5 coisas além de um relacionamento para pedir de Ano Novo

Reuni uma lista de pautas que têm chances de concretização a curto prazo -- sendo otimista -- e que podemos ter esperança e pressionar pelo estabelecimento no próximo ano

21|12|2022

- Alterado em 11|08|2023

Por Amanda Stabile

Cá entre nós, eu não tenho nada contra usar calcinha rosa ou vermelha durante a passagem de ano para atrair amor no Ano Novo. Mas talvez, aliado a isso, possamos mentalizar ao universo, aos deuses, ou até mesmo aos nossos “eus” futuros, algumas coisas que impactem outras áreas da nossa vida.

Alguém aí sabe alguma simpatia para atrair a justiça social ou que cor de calcinha usar para trazer de volta o horário de verão?

Brincadeiras à parte, eu adoraria pedir a paz mundial, a justiça racial, o fim do patriarcado e do capitalismo e um relacionamento nos moldes do casal 13, Janja e Lula. Mas essa, infelizmente, não é uma lista de sonhos ou utopias, apesar destas serem extremamente importantes para nos manter caminhando.

Na verdade, eu listei pautas que realmente têm chances de concretização em menos de 100 anos – sendo otimista – e que podemos ter esperança e pressionar pelo estabelecimento no próximo ano. Talvez possamos considerar esta uma carta aberta para o único ex que vale a pena reatar: Luiz Inácio Lula da Silva.

1 – A revogação do sigilo de 100 anos de Bolsonaro

O presidente Jair Bolsonaro (PL) impôs sigilo de 100 anos a diversos atos e informações pessoais de integrantes de seu governo. Durante sua campanha, Lula, o presidente eleito, prometeu revogar essa decisão e expor o que o atual presidente está escondendo da população.

Esse desejo estará na minha lista de ano novo porque, como jornalista, sou uma curiosa profissional e diplomada. Mas, mais do que isso, porque essa restrição prejudica o processo de apuração de irregularidades cometidas por esses agentes públicos e porque a transparência é de interesse público e algo fundamental para a manutenção da democracia.

2 – O reajuste dos preços dos alimentos

Aos 45 minutos do segundo tempo de 2022, você deve ter percebido que a compra de quatro ou cinco itens no mercado já leva uma boa parte do nosso salário. Pedir que o preço dos alimentos volte a caber no nosso bolso demanda a interferência em diversas outras áreas que movem a economia.

É necessário, por exemplo, a valorização do real e do mercado interno brasileiro, a diminuição da inflação – e consequentemente o aumento do poder de compra da população – e ações para mitigar os efeitos da crise econômica impulsionada pela pandemia da Covid-19.

3 – O veto ao Estatuto do Nascituro

Há 15 anos, está em discussão na Câmara dos Deputados o Projeto de Lei (PL) 478/2007, conhecido como Estatuto do Nascituro. Se você ainda não ouviu falar sobre essa ameaça de retrocesso, te explico: o texto visa proibir o aborto no Brasil em qualquer circunstância, inclusive nas descriminalizadas atualmente – em caso de gestação decorrente de estupro, risco de morte para a mãe ou caso o embrião seja anencéfalo.

Mas se está em discussão há tanto tempo, por que precisamos nos preocupar com isso logo agora? Na última semana, o PL foi pautado para votação na Câmara, andamento que foi adiado graças à mobilizações contrárias e pedidos de revisão da proposta. Os próximos passos são os seguintes: caso seja aprovado, algo que ainda pode acontecer esse ano, o PL precisa ser aprovado pela Comissão de Constituição e Justiça e de Cidadania da Câmara dos Deputados e pelo Plenário da Casa.

Eu sugiro que nosso desejo de ano novo já foque no veto à proposta porque, nada otimista e ciente da parcela conservadora da política e da sociedade brasileira, eu acredito que há muitas chances do PL passar com folga pelos dois órgãos. Assim, ele caminha para tramitação no Senado e Congresso Nacional. A última etapa é a sanção ou veto do presidente da República. Lula, a gente conta com você!

Caso você não saiba os motivos para a proibição do aborto em todos os casos ser uma preocupação genuína de todos nós, leia esse texto.

4 – A instituição de um salário que realmente se aproxime do mínimo

Como passar o mês com R$ 1.302, novo valor do salário mínimo nacional, sem pular nenhuma das refeições e garantindo que suas crianças tenham teto e todos os nutrientes necessários no prato?

Talvez essa seja a pergunta de um milhão de dólares porque, de acordo com a Pesquisa Nacional da Cesta Básica de Alimentos, realizada pelo Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese), o salário mínimo ideal para atender às necessidades de uma família de quatro pessoas deveria ser 5 vezes maior que o atual. O estudo apontou que, em julho, esse valor deveria corresponder a R$ 6.388,55.

5 – Que crianças e adolescentes sejam realmente a prioridade do país

Durante as eleições, alertamos para a necessidade de escolhermos candidatas e candidatos que demonstrassem suas preocupações com o futuro e o presente das crianças brasileiras. Isso porque são elas que sofrem de maneira mais intensa com as desigualdades, as violações e a falta de acesso à direitos, pois são seres humanos em sua forma mais vulnerável e potente.

Por isso, nesse desejo de ano novo, eu não poderia deixar de fora que essa população seja colocada no centro de todos os debates e que os próximos passos em relação ao compromisso com uma infância protegida sejam dados. Como disse a doutora em educação Lucimar Dias em sua coluna:

“A hora não é de omissão e de deixarmos apenas para uns poucos setores a luta por dignidade. Há pessoas morrendo faz tempo, há crianças famintas aos montes. Elas têm raça/cor e sabemos que são negras e indígenas. Esse não é um problema exclusivamente de pessoas negras, mas de todos e todas que acreditam na humanidade. Estamos vivendo um momento crucial da sociedade brasileira que nos coloca entre a barbárie e a vida e por isso o silêncio não tem mais lugar”.

Larissa Larc é jornalista e autora dos livros "Tálamo" e "Vem Cá: Vamos Conversar Sobre a Saúde Sexual de Lésbicas e Bissexuais". Colaborou com reportagens para Yahoo, Nova Escola, Agência Mural de Jornalismo das Periferias e Ponte Jornalismo.

Os artigos publicados pelas colunistas são de responsabilidade exclusiva das autoras e não representam necessariamente as ideias ou opiniões do Nós, mulheres da periferia.