda, que em 2020, o governo federal gastou apenas R$ 5,6 milhões de um total de R$ 126,4 milhões previstos com políticas públicas para mulheres, de acordo com um estudo da Câmara dos Deputados.

O baixo investimento nesse segmento vai ao encontro das falas ofensivas sobre mulheres ditas pelo presidente da República. “Notícia boa para mulher é beijinho, rosa, presente, né?”, afirmou em fala sobre segurança pública em uma live em 2022. Ao ser questionado sobre as vacinas contra a Covid-19 por uma repórter em 2021, disse que ela deveria “voltar para a faculdade, para o Ensino Médio, depois para o jardim de infância e aí nascer de novo”.

Em contraponto, foi no governo Lula que houve a criação da Lei Maria da Penha, punindo casos de violência doméstica contra mulher, sendo considerada pela Organização das Nações Unidas (ONU) a terceira melhor lei do mundo nesse segmento. Já em seu plano de governo atual, o ex-presidente promete a criação de um Ministério da Mulher, bem como recuperar o programa “Mulher Viver Sem Violência”, que integra serviços públicos voltados à mulheres em situação de violência.

Participe do pleito deste ano pela sua segurança nos próximos quatro. Escolha por um representante que zele por seus direitos e invista em políticas públicas para mulheres.

5. Vote porque sua escolha vai fazer a diferença

Seu voto é mais importante do que imagina. No primeiro turno das eleições de 2022, 20% do eleitorado deixou de exercer o seu poder de voto; é o maior percentual desde 1998. Analistas avaliam que a abstenção é maior entre a população de baixa renda e entre as mulheres.

O eleitorado feminino resiste à reeleição de Bolsonaro e em sua maioria opta pelo candidato Lula. Entre os motivos para rejeitar o atual presidente estão suas falas misóginas e falta de ação em relação ao direito das mulheres como visto no item anterior. As mulheres também representam também a maioria do eleitorado do país, com 52,65%, frente a 47,33% dos homens.

Seu voto de mulher periférica vai fazer a diferença nesta eleição. Sabendo de seu papel na decisão para presidente da República, saia de casa neste domingo tendo em mente a possibilidade de um futuro digno para o país.

6. Vote! Vai ser rápido!

No segundo turno das eleições 2022 vamos escolher presidente da República e governador, em alguns estados. Por conta do menor número de representantes do que no primeiro turno, a votação deve ser mais rápida e você deve ficar menos tempo na fila.

Outro ponto é que em algumas cidades, como São Paulo, garantiram o passe livre no dia da eleição. Então você não terá gastos com transporte para ir ao seu colégio eleitoral.

Por fim, não ter votado no primeiro turno não impede que você vote no segundo.

Bônus: Compartilhe!

Talvez você já tenha decidido em quem vai votar neste domingo, mas pode conhecer mulheres que estão indecisas e que nem ao menos querem ir às urnas. Compartilhe esse conteúdo com elas! Ajude a mostrar que o voto das mulheres periféricas importa e que esse país pode ser um lugar melhor para se viver nos próximos quatro anos.


Os artigos publicados pelas colunistas são de responsabilidade exclusiva das autoras e não representam as ideias ou opiniões do Nós, mulheres da periferia.

Larissa Larc é jornalista e autora dos livros "Tálamo" e "Vem Cá: Vamos Conversar Sobre a Saúde Sexual de Lésbicas e Bissexuais". Colaborou com reportagens para Yahoo, Nova Escola, Agência Mural de Jornalismo das Periferias e Ponte Jornalismo.

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