Reflexões de uma ativista antirracista na Semana do Clima em Nova York

Amanda Costa narra sua experiência enquanto mulher negra e periférica na Semana do Clima

19|09|2023

- Alterado em 19|09|2023

Por Redação

Fala minha lindeza climática, belê?

O mundo do clima está uma loucura.

Essa semana está rolando a Climate Week (Semana do Clima) em Nova York e os principais atores da pauta vieram para a cidade com o objetivo de dialogar sobre políticas climáticas, fazer networking e buscar investimento para as suas organizações.

E eu, sua lindeza climática, também estou aqui <3

Recebi um convite da Columbia University para participar do Brazil Climate Summit e contribuir com o painel COP 30: Leading Discussions for 2025 in Brazil (COP 30: Liderando Discussões para 2025 no Brasil).

Ao receber esse convite, uma mistura de sentimentos invadiu meu coração:

Como internacionalista, fiquei contente por poder contribuir globalmente

Como criadora de conteúdo, percebi que esta é uma oportunidade incrível para compartilhar vivências e experiências

Como ativista climática antirracista, questionei qual mensagem levaria para esse painel

Ao ver a programação, respirei fundo e senti frustração: não é fácil ser a única mulher negra em um ambiente dominado por homens brancos. Mas, ao mesmo tempo, fiquei esperançosa por perceber que estão reconhecendo a importância da diversidade de gênero, raça e classe nos diálogos sobre o clima.

três homens brancos e uma mulher negra em painel da Semana do Clima

Amanda Costa participou da Semana do Clima

©Divulgação/Agência Pará

Se quisermos abordar eficazmente a crise climática e construir um futuro sustentável para o Brasil, precisamos envolver representantes da diversidade de nosso país!

Essa viagem me fez refletir: quais espaços ocupamos como mulheres da periferia neste país?

Eu tinha acabado de completar 23 anos e estava mergulhando em questionamentos profundos sobre minha negritude, aprendendo a compreender meu corpo como uma mulher negra da periferia. Foi nesse momento que comecei a trazer essas preocupações para a luta climática e a me aprofundar no tema do racismo ambiental. Decidi então construir uma narrativa ambientalista intrinsecamente antirracista.

Hoje, quatro anos depois, percebo que tenho mais perguntas do que respostas no meu coração. Ainda mantenho o olhar esperançoso de uma internacionalista que deseja explorar o mundo, mas agora esse olhar é acompanhado pela indignação de uma ativista climática que se pergunta:

Por que as pessoas do sul global precisam se deslocar para o norte global para serem reconhecidas e relevantes?

Por que apenas algumas pessoas negras têm a oportunidade de ocupar posições de destaque, criando uma lógica de competição entre nós?

Como podemos utilizar espaços de diálogo para quebrar a lógica da meritocracia e falar o que realmente precisa ser dito, sem fechar as portas?

Sinceramente? Não tenho todas as respostas.

Apesar de carregar mais incertezas do que certezas, estou aprendendo a encontrar paz neste lugar. Minha luta por políticas climáticas antirracistas me motiva a continuar.

E sempre que me sinto triste, cansada e frustrada, lembro das palavras do poeta Emicida:

“Quem costuma vir de onde eu sou, às vezes não tem motivo para seguir. Então levanta e anda, levanta e anda. Vai, levanta e anda. Mas eu sei que vai, que o sonho te traz coisas que faz prosseguir. Então levanta e anda. Vai, Levante e Anda.”

Larissa Larc é jornalista e autora dos livros "Tálamo" e "Vem Cá: Vamos Conversar Sobre a Saúde Sexual de Lésbicas e Bissexuais". Colaborou com reportagens para Yahoo, Nova Escola, Agência Mural de Jornalismo das Periferias e Ponte Jornalismo.

Os artigos publicados pelas colunistas são de responsabilidade exclusiva das autoras e não representam necessariamente as ideias ou opiniões do Nós, mulheres da periferia.