Foto mostra uma das mães cansadas. Com os olhos fechados, ela embala seu bebê

Sobrecarga materna: sim, as mães estão exaustas

Reunimos alguns relatos de mães cansadas para ilustrar o esgotamento e as necessidades dessas mulheres. Confira:

Por Amanda Stabile

12|05|2023

Alterado em 12|05|2023

Maternar é um trabalho em tempo integral. Por vezes solitário, mas sempre cansativo. Dentre as tarefas essenciais para manter seres tão vulneráveis quanto as crianças vivos e saudáveis, também são atribuídas às mães o cuidado com o lar, a alimentação, o auxílio com os estudos e, diversas vezes, o sustento da casa.

Mesmo quando a maternidade não é desempenhada de forma solo, as mulheres ainda são as que mais realizam essas funções. Em 2019, um estudo do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) apontou que elas dedicavam quase o dobro de horas por semana aos afazeres domésticos e cuidado de pessoas do que os homens. Enquanto eles dedicavam, em média, 11 horas semanais, elas dedicavam 21,4 horas.

Com a privação de sono, má alimentação e descuido com a própria saúde, sem surpresas, as mães ficam exaustas. E, assim como no reconhecido mercado de trabalho, são acometidas pela síndrome do esgotamento profissional, a Síndrome de Burnout – nesse caso, burnout materno. Porém, diferente do setor profissional, não há como pedir uma licença médica para se recuperar.

Por vezes, ao reconhecer que estão cansadas, as mães são alvos de críticas e ofensas. Onde já se viu admitir que todo esse trabalho esgota? Mas isso não significa que elas estão cansadas dos filhos, o amor materno continua intacto. Apenas evidencia a necessidade que sentem de serem ouvidas e de terem uma rede de apoio.

É sempre bom lembrar que não são apenas as mães que são responsáveis pelas crianças e adolescentes, mas todos nós: família, Estado e sociedade. Esse é um dever estabelecido pela nossa Constituição Federal, no artigo 227. Por isso, fazer parte de uma rede de apoio é, também, lutar para que os direitos dessas mães e crianças sejam garantidos.

“É dever da família, da sociedade e do Estado assegurar à criança e ao adolescente, com absoluta prioridade, o direito à vida, à saúde, à alimentação, à educação, ao lazer, à profissionalização, à cultura, à dignidade, ao respeito, à liberdade e à convivência familiar e comunitária, além de colocá-los a salvo de toda forma de negligência, discriminação, exploração, violência, crueldade e opressão”, Artigo 227 da Constituição Federal de 1988.

Algumas mães têm exposto seus dias e dilemas nas redes sociais. Só no Instagram, por exemplo, a #maecansada já conta com mais de 44 mil publicações. Reunimos alguns relatos de mães cansadas para ilustrar o esgotamento e as necessidades dessas mães. Confira:

Verônica Oliveira

“As casas não se limpam sozinhas, as comidas não se cozinham sozinhas e as crianças não se criam sozinhas. Além de tudo isso existe a ansiedade e necessidade de dar conta de tudo. Quem inventou isso aí? Quem disse que acionar rede de apoio é sinal de fraqueza?(…)

Passei algum tempo me sentindo INCAPAZ por ter começado a precisar de ajuda por exemplo na limpeza da casa desde que estava no final da gravidez. Que sentimento nada a ver, gente. Entre cuidar do meu corpo na reta final pra chegada da minha filha eu estava triste por não ser capaz de abaixar pra varrer debaixo dos móveis. Estou aprendendo a lidar com as minhas necessidades e pedir ajuda SIM!”.


Luane Hunoff da Costa

“Tem dias que ao ir dormir penso estar fazendo tudo errado. Sinto culpa por ter brigado, por ter perdido paciência, por não ter dado a atenção merecida, por estar me sentindo tão cansada.

Complicada essa vida de mãe que dificilmente olha o que faz de bom diariamente, acaba só vendo o que deixou de fazer. Isso é sobrecarga materna, viver a julgar seu próprio maternar.


Pri Arnosti

“Parece que nada do que eu diga será capaz de descrever o que é o dia a dia com uma criança atípica. Ontem antes de dormir, irritada e cansada, eu elevei a voz com ela e imediatamente a culpa me consumiu. Foi a gota d’água após dias exaustivos e comecei a chorar, sentindo que não estou sendo a mãe que ela merece, perguntando onde estou errando e pedindo um sinal a Deus. Pensei que ela não perceberia no escuro, mas rapidamente ela notou e perguntou por que eu estava chorando. Respondi apenas que estava triste e que adultos também choram”.


Sol Figueiredo

“Eu estou cansada! E não, eu não estou cansada de ser mãe dos meus pinguinhos de gente e muito menos cansada deles.

Estou cansada de ser ‘forte e guerreira’, termos bonitos usados pela sociedade para não dizer sobrecarga materna, pois até no nosso cansaço eles tentam controlar e julgar

Mas mãe cansa, e muito, de estar sobrecarregada, de ter que pensar e dar conta mil uma coisas de uma só vez calada. E sorrindo, pois não está fazendo mais que o dever de mãe”.


Andrea Kaufmann

“Acordar 9 horas da manhã é uma opção pra você? Pra mãe cansada, não! Não só porque o filho tem fome, mas porque você quer alimentar a cria!

É o amor e o cansaço andando juntos, desde sempre.

Uma mãe alimenta um filho a qualquer hora e lá se vai aquela hora extra de soninho premium de domingo. Eu nem lembro mais o que é isso”.


Vanessa Pereira

“Hoje, admito: estou cansada.

Tive o fim de semana doente e mesmo assim fiz tudo por eles.

Foi a festa da Daniela na sexta, no sábado do Duarte. Ontem, a Daniela teve uma festa de aniversário. E sinto-me muito cansada, agora que estou a preparar-me para ir trabalhar. Parece que o fim de semana não deu para nada, que me passou um caminhão por cima”.


Audeangela Sobral

“Se tem uma coisa que vem percebendo e sentindo sobre o “CANSAÇO NA MATERNIDADE” é que esse cansaço não é apenas porque eu sou mãe, é porque eu trabalho fora, em dois lugares, e o cansaço mental cansa 10 vezes mais do que o físico. Tenho uma casa pra deixar em ordem, feira de mercado pra fazer, feira de verdura e fruta, tem comida pra fazer, banheiro pra lavar. (…) E, não, ninguém vai trabalhar por mim, ninguém acorda a cada duas horas por mim pra dar de mamar. Ninguém acalenta Luiz Antônio como eu”.


Leah de Sá

“A gente aprende desde muito nova que mulher é guerreira, que dá conta de tudo, e a gente vai se construindo em cima dessas falas. Quando nos deparamos com as falhas, os medos e as incapacidades, nos sentimos menores… E você se sente a pior mãe. Eu me senti assim, às vezes ainda sinto.

Mas quando resolvemos expor nosso cansaço, nossa sobrecarga somos taxadas como fracas, dramáticas e vamos engolindo as nossas dores e as nossas aflições.


Pamela Cordeiro Melo

“De 24 horas do meu dia, 20 são embalando um bebê. As outras são eu tendo que me dividir entre o filho mais velho, a casa e o marido. Pra mim, se restar 15 minutos já fico feliz”.


Kethellyn Oliveira

“A maternidade 90% do tempo é cansativa e solitária, já é barra pra quem tem o pai da criança ali fazendo a parte dele e dividindo a responsabilidade. Então imagina pra quem não tem. Às vezes a vontade é de gritar e só parar quando não sair mais a voz”.


Camila Gama

“Eu só queria fugir pra algum quartinho com uma cama onde eu pudesse deitar dormir. E uns livros de cabeceira para ler. Um mês.

Às vezes a sensação é que numa cadeia eu estaria mais livre.

Confissões de uma maternidade solitária e cansativa”.


Aline Passos

“Sou mãe solo atípica e filha única de uma senhora idosa cheia de problemas de saúde. Não tenho rede de apoio. Quase todos os meus amigos têm carro, mas ninguém nunca pensou em se comprometer com 1 horário semanal de terapia de Zé. Meu filho faz terapia todo dia”,