Vivências de mulheres baianas inspiram espetáculo Sertão Sem Fim

Sertão Sem Fim faz o cruzamento da história de três mulheres da comunidade de Três Outeiros de Macaúbas na Bahia e está em cartaz entre os dias 05 a 22 de fevereiro no Teatro Sergio Cardoso, região central da cidade de São Paulo.

Por Redação

16|02|2021

Alterado em 16|02|2021

Em 2018, a atriz Tertulina Alves retornou à Macaúbas, município localizado no interior da Bahia onde passou parte de sua infância, para dialogar com mulheres que vivem na região e experimentam de diferentes formas as condições do sertão nordestino.
Os relatos foram unidos à história da própria Tertulina e se transformaram na peça “Sertão Sem Fim”, que está em cartaz até o dia 22 de fevereiro, sexta-feira, 19h, no Teatro Sérgio Cardoso, Bela Vista, em São Paulo. A dramaturgia é de Rudinei Borges dos Santos e a direção é de Donizeti Mazonas.

Sertão sem fim e o corpo da mulher

Sertão Sem Fim faz o cruzamento da história de três mulheres da comunidade de Três Outeiros de Macaúbas na Bahia: Maria Tertulina, sua neta Tertulina Alves e Maria Izabel, conhecida na região como a rainha das cavalgadas. Desse cruzamento nasce a narrativa mito-poética sobre Sebastiana (Bastia). Bastia foi encontrada recém-nascida num curral, no povoado do Arraial de Via Crucis, onde passou a infância. Conheceu as agruras da seca. Aprendeu a lidar com a terra para garantir o sustento, a própria dignidade e independência. Frequentadora das cavalgadas desde menina, Bastia é a amazona mais conhecida da região. Conhece Dom Sálvio nas cavalgadas, casa-se com ele e tem sete filhos. Trabalhavam duramente para cultivar a terra em longos períodos de estiagem. A prosperidade do casal torna-se motivo de inveja e Dom Sálvio é covardemente assassinado por fazendeiros da região. Montada em seu cavalo, Bastia percorre a cercania com o corpo morto do marido, em busca de justiça.
A montagem se afasta do regionalismo e aproxima questões do sertão nordestino ao corpo de uma mulher que luta diariamente por sua dignidade enquanto enfrenta inúmeras injustiças e dificuldades.
 

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O corpo tem um lugar fundamental no processo de criação de Sertão Sem Fim. Donizeti Mazonas, artista com ampla experiência em dança e teatro, foi convidado para assumir a direção da peça e sugeriu, desde o início, propostas que não caíssem em regionalismos ou visões estereotipadas sobre o Nordeste e o sertão.
“Nossa questão foi olhar para o universo dessa mulher, nas suas questões que incluíam a falta de chuva, as desigualdades, a dificuldade de construir seu espaço no mundo e as injustiças”, diz Donizeti, complementando que a peça traz o sertão pra dentro da personagem, como se ele fosse também seu corpo. “O texto vem de um espectro de narrativa muito poética, o que ajudou a pensarmos na Bastia como o próprio sertão, sendo ela uma tradução da chuva, da aridez e da natureza”.
A peça teve o espaço cênico pensado pelo artista plástico Eliseu Weide e, com poucos objetos a vista, tem a síntese como premissa. “Os elementos são bastante sintéticos para se dar a vastidão e a multiplicidade do que pode ser o sertão”, explica Donizeti Mazonas.
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