Sueli Carneiro segura microfone

Sueli Carneiro lança livro ‘Dispositivo de racialidade’

Participamos da coletiva de imprensa do lançamento do novo livro de Sueli Carneiro, em que autora aponta a luta coletiva como crucial no combate ao racismo

Por Beatriz de Oliveira

20|03|2023

Alterado em 20|03|2023

Prestes a completar 20 anos, a tese de doutorado da filósofa e ativista Sueli Carneiro ganha formato em livro. Com título “Dispositivo de racialidade – A construção do outro como não ser como fundamento do ser”, a obra de 432 páginas segue atual ao apresentar uma interpretação sobre o racismo e defender o seu enfrentamento pelo coletivo.

Na segunda-feira (13), o Nós, mulheres da periferia participou da coletiva de imprensa sobre o lançamento do livro. O evento, exclusivo para a mídia negra e periférica, aconteceu no Centro de Documentação e Memória Institucional (CDMI) do Geledés – Instituto da Mulher Negra, organização fundada por Sueli Carneiro.

No encontro, a filósofa destacou a importância das novas gerações buscarem conhecer as lutas e conquistas obtidas pelas gerações passadas. “Tenham a permanente percepção de que atrás de vocês tem uma história muito grande de movimento sociais, embora a maioria tenha sido invisibilizados e desqualificados”, disse.

Sueli Carneiro também fez pontuações sobre a forma como o racismo se adapta às mudanças da atualidade. “O racismo é altamente pedagógico, quando a gente vacila ele vem nos dar lições. Nós estamos sempre sob ameaça e não podemos dormir em berço esplêndido em nenhuma conjuntura, porque rapidamente o racismo se organiza e nos submete a novas formas de opressão”, explicou.

O lançamento oficial do livro ocorrerá na terça-feira (21) no Sesc Vila Mariana, zona centro-sul de São Paulo (SP), às 19h. Para participar do evento é necessário reservar ingresso no site do espaço ou de forma presencial, na bilheteria.

Na obra de filosofia política, a autora aplica conceitos do filósofo francês Michel Foucault à análise das relações raciais, criando o que ela denomina de dispositivo de racialidade. Além disso, Sueli Carneiro também se ampara na teoria do contrato racial do afro-jamaicano Charles Mills e explica como um contrato formado entre brancos é baseado na cumplicidade em relação à eliminação de pessoas negras.

Outro ponto tratado em “Dispositivo de racialidade” é o epistemicídio, conceito que nomeia os atos de inferiorização intelectual de pessoas negras para anulá-los como sujeitos de conhecimento. Em contraponto às diversas situações de violência vividas por pessoas negras, a escritora destaca a resistência desse povo, que se mune de autoestima, memória e ação coletiva.

Sueli Carneiro tem uma grande quantidade de obras publicadas, alguns de seus artigos estão reunidos nos livros “Racismo, sexismo e desigualdade no Brasil” e “Escritos de uma vida (2019)”. Em 2022, a escritora, que é uma das mais importantes intelectuais do país, recebeu o título de doutora honoris causa pela Universidade de Brasília (UnB).