mulher fantasiada durante Carnaval

Grupo pede punição a atos racistas no Carnaval de São Paulo

Pesquisadores do samba e sambistas entregaram carta de reivindicações à Liga das Escola de Samba contra racismo no Carnaval de São Paulo

Por Beatriz de Oliveira

02|03|2023

Alterado em 02|03|2023

Um grupo de pesquisadores e sambistas entregaram no dia 27 de fevereiro uma carta de reivindicações à Liga das Escola de Samba de São Paulo. Os responsáveis são integrantes do recém criado Observatório Permanente e Multidisciplinar de Combate ao Racismo no Carnaval das Escolas de Samba Paulistanas. A ação foi motivada pela fala racista do presidente da X-9 Paulistana. Ele afirmou que o ato de levantar os braços e fechar o punho não significa “porra nenhuma”, quando na verdade é um gesto de resistência da luta antirracista.

“O ato do presidente da X-9 não é isolado, faz parte de um processo de apagamento das origens negras do patrimônio Escola de Samba. O embranquecimento tem se beneficiado deste apagamento para promover transformações que ao longo do tempo tem expulsado corpos negros da gestão e da participação da festa”, explica Claudia Alexandre, jornalista, radialista, especialista em samba e escolas de samba de São Paulo e uma das autoras da carta.

Entre as reivindicações do documento, está a atualização Regulamento Oficial da Liga das Escolas de Samba, com a inclusão de penalidades para quem cometer atos racistas ou qualquer outra forma de discriminação.

O grupo pede também o reconhecimento do Observatório Permanente e Multidisciplinar de Combate ao Racismo no Carnaval das Escolas de Samba Paulistanas, como organização independente responsável por fiscalizar e propor formações para presidentes, diretores, gestores e julgadores dos desfiles das escolas de samba de São Paulo. O objetivo é preservar as tradições afrobrasileiras do Carnaval de São Paulo.

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Claudia Alexandre, jornalista, radialista e especialista em samba

©Leo Vitulli

“É preciso que, a partir de especialistas e pesquisadores-sambistas, haja um diálogo com as lideranças do Carnaval da escola de samba para sensibilização e importância da defesa e proteção de um patrimônio cultural afro-brasileiro. Independente das transformações, da tecnologia e dos interesses econômicos sobre a festa, a história, as heranças e as memórias devem ser mantidas”, afirma Claudia Alexandre.

Outra demanda é uma seleção de julgadores dos desfiles que preveja diversidade de raça e gênero, além de aplicação do requisito de se ter experiência ou vivência profissional com samba. A ausência de jurados negros no Carnaval 2023 gerou criticas por parte do público. Em artigo ao Nós, mulheres da periferia, a professora Joice Aziza conta que detectou apenas quatro jurados negros entre os 36 que haviam. Além disso, ao olhar as redes sociais dos jurados brancos não identificou menção quanto ao gosto pelo samba ou pelas artes afrobrasileiras.

Claudia Alexandre ressalta que fundamentos culturais das escolas de samba estão sendo esvaziados. “Nosso objetivo é que o passado continue a nos ajudar na sobrevivência do presente, apoiados em fundamentos e tradições que nada tem a ver com ficar obsoleto, pelo contrário ficará cada vez mais rico. Escola de Samba é território negro e querem tirar essa parte da história”, diz.

Leia a carta na íntegra.