Coletivo Nós, mulheres da periferia participa de ciclo de debate sobre raça e gênero na Casa de Lua

Na última segunda (28), a Casa de Lua realizou seu primeiro Círculo de Mulheres Negras, organizado pela professora universitária de Jornalismo Bianca Santana, uma das criadoras da organização. Decorado por lenços, maquiagens, brincos, colares e pulseiras, o espaço foi idealizado com um objetivo muito claro: fazer com que as mulheres negras se identificassem e se […]

Por Redação

04|08|2014

Alterado em 04|08|2014

IMG-20140728-WA0013Na última segunda (28), a Casa de Lua realizou seu primeiro Círculo de Mulheres Negras, organizado pela professora universitária de Jornalismo Bianca Santana, uma das criadoras da organização. Decorado por lenços, maquiagens, brincos, colares e pulseiras, o espaço foi idealizado com um objetivo muito claro: fazer com que as mulheres negras se identificassem e se vissem no espelho com um novo jeito de lidar com sua pele, seu cabelo, e, assim, fortalecer sua autoimagem e autoestima.
O encontro reuniu 13 mulheres de diferentes bairros de São Paulo, principalmente periféricos, como Capão Redondo, Ermelino Matarazzo, Cidade Ademar, dentre outros. No evento, elas puderam compartilhar suas experiências de vida. A maioria estudantes ou já formadas em diversas áreas do conhecimento como Engenharia Ambiental, Relações Públicas e Jornalismo, e tinham em comum o acesso ao ensino superior, diferencial num país como o Brasil, onde apenas 11% dos jovens negros entre 18 e 24 anos alcançam esse grau de escolaridade, apontam dados do Relatório de Desenvolvimento Humano do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD), divulgados em 2012.
Criada em outubro de 2013, a Casa é um espaço que está se tornando uma ONG com 13 mulheres diretoras na gestão e se destina às discussões políticas, ao trabalho, ritmos e descobertas do feminino. Muitas delas já eram amigas ou se conheciam dos movimentos ligados à cultura livre e educação. Em junho de 2013, a vontade de ter um espaço para as conversas e debates fortaleceu o coletivo.
“Queríamos incentivar o protagonismo das mulheres nas diversas esferas da sociedade, porque nos sentimos muito sub-representadas. Entender melhor a complexidade de ser mulher, experimentar tradições femininas de diversas culturas, compartilhar, além da razão e das teorias, algumas vivências mais simbólicas e mais sutis sobre ser mulher. Além disso, algumas trabalhavam em casa e ter um espaço de trabalho compartilhado era uma ideia que agradava muito”, explicou Bianca.
O que o encontro representou para as participantes
“Fundamental”, foi a palavra usada pela estudante de Jornalismo, Giulia Ebohon, para definir o encontro. “Foi uma experiência nova e extremamente acolhedora. O ponto alto foi justamente ouvir a trajetória de cada uma das mulheres que estavam lá, e notar, sobretudo, a semelhança entre as vivências.”
A estudante de Relações Públicas, Juliana Renata Santos, explica que percebeu que todas têm muito orgulho de sua “negritude” e não levam isso como algo primordial em suas vidas, mas sim fundamental para o desenvolvimento pessoal e profissional. “Nenhuma das mulheres ali presentes se deixaram abater, todas lutam em busca de uma posição respeitosa na sociedade, independente da sua cor de pele, de suas origens e de seu credo”, definiu.
Cursando o último ano de Engenharia Ambiental, Débora Carvalho, ficou contente de dividir suas experiências e aprender com as vivências de cada uma que estava lá. “Estou ainda mais corajosa para enfrentar os desafios quase diários impostos à minha condição racial, social e de gênero”, declarou.
Uma das integrantes do coletivo Nós, mulheres da periferia, Lívia Lima, esteve presente e contou sobre seu processo pessoal de se reconhecer como mulher negra, descrito na crônica “Quando me tornei negra”.
Nesse encontro, a educadora Jussara Ferreira Paim disse que ouviu mulheres fortes, decididas, cheias de coragem, que não se acovardam, que não assumem o papel de vítimas, mas entendem o grande desafio que enfrentamos e está longe de ser superado. “Estamos em um processo de construção de uma identidade linda que não pode ser ignorada, não pode ser subestimada, não pode ser destruída”, disse.
A participante Jumile Moreira, formada em Engenharia Ambiental, conta que há tempos procurava discussões como essa. “Conheci grupos com outras temáticas, mas nenhuma com a qual eu me identificasse tanto e que mexesse comigo. Encontrei histórias semelhantes a minha e foi bom porque o grupo sabia do que estava falando, histórias essas que as pessoas dos meios que frequento (faculdade, trabalho, cursos) não conseguiriam entender”, revelou.
Ao comentar sobre esse primeiro encontro, a professora Bianca diz que esse círculo de mulheres negras foi muito especial e emocionante. “Foi uma oportunidade de sentar com mulheres que têm origem e histórias parecidas. Muito bom se sentir parte, fortalecer nossa identidade, aprender com a nossa história e com a história das outras”, avaliou Bianca.