Violência doméstica

SP: Negras são as que mais conhecem casos de violência doméstica

Pesquisa “Viver em São Paulo” da Rede Nossa São Paulo traz dados sobre assédio, violência doméstica e divisão de tarefas.

Por Beatriz de Oliveira

04|03|2022

Alterado em 04|03|2022

Uma em cada três pessoas que vivem na cidade de São Paulo, tem uma amiga ou conhecida que já sofreu violência doméstica. No segundo ano de pandemia, menos paulistanos acham que o trabalho doméstico é dividido de forma igual entre homens e mulheres. 

Os dados são da pesquisa “Viver em São Paulo: Mulher 2022”, feita pela Rede Nossa São Paulo em parceria com o IPEC – Inteligência em Pesquisa e Consultoria. Foram realizadas 800 entrevistas entre abril e dezembro de 2021 trazendo questões como assédio, violência doméstica e divisão de tarefas.

O transporte público é apontado como lugar de maior risco para sofrer assédio pelo quarto ano consecutivo. O segundo lugar mais mencionado é a rua. 

“É chocante quando a gente olha que as mulheres estão se sentindo mais vulneráveis em um espaço público, diante dos olhos da sociedade. Isso diz muito sobre a sociedade que nós estamos vivendo”, afirmou a vereadora Erika Hilton (PSOL) durante o evento de divulgação da pesquisa

O estudo mostra ainda que 85% da população da capital acredita que houve aumento da violência doméstica e familiar contra as mulheres no último ano. 

A cofundadora do Nós, mulheres da periferia, Jéssica Moreira, mediou o debate que ocorreu no evento de apresentação da pesquisa. Para a jornalista, o levantamento permite ver “como as mulheres se sentem inseguras em diversos espaços, inclusive dentro de casa”. A jornalista chamou a atenção para atuação intersetorial no combate à violência, que envolve os serviços sociais, psicológicos, escolas, unidades de saúde. “Toda a cidade tem que pensar a violência doméstica”. 

As negras são as que mais dizem ter presenciado ou ouvido falar de casos de violência contra mulher, seja próximo de onde moram ou do trabalho, seja casos de amigas, conhecidas e parentes. Há também o recorte de classe: relatos de entrevistados com parentes próximas que sofrem violência é maior entre aqueles com renda mais baixa. 

“A violência tem gênero, tem classe social e tem cor”, diz Simone Luciano da Mais Diversidade, consultoria que promove diversidade em empresas. Ela acredita que o primeiro passo para alcançar a equidade de gênero é falar sobre o assunto nos mais variados espaços e durante o ano todo, não apenas no mês de março, quando se comemora o Dia da Mulher. 

Tanto homens quanto mulheres apontaram o aumento das penas como prioridade para combater a violência contra mulher. Seguido pela ampliação de serviços de proteção a mulheres que passam por essa situação. 

Para Erika Hilton as punições mais severas não resolvem o problema. “Será que aquele homem, branco, empresário, de um bairro nobre, que bate na mulher, que bate nas filhas e humilha a empregada, vai ser vítima de punições mais severas? Ou só vai ser aquele moço que vende o salgadinho, aquele pedreiro, aquele moço da quebrada? As prisões brasileiras estão entupidas de pessoas negras”. 

Ela acrescenta que é necessária uma transformação social, cultural e educacional, além de uma participação efetiva da sociedade nesse debate. 

Simone Luciano destaca que apesar da maioria em números, as mulheres não estão representadas de forma proporcional nos espaços de poder. Para ela, a cidade ideal é uma que acolha grupos vulnerabilizados. 

Erika Hilton concorda: “as cidades não foram e ainda não são pensadas para esta população [vulnerabilizada]”. 

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