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Violência nas escolas: é possível pensar em soluções reais de combate?

Educadora avalia se as medidas adotadas pelo Governo do Estado de São Paulo (SP) no combate aos ataques nas escolas são adequadas para eliminar o problema.

Por Mariana Oliveira

09|11|2023

Alterado em 09|11|2023

O levantamento “Ataques de violência extrema em escolas no Brasil: causas e caminhos” coordenado pela pesquisadora Telma Vinha, da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), identificou-se 35 casos de ataques nas escolas no Brasil entre 2001 e 2023. O 36º episódio ocorreu em 23 de outubro de 2023, na Escola Estadual Sapopemba, na zona leste de São Paulo (SP). Na ocasião, uma adolescnete de 17 anos foi morta com um tiro na cabeça  e outros três ficaram feridos.

Após o ataque na Escola Estadual Thomazia Montoro, localizada na zona oeste de São Paulo, em março, e episódios anteriores que marcaram o primeiro semestre de 2023, o Governo do Estado e a Secretaria da Educação do Estado de São Paulo (Seduc-SP), lançaram uma série de ações para frear novos casos.

Medidas apresentadas em São Paulo

1

Programa de Melhoria da Convivência e Proteção Escolar (CONVIVA):
Lançado em 2019, o CONVIVA tem como objetivo principal “contribuir para o estabelecimento de um clima escolar positivo”. Ele prepara Professores Orientadores de Convivência (POCs) para colaborarem na mediação de conflitos e conta com 550 psicólogos realizando atendimentos periódicos nas escolas estaduais de São Paulo.

2

Botão do Pânico: A Polícia Militar (PM) disponibilizou o Botão do Pânico em abril. O aplicativo conecta as escolas estaduais e o Centro de Operações Policiais Militares (Copom), da PM.

3

Seguranças privados: Segundo comunicado da Seduc-SP, foram contratados mil vigilantes desarmados para trabalhar nas unidades escolares da capital, litoral e interior do estado. Conforme informado pela Seduc-SP, atualmente existem 774 seguranças em atividade, e a licitação para a contratação dos 226 restantes está em andamento.

As medidas apresentadas são eficazes ?

Catarina de Almeida dos Santos, professora da faculdade de educação da Universidade de Brasília (UnB), questiona a eficácia das medidas adotadas pelo  Estado. “A violência é uma mercadoria rentável para o sistema, que geram supostas soluções para uma consequência que produz mais violência. Se eu não combato o problema, as consequências vão continuar”, explica.

Foi criado um botão anti-ataque, mas o que fazemos para evitar que o ataque aconteça? Nada. Só teremos uma sociedade mais segura quando alguém deixar de cometer a violência pelo respeito ao próximo, não porque está sendo vigiado.

A educadora considera que a maior problemática dessas medidas está em acreditar que trabalhá-las de modo isolado é o suficiente para conter a violência. “Ao olhar para o que fomenta esse ataque, os jovens têm um caráter misógino, capacitista, racista, de ódio as diferenças. A escola é exatamente o espaço em que essas diferenças se encontram. Está sendo desenhado um currículo que ensina nossos estudantes a responder questões de português e matemática, mas não sabem medir a capacidade de pensar outras alternativas para a sociedade”.

Catarina alerta que seria “injusto” elencar soluções únicas, é importante pensar nessa construção a partir do coletivo. Para ela, a escola deve ser parte do problema e da solução. “Não vamos sair dessa situação sem a escola, mas não vamos resolver apenas com a escola. A escola precisa de infraestrutura, profissionais preparados e não olhar para a violência a partir de um sujeito específico”, defende.

Além disso, Catarina observa que questões relacionadas ao material didático e pedagógico também desempenham um papel na qualidade da educação. A decisão de não utilizar mais o material fornecido pelo Programa Nacional de Livros Didáticos (PNLD) a partir de 2024, devido a erros no conteúdo, é vista por ela como parte de um movimento que ameaça a escola pública e o direito à educação de qualidade.

Em um contexto de desafios crescentes, Catarina destaca a importância de uma abordagem coletiva e do engajamento da comunidade acadêmica e da sociedade em geral na busca por uma escola digna e segura, apontando que essa luta é contínua e complexa, mas crucial para construir um mundo mais justo e inclusivo.

Portanto, a questão da violência nas escolas não pode ser resolvida unicamente com medidas de segurança, mas exige uma abordagem mais ampla e uma transformação da cultura educacional e social.