Sesc Campo Limpo realiza Semana da Liberdade Negra

A ação traz uma série de atividades que reforçam a luta dos negros e o resgate à ancestralidade  

Por Lívia Lima

07|05|2018

Alterado em 07|05|2018

 
Durante essa semana o Sesc Campo Limpo, na zona sul de São Paulo, realiza diversas atividades culturais com a temática da Liberdade Negra, relembrando os 130 anos da abolição da escravatura, celebrada no dia 13 de maio. A iniciativa foi concebida a partir de uma ação que relembra a busca pela liberdade dos povos escravizados e a importância do resgate e celebração da ancestralidade negra.
Para além de uma data que oficializa a abolição da escravidão, a “Semana da Liberdade Negra” põe de lado o significado dos livros de história que remete a abolição pelas mãos da Princesa Isabel, para celebrar e enaltecer o real significado do que foi a luta pelo fim da escravatura, o fim de um pensamento escravista e com a intenção de resgatar a ancestralidade negra e seus significados.
A concepção da mostra nasce a partir de uma ação conjunta da programação de outros Sescs, como o Sesc Santo Amaro e Sesc 24 de Maio.  O Sesc Campo Limpo preparou, para compor a semana, diversas ações inspiradas na temática do auto.
A programação conta com o coletivo Manifesto Crespo, no dia 9 de maio, quinta, às 14h30. Formado por mulheres negras, dialoga sobre corpo negro, estética e identidade a partir de propostas como “Tecendo e Trançando Arte”, onde o público é convidado a refletir sobre sua relação com o cabelo e praticar técnicas de tranças e turbantes.
O dia conta também com a exibição de “O Grande Kilapy”, às 19h30. Dirigido por Zezé Gamboa, o filme conta a história de Joãozinho, interpretado por Lázaro Ramos, um bon vivant que quer apenas viver a vida e se divertir com os amigos. Ele desvia os fundos do Banco Nacional Angolano e distribui o dinheiro aos seus colegas, militantes pela libertação de Angola e acaba se tornando um herói local.
O filme é uma co-produção entre três países lusófonos: Brasil, Portugal e Angola, selecionado em festivais como os festivais de Toronto, Londres, Dubai, Gotemburgo e o FESPACO. A classificação indicativa é a partir de 14 anos, com retirada de ingresso com uma hora de antecedência.
A oficina “Estampando Saberes – Adinkras” ocorre dia 11 de maio, sexta, às 14h30. Também com o coletivo Manifesto Crespo, nesta oficina, nos debruçamos sobre os adinkras, um conjunto de símbolos que formam um sistema de transmissão de valores, acumulados pelo povo akan, presentes na África do Oeste. Além de estampar superfícies diversas (tecidos, painéis, objetos, entre outros), a oficina tem como objetivo mostrar brincando, como as matrizes podem ser feitas em qualquer material que possa ser riscado e que a cultura africana é repleta de significados e poesia.
No dia 12 de maio, sábado, às 20h, o Sarau das Pretas, protagonizado por mulheres negras atuantes no cenário cultural periférico da cidade de São Paulo, é convidado a conduzir o Sarau Liberdade Negra. O espetáculo acontece por meio da palavra falada, cantada ou declamada, dos tambores e de seus corpos em constante movimento. Em cena, Débora Garcia, Elizandra Souza, Jô Freitas, Taissol Ziggy e Thata Alves, propõe reflexões sobre o feminino, feminismo, cultura e ancestralidade. Este evento conta com interpretação em Libras.
O espetáculo infantil “Mjiba – A Boneca Guerreira”, acontece nos dias 12 e 13 de maio, às 15h e conta a história de dois palhaços carteiros que ao se depararem com uma encomenda sem remetente, encontram algo totalmente inesperado na caixa. A partir dessa descoberta, apresentam e discutem de maneira lúdica os problemas enfrentados pelas mulheres negras na sociedade.
O Espetáculo foi criado em homenagem às lutas das mulheres negras pela Cia Trupe Liuds, com atuação desde 2006. O intuito de difundir a arte circense na periferia da cidade de São Paulo. A Cia é composta por palhaços negros, que através da linguagem lúdica e recriam a realidade cotidiana e desperta o imaginário das pessoas.
O encerramento no dia 13 de maio, domingo, às 16h, fica por conta do auto dramático popular “Nego Fugido”. Encenado ao longo de todos os domingos de julho pelas ruas do distrito de Acupe, pertencente a Santo Amaro da Purificação, no Recôncavo Baiano, este auto encena e reinterpreta a luta de escravizados fugidos contra capitães do mato e senhores de engenho, trazendo uma nova perspectiva e olhar histórico para o período da escravidão na região.

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Nego Fugido é tradição da cultura popular da Bahia

©UFBA


A encenação é conduzida pelos toques dos tambores através de cânticos que misturam iorubá e português, os quais, juntos à dança e aos diálogos, conduzem seus participantes à uma espécie de transe. Outra marca característica marcante do “Nego Fugido” são os figurinos feitos com folhas de bananeiras e, especialmente, o negrume que é passado nos rostos, no qual é complementado por uma beberagem vermelha nos lábios.