manifestação junho 2013

Coletivos de SP organizam ato para marcar 10 anos de junho de 2013

Ato acontecerá dia 29 no centro de São Paulo (SP); e reivindica tarifa zero no transporte público

Por Beatriz de Oliveira

29|06|2023

Alterado em 29|06|2023

Há dez anos, em junho de 2013, ocorreram uma série de protestos em todo o país. As pautas abrangiam diversos temas, como saúde, educação e trabalho. No entanto, tudo começou com jovens de São Paulo (SP) manifestando-se contra o aumento da tarifa do transporte público. Para marcar o marco de uma década e reivindicar a tarifa zero, coletivos da capital anunciaram um ato para quinta-feira (29).

A manifestação está marcada para às 17h em frente ao Theatro Municipal, no centro de SP. O objetivo é resgatar a memória das Jornadas de Junho nas ruas, relembrando seu caráter popular. Apesar da comemoração, os organizadores entendem que as demandas reivindicadas em 2013 não foram resolvidas e ainda são urgentes. “O custo de vida não para de subir, o trabalho é massacrante e o transporte continua lotado, demorado e caro”, afirma Nathalia Colli, professora, mãe e integrante do grupo de militantes autonomistas “Treta no Trampo”.

Outra demanda do protesto é o fim da cobrança de tarifa nos transportes públicos, algo também reivindicado em 2013.

A tarifa zero hoje está em discussão pela Prefeitura de São Paulo, mas com o objetivo de favorecer os empresários de ônibus e garantir a possível reeleição do prefeito. No entanto, em uma cidade como esta, seria inviável uma política de gratuidade que não abrangesse também trens e metrô. Até o momento, o governador do estado mostra-se intransigente, com sua única proposta para os trilhos sendo a privatização

De acordo com levantamento do pesquisador Daniel Santini, que realiza estudo sobre tarifa zero na Universidade de São Paulo (USP), 72 municípios no país já adotam a tarifa zero plena no transporte público, em 2023. Enquanto em 2013 eram 17 municípios com tarifa zero. 

O fim da cobrança no transporte público afeta diretamente a vida das mulheres periféricas. Segundo Nathalia, “um transporte de qualidade, planejado coletivamente pela população, também é uma forma de permitir que a segurança e o bem-estar das mulheres sejam debatidos e considerados em larga escala”.

“Também é necessário pensar nas mulheres mães ou que precisam cuidar de familiares. Embora lutemos para modificar a associação entre vida doméstica e gênero, essa realidade ainda existe, é um fato. Como uma mulher responsável por crianças, adolescentes e idosos pode circular com seus filhos se tiver que pagar por todos?”, questiona.

Por que é importante lembrar de junho de 2013?

Passados 10 anos das Jornadas de Junho, o movimento ainda suscita discussões e reflexões para pesquisadores, ativistas e a população em geral. Foi um marco na história do país e representou uma nova fase política. Os protestos começaram pela esquerda, com destaque para o Movimento Passe Livre (MPL), que não tinha lideranças definidas, mas sim uma gestão horizontal. Com o avanço das manifestações, representantes da direita passaram a ocupar espaço. A forte repressão policial aos protestos e a cobertura da imprensa também marcaram aquele mês.

Junho abalou uma certa estabilidade que existia na sociedade brasileira desde a redemocratização, com protestos massivos nas ruas, que diferiam das mobilizações anteriores, pois não seguiam a lógica com a qual os governos estavam acostumados: em vez de um representante que poderia sentar e negociar com o Estado, a revolta de Junho tinha a cara de uma multidão que impôs, por meio da força, a redução da tarifa em centenas de cidades do país

Para a ativista, as Jornadas de Junho mostraram a força das ruas e sua influência nas decisões políticas, mesmo com pautas diversas e ocorrendo, por vezes, de forma desordenada. “Pensar em 2013 é lembrar dessa ferida aberta entre insurgência e chão social”, resume.

Com base em sua experiência pessoal nas manifestações, Nathalia destaca a convicção política e a união da população. “Estávamos ao lado de pessoas que não conhecíamos, dispostas a enfrentar a polícia e ajudar quem precisava, para que o ato continuasse”, lembra.

“Ir para as ruas contra todas as tarifas é a única maneira de manter viva a memória de junho de 2013, como quando estávamos na rua lutando por uma vida sem catracas”, finaliza.