Manifesto

O que é periferia?

Da periferia para o centro. Qual o ponto de partida? O início e a chegada? Quais são as distâncias percorridas? Qual a medida?

Periferia não é fácil de delimitar. É um conceito em aberto. Primeiramente, porque determinar o que é periferia é consequentemente destacar uma centralidade. Então, qual é o centro e por quê?

Definir periferia como o centro é inverter uma lógica de segregação e exclusão. Colocar a periferia em destaque é assumir um posicionamento espacial e social.

Em uma sociedade pautada pelo padrão da heteronormatividade – onde homens brancos cis e héteros são os detentores do poder – nascer e tornar-se mulher é estar inevitavelmente à margem. Periferia é enfrentamento.

Diante do racismo estrutural e institucional, a mulher negra é periférica em qualquer endereço. Um corpo negro carrega memórias ancestrais de um passado que insiste em se atualizar, ainda que desde sempre combatido. Periferia é resistência.

Na ordem global onde 99% da população disputa recursos contra 1% de privilegiados, periferia é condição socioeconômica. Se opor a toda injustiça e desrespeito aos direitos humanos essenciais é necessidade de sobrevivência. Periferia é consciência.

Periferia é muito mais que território. É um ponto de referência. É uma perspectiva, um lugar de fala, um corpo no mundo. Periferia é muito mais que geografia. É subjetividade, identidade, sentimento, memória afetiva. Periferia são narrativas contra a História única. Nossas vidas importam e cada trajetória é singular.

Nós, mulheres da periferia estamos em todos os espaços. Ultrapassamos e destruímos  fronteiras. Somos diáspora. Somos ponte em qualquer rio. Estamos em travessia, em movimento.


(2021)

“Somos maioria. Somos minoria. Pobres, pretas, brancas, periféricas. Migrante, nordestina, baianinha, quilombola, indígena.

Somos aquela que, depois de 8h de trabalho e 4h no transporte público, – “Dá um passo mais pro fundo, colega”, que ainda passa a roupa e nina o bebê.

Mas mesmo assim arruma tempo para o lazer. A novela, a música, a dança, o livro, anestesia, faz sonhar, faz esquecer.

Somos quem tira a toalha molhada de cima da cama, e leva os copos para a cozinha. – “A janta tá pronta?”

Somos as mães que trabalham para as filhas estudarem.
Somos as filhas que se formam na universidade para as mães voltarem para a escola.

Somos operárias, empreendedoras, manicures, jornalistas, costureiras, motoristas, advogadas.

Somos esposas, mães, irmãs, primas, tias, comadres, vizinhas.

Somos a menina que não pode brincar de bolinha de gude,
nem de carrinho de rolimã.

Somos a irmã que cuida dos irmãos mais novos até a mãe voltar do serviço. E que lava a louça do almoço enquanto o irmão vai jogar bola.

Somos a novinha insegura que esconde que ainda tem vontade de pular amarelinha, e se produz pra impressionar no baile. E lá desce até o chão.

Somos aquela que, quando o cara pede, faz tudo o que ele quer. – “Piriguete, piranha, vaca, vadia, vagabunda, puta”.

Somos quem não pode andar sem acompanhante na rua à noite.
Somos proibidas de frequentar os bares e botecos.

Somos aquela que não pode ter amizade com alguém de outro sexo.
Somos aquela que é criticada por não ter marido.

Somos apontadas na rua ao buscar camisinha no posto de saúde.

Somos culpabilizadas por filhos indesejados.
– “Quem garante que esse filho é meu?”

Somos mães solo que registram os nomes dos filhos de pais “desconhecidos”.

Somos as “mãezinhas” que gritam nos corredores da maternidade. – “Na hora de fazer não gritou!”.

Somos avós que criam os frutos da gravidez na adolescência.
Somos aquelas que amam os filhos da patroa.

Somos quem dá conta do recado quando nossos homens faltam. As que seguram as pontas quando são presos.

Somos quem chora quando nossos filhos são mortos por serem suspeitos.
Somos mães de maio, de junho, setembro…

Somos quem vai ao posto atrás de remédio e pra agendar consulta pra daqui a cinco meses.
Somos quem cria os abaixo-assinados para pedir creches.

Somos quem trabalha em mutirão carregando bloco e fazendo marmita.
Somos quem denuncia que a vizinha apanha do marido.

Somos amor, perdão, paciência, doçura, fortaleza. Somos esperança.

Somos Nós, mulheres da periferia!”

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