sala de aula vazia

Escola de professora que recebeu ‘bombril’ de aluno reagiu à altura?

A educadora Luana Tolentino analisa caso de racismo na escola, em que professora negra recebe bombril de um aluno.

Por Beatriz de Oliveira

16|03|2023

Alterado em 16|03|2023

Era 8 de março, Dia Internacional da Mulher, quando uma professora em sala de aula é “presenteada” por um aluno. Ao abrir a sacola, ela retira uma esponja de aço (chamada de Bombril por ser a marca mais conhecida). A mulher se levanta, diz que vai aceitar o objeto e agradece. O aluno responde: ‘de nada professora, feliz dia das mulheres’. Ao fundo é possível ouvir alguns risos de outros estudantes.

O caso de racismo aconteceu em uma escola da rede pública de Ceilândia, no Distrito Federal. “A primeira coisa que eu percebo ali é o silêncio conivente. Ninguém se manifesta. Ninguém se insurge contra aquela ação. Temos que pensar que o silêncio e a omissão têm sido instrumentos eficazes de manutenção e perpetuação do racismo”, afirma Luana Tolentino, mestra em Educação, educadora e autora do livro “Outra educação é possível”.

A educadora acrescenta que a cena revela uma desqualificação do trabalho docente. “O que se vê ali é uma autorização, quase como um direito, de ofender e humilhar aquela mulher”, diz.

Em resposta ao ato racista, a escola afirmou que conversou com o aluno de 17 anos. Solicitaram que ele fizesse um pedido de desculpas para ser lido em sala de aula. Para Luana, a atitude da escola não está à altura da gravidade do caso. Seria necessário, segundo ela, acolher a professora, demonstrar um “repúdio contundente” e acionar os pais do estudante.

Escolas devem assumir postura antirracista

Segundo Luana, o ambiente escolar reproduz os preconceitos expressos na sociedade. Portanto, o caso que aconteceu em Brasília não é isolado, há vários relatos de alunos que sofrem racismo na escola. Para que cenas como essa sejam menos corriqueiras, é necessário uma reeducação social. “Escola e sociedade precisam caminhar juntas, sem isso, dificilmente vamos avançar”, aponta.

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Luana Tolentino é mestra em Educação, educadora

Além disso, a educadora propõe que se inverta a lógica usual de questionarem pessoas negras sobre o que fazer para combater o racismo, mas sim começar a pressionar pessoas brancas a tomarem atitudes, já que são elas que cometem o preconceito.

Outro ponto é que a escola deve pautar discussões e atividades sobre racismo e sobre a cultura negra. Isso já está previsto há 20 anos através da lei 10.639, que incluiu a obrigatoriedade da temática “História e Cultura Afro-Brasileira”, mas nem sempre é aplicada.

“Não dá mais para a escola ser um espaço em que há esse tipo de ação racista explícita, além de outras formas de racismo, como a negação de matricula a alunos negros, a negação dos alunos negros de conhecerem a sua própria história, o racismo por meio da reprovação escolar e a punição mais severa para estudantes negros. É urgente que a escola assuma o compromisso de contribuir para a superação do racismo”, diz Luana.