Foto mostra Lunar e Larissa na Parada do Orgulho LGBT+ 2022

Vote com orgulho: na Parada 2022, LGBTQIA+ mostram que tudo é político

Neste ano de eleição, o tema da Parada foi “Vote com Orgulho – por uma política que representa”, reafirmando que, mais do que cores, glitter e diversão, este é um movimento político e de resistência

Por Amanda Stabile

22|06|2022

Alterado em 22|06|2022

A jornalista Larissa Darc nasceu 18 dias antes das ruas de São Paulo receberam, pela primeira vez, a Parada do Orgulho LGBT+, em junho de 1997. Naquela época, a celebração era chamada de Parada do Orgulho Gay, nome que passou por diversas alterações ao longo dos anos para garantir visibilidade também às outras identidades de gênero e orientações sexuais. 

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Larissa Darc durante a 26ª edição da Parada do Orgulho LGBT+.

©Arquivo pessoal

“Eu nasci junto com a maior parada LGBT+ do mundo. Então eu não conheço um mundo antes da gente poder sair nas ruas e declarar orgulho de amar como a gente ama e de viver da forma como a gente vive”, celebra a moradora da Zona Leste de São Paulo que é, também, autora do livro Vem cá: vamos conversar sobre a saúde sexual de lésbicas e bissexuais.

No último domingo (20), junto de mais de três milhões de pessoas, Larissa venceu o frio para celebrar, após dois anos de edições online devido à pandemia, a 26ª edição da manifestação. Neste ano de eleição, o tema da Parada foi “Vote com Orgulho – por uma política que representa”, reafirmando que, mais do que cores, glitter e diversão, este é um movimento político e de resistência. 

“Quando a gente cresce sendo pessoas LGBTs, aprendemos a ter vergonha. E a parada é esse momento de reafirmação, de orgulho e tem muito simbolismo político. Não é só sobre amor, é sobre emprego, sobre família, sobre todas as questões que atravessas as nossas vidas”, aponta a jornalista, que se entende bissexual desde os 16 anos.

Larissa participou da Parada pela primeira vez em 2014 e conta que, antigamente, precisava fazer um certo “malabarismo” em casa para frequentar o evento. Ao longo dos anos isso mudou, assim como sua motivação para participar da manifestação e a forma como já sai vestida de casa.

“Antigamente eu me escondia e agora eu já saí com a bandeira. Também ouvi os parentes héteros e as crianças dizendo que queriam ir e saber como é. De pouquinho em pouquinho a gente está ocupando mais espaço e fazendo nossas vozes serem ouvidas”, comemora.

Orgulho e ação

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Lunar vestida com a bandeira trans durante a celebração.

©Arquivo pessoal

Para Lunar Lucas, que é artista e ativista, o movimento LGBTQIA+ tem a característica natural celebrar e, por meio disso, conseguir ocupar a rua e fazer uma pressão social para que haja direitos, mudanças e novos olhares sociais. Apesar disso, acredita que dentro da sigla também há algumas identidades marginalizadas, como os corpos queers e transgêneros, como o seu, que só saem à luz do luar.

Por isso, aponta que a Parada representa possibilidades de celebração e de conforto, já que nesta data e espaço, as pessoas recebem menos olhares tóxicos, problemáticos e tendenciosos. “Acaba sendo um dia um pouco mais confortável para estar na rua e viver em sociedade”, confessa.

Para ela, o tema deste ano foi muito mais político, abrangente e instigante do que os de edições anteriores e isso se deve ao local e tempo histórico em que estamos. Mas conta que sentiu que uma questão que poderia ter sido mais trabalhada durante a celebração era, além dos presidenciáveis, que deputados e senadores precisamos eleger.

“Porque são eles que realmente transformam, fazem leis, propõem e retiram emendas da Constituição. Mas se não há interesse das pessoas que estão no domingo, é difícil isso ser fomentado e trabalhado”, aponta Lunar, que também é associada à  APOLGBT-SP (Associação da Parada do Orgulho LGBT de São Paulo), organização que promove o evento.

Por isso, enfatiza que as pessoas do movimento também precisam ter atenção,  senso crítico e estar nos espaços para questionar e promover novos olhares. Assim podem ajudar a transformar a sociedade e a Parada do Orgulho LGBT+, de forma que sejam realmente inclusivas, diversas e representativas. “É preciso que a sociedade que compõe o movimento LGBTQIAP+ seja mais preocupada com a causa, com a luta. Nos últimos anos eu acho que a Parada tem tentado promover isso”, conclui.

Primeira Parada: orgulho

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Ingrid Sora, que participou da Parada do Orgulho LGBT+ pela primeira vez este ano.

©Arquivo pessoal

Ingrid Sora sempre teve um questionamento pessoal sobre como se encaixava dentro da questão LGBTQIA+. Pouco antes da pandemia, se entendeu como bissexual e, durante, como demissexual. Neste domingo, a advogada e pesquisadora participou de sua primeira Parada do Orgulho LGBT+.

“Eu não ia porque eu estava morrendo de medo, principalmente por conta da aglomeração. Mas eu pensei ‘eu preciso ir, é a primeira manifestação dessa proporção que eu tenho a oportunidade de ir e eu quero sentir o que é estar junto de outras pessoas que vivem experiências semelhantes às minhas’”, conta. 

Ela então foi com seu namorado, que também é bissexual e demissexual, mesmo em meio a alguns questionamentos como que roupa usar, já que nunca tinha estado naquele espaço e queria ser lida como integrante daquela comunidade. “Eu fui com um bonezinho de apoio ao MST [Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra] porque eu sei que é uma manifestação que permite vários tipos de expressão diferentes. E assim que eu saí do metrô eu encontrei um pessoal que pediu para eu tirar uma foto ao lado de um pessoal que estava fantasiado de urna”, lembra rindo.

Para Ingrid, o sentimento que ficou foi o alívio: por ver a comunidade toda se manifestando junta mesmo durante esse governo conservador. “Outra questão foi poder falar abertamente sobre política. As pessoas estavam se manifestando contra o Bolsonaro abertamente. Então foi um espaço que eu não me senti acuada para falar o que eu penso e ser quem eu sou. Foi incrível”.