Conversa de Portão #63: Quais pronomes devo usar com você?
Ana Pessoto, pós-doutora em linguística, que investiga a marcação gramatical de gênero no Português Brasileiro, conversa com Jéssica Moreira e Mayara Penina sobre o uso da linguagem neutra para gênero
Por Amanda Stabile
29|06|2022
- Alterado em 01|07|2022
Você já deve ter percebido que, especialmente nos conteúdos disseminados na internet, diversas palavras passaram por alterações com o objetivo de alcançar o uso de uma linguagem neutra para gênero. “Todos”, por exemplo, pode ser substituído por “todes”, “todxs” ou “tod@s”.
Para conversar sobre isso, na 63ª edição do Conversa de Portão, as jornalistas e cofundadoras do Nós, mulheres da periferia, Jéssica Moreira e Mayara Penina, convidaram Ana Pessoto, pós-doutora em Linguística pela Universidade Federal de Santa Catarina e que investiga a marcação gramatical de gênero no Português Brasileiro.
Ana começou a conversa apontando que a linguagem neutra para gênero é uma demanda social de grupos que não se sentem representados por determinadas frações do idioma. “É uma demanda legítima porque a língua é por onde a gente se encontra e se expressa. Então, ter estratégias linguísticas que te representem como você é, especialmente grupos marginalizados, que sofrem preconceitos, é muito importante”, apontou.
Para ela, a falta de aceitação desse tipo de linguagem vem da maneira como somos ensinados a entender a língua, como se houvesse jeitos certos e errados de usá-la. Mas a principal barreira ainda é o preconceito: tanto linguístico, quanto o contra as comunidades que demandam essa mudança.
Durante o Big Brother Brasil 22, por exemplo, vimos um exemplo da recusa de usar o pronome para se referir a Linn da Quebrada. A cantora, que é travesti, tem o pronome ELA tatuado acima da sobrancelha, para lembrar a todos que deve ser tratada no feminino, mas mesmo assim a tratavam com o pronome errado.
Um outro argumento para não usar a linguagem neutra para gênero é que ela pode deixar a comunicação mais difícil, complexa, excluindo mais pessoas. “Seria mais difícil para nós adultos do que para as crianças. Porque as crianças têm todos os seus parâmetros abertos. Quando uma criança é exposta a uma maneira de falar, ela vai receber aquilo com muito menos resistência do que a gente. Porque ela ainda está adquirindo a língua”, argumentou Ana.
O Conversa de Portão é um podcast produzido pelo Nós, Mulheres da Periferia em parceria com UOL Plural, um projeto colaborativo do UOL com coletivos e veículos independentes. Novos episódios são publicados toda terça-feira.