Exposição “Pequenas Áfricas”, cultura negra, samba

Exposição “Pequenas Áfricas” conta história negra brasileira a partir do samba carioca

Curadora da exposição, Ynaê Lopes dos Santos conversa com o Nós sobre o propósito da mostra e sua importância para a cultura brasileira.

Por Mariana Oliveira

08|11|2023

Alterado em 08|11|2023

Estreou em São Paulo, em 28 de outubro a exposição Pequenas Áfricas: o Rio que samba inventou. Com cerca de 380 itens, incluindo documentos, gravações musicais, fotografias, matérias de jornais, filmes e obras de arte, a mostra apresenta parte da rica história do samba carioca, que também moldou a cena cultural brasileira.

Em entrevista ao Nós, mulheres da periferia, Ynaê Lopes dos Santos, professora de história da América da Universidade Federal Fluminense (UFF) e uma das curadoras da exposição, explicou que a mostra  foi concebida a partir de uma reavaliação do acervo já significativo do Instituto Moreira Salles (IMS). Esse acervo remonta à construção do Rio de Janeiro (RJ) e ao nascimento do samba, destacando a contribuição da comunidade negra para esse legado. “Tínhamos a intenção de provocar a ideia de modernismo no Brasil, que muitas vezes é vinculada quase exclusivamente à Semana de Arte de 1922 em São Paulo. Trouxemos uma discussão atenta para as expressões artísticas e intelectuais negras, sobretudo no Rio, o epicentro do que chamamos de “pequena África”, conta.

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Clube Vega, Coelho Neto, Rio de Janeiro/RJ. © Zeca Linhares Quilombo

Tia Doca (2004), da série Casa de bamba. © Bruno Veiga

Tia Amélia do Aragão, mãe de Donga, s.d. Instituto Donga. © Autoria não identificada

Embora a exposição retrate a cena carioca, ela acontece na capital paulista. A escolha é uma referência à Semana de Arte Moderna, um evento artístico e cultural que completou seu centenário em 2022. “Acredito que a principal questão é causar um desconforto. Mas, é também, uma espécie de portal para pensarmos questões relativas à formação nacional a partir da presença negra e de ações e expressões culturais em uma dimensão política como o samba”. Além disso, ela destacou a importância de convidar São Paulo a repensar suas “pequenas áfricas”, silenciadas pela ideia de uma cidade imigrante e branca. “Não que essa ideia não seja verdadeira, mas está longe de ser única”, explica Ynaê.

As salas da exposição são divididas em seções que abordam o período escravista no Brasil, as referências à proteção ancestral, o embranquecimento populacional e cultural, até chegar à consolidação do samba como forma de arte e profissão.

Essa exposição é um reconhecimento desse território, dos personagens que fizeram parte dele. Parece que é uma coisa inerente ao Rio de Janeiro, quando na verdade, boa parte das grandes cidades do Brasil tiveram um passado escravista ou uma presença negra liberta fortes.

Uma das partes mais destacadas da exposição é o papel das mulheres na construção das culturas carioca e nacional, conhecidas como as “tias do samba”, incluindo figuras como Tia Ciata, Tia Amélia, Tia Dodô e Tia Lúcia. Ynaê explica que, na cena do samba, a contribuição das mulheres negras muitas vezes é esquecida, com exceção de nomes como Dona Ivone Lara. No entanto, a exposição destaca a presença marcante dessas mulheres negras no universo do samba, demonstrando como, devido à sua condição de mulheres negras e pobres, encontraram no samba um espaço para reinvenção, criação de laços afetivos, solidariedade e identidade.


Serviço:

Pequenas Áfricas: o Rio que o samba inventou

Visitação: até 21 de abril de 2024 – Terça a domingo e feriados (exceto segundas), das 10h às 20h, entrada gratuita.

IMS Paulista, 7 o e 8 o andar, Avenida Paulista, 2424 – São Paulo, SP.