Por que fazemos um jornalismo de memória em meio à pandemia?

Nesta quinta-feira (7), o Nós participa da Cesta de Direitos - Diálogos da Memória da Pandemia, ao lado de outras organizações que também refletem sobre memória. Confira!

Por Jéssica Moreira

06|10|2021

Alterado em 08|10|2021

O Brasil se aproxima de um número cruel: 600 mil mortes em decorrência do novo coronavírus. Após mais de um ano e meio de pandemia, experimentamos os primeiros sinais de esperança, com parcela razoável da população vacinada e a reabertura de vários locais.

Mas a pandemia ainda não acabou. Ao contrário do que muitos pensam, ainda há pessoas morrendo por conta da Covid-19 e, mais do que isso, há as ‘pandemias’ que acompanharam e ainda seguem intensificando a crise sanitária, como a insegurança alimentar, questões ligadas à saúde mental, e também o luto de milhões e milhões de pessoas e famílias.

Como já falamos aqui, especialistas estimam que, a cada morte, pelo menos 11 pessoas ficam em luto. Isso quer dizer que quase 7 milhões de pessoas estão vivendo seus lutos nesse momento, fazendo do luto também uma questão de saúde pública que deve ser olhada pelo Estado, como bem mostra a psicóloga Ester Maria Horta e a especialista em comunicação não-violenta Iaçanã Woyames no Conversa de Portão.

Em um país onde seu presidente é um negacionista, havendo inclusive uma CPI da Pandemia para mostrar de quem é a culpa desses quase 600 mil mortos, é uma ilusão pensar que o luto pode ser olhado de maneira estrutural.

Entendendo nossas limitações e diante dessa triste constatação, honrar as memórias de quem partiu neste momento é o mínimo que podemos fazer, tanto por essas famílias que ficaram, quanto para as próximas gerações, que poderão ter acesso minimamente à realidade dos fatos.

Desde que a pandemia teve início, o Nós vem falando constantemente sobre essas pessoas. Ao lado do Alma Preta Jornalismo lançamos, em 2020, o Boletim Curva das Periferias, onde mostramos a partir de dados que as mortes por Covid-19 afetaram os bairros periféricos e de população negra ainda mais.

Entendemos, em meio à pandemia, que o nosso jornalismo produzia também memória. Essa memória muitas vezes não vista, muitas vezes deixada para escanteio, muitas vezes escondida entre os números dos dados oficiais.

Aqui em São Paulo, o Memorial da Despedida, realizado pela prefeitura de São Paulo e idealizado pelo coletivo Luto pela Vida e do Flores para Heróis,  confeccionou 38 mil cata-ventos para simbolizar as mortes todas da cidade.

Contamos as histórias da pandemia para dizer que a periferia existe. Não só em dor, mas também em potência e solidariedade. Contamos essas histórias no presente, para que no futuro possamos entender o curso da História e como isso nos afeta.

Falar de memória é falar sobre ancestralidade, a que existe e a que pode existir a partir de nossas escrevivências, como nos ensina a escritora Conceição Evaristo.

Para você que quer entender como fazemos um jornalismo de memória, nesta quinta-feira (7), Nós, mulheres da periferia, o projeto Memória Popular da Pandemia (Plataforma Dhesca) e a Rede de Apoio às Famílias e Amigos Vítimas de Covid-19 participamos do “Cesta de Direitos – Diálogos da Memória na Pandemia”, organizado pelo Observatório Direitos Humanos Crise Covid-19, às 19h, nos canais do Observatório e também da Mídia Ninja.