alagamento no RS

Voluntária relata rotina de mobilização no RS: ‘Estamos esgotados’

Malu Rosa se juntou a amiga Caroline Moreira para reunir doações e voluntários em meio às inundações do Rio Grande do Sul

Por Beatriz de Oliveira

22|05|2024

Alterado em 22|05|2024

O relato a seguir foi escrito a partir de entrevista realizada com a sulista Malu Rosa. A massoterapeuta e educadora física vivia há 7 anos no Rio de Janeiro (RJ), quando precisou retornar a sua cidade de origem, Porto Alegre (RS), por alguns meses. Assim como ocorreu com milhares de brasileiros, os planos de Malu foram atravessados por uma série de inundações no Rio Grande do Sul. Como não foi diretamente afetada, a massoterapeuta resolveu ajudar como podia. Em meio a isso, reencontrou uma amiga de infância e, juntas, passaram a administrar doações e voluntários através da organização Negras Plurais.

Nos primeiros dias de inundação eu queria me voluntariar de alguma forma, então fui para abrigos e locais de coleta de doações. Nas redes sociais, vi que minha amiga de infância, Caroline Moreira, estava arrecadando doações com a sua organização Negras Plurais. Entrei em contato com ela, mas nos desencontramos. Um dia ela disse: ‘vem aqui em casa’. A partir desse dia, a gente não se desgrudou até hoje. A Carol é ativa, fala bastante, e o pessoal costuma dizer ‘ninguém segura Carol, só a Malu’. Somos uma bela dupla.

No início, eu, Carol e mais um amigo nos reunimos para comprar itens e entregar para abrigos do extremo sul de Porto Alegre. Logo, vimos que poderíamos ajudar mais usando a credibilidade do instituto Negras Plurais, o que nos permitiu fazer parcerias. Hoje estamos atendendo mais de 6500 pessoas por dia. Há um abrigo, por exemplo, um dos primeiros destinados a mulheres e crianças, em que fornecíamos almoço e jantar todos os dias, até que eles conseguiram ativar a própria cozinha. Também ajudamos quilombos da região. Direcionamos doações para o Quilombo Kédi, que distribui para outros quilombos.

Criamos um cadastro para inscrição de voluntários que queiram ajudar e outro para pessoas que precisam receber doações, inclusive para famílias que estão abrigando outras famílias. São cerca de 50 voluntários ao total, a maioria mulheres.

Eu, Carol e mais três pessoas nos organizamos em diferentes pontos da cidade e somos responsáveis por receber as doações, orientar os voluntários e as pessoas que vão receber os donativos. O contato no celular não para, eu dou Graças a Deus, são muitos contatos oferecendo doações. A rotina é essa, vamos dormir mais de 1h da manhã.

Peço que continuem doando, porque infelizmente a situação não acabou. Não há nada sob controle. Pelo contrário, a dor aumentou por causa do inverno. Estamos numa tentativa de reconstrução das cidades, do estado e das famílias. Nós, voluntários, estamos esgotados porque o sofrimento é gigantesco, mas as pessoas atingidas estão muito mais.

mulher negra de cabelos longos

Malu Rosa é voluntária no RS

©arquivo pessoal

Formas de doar para o Negras Plurais

Doações via pix para a chave negrasplurais@gmail.com

Pontos de coleta de doações:
– Biblioteca Hans Christian Andersen, na Avenida Celso Garcia nº 4142 – Tatuapé (SP);
– Conselho Regional de Contabilidade do RS, na Rua Senador Tarso Dutra, 170 – Petrópolis (RS).

O perfil Negras Plurais publica outros pontos de coleta e prioridades de itens a serem doados.