Quem vive às margens da Represa Billings?
Prestes a completar 100 anos, a história da Represa Billings foi marcada pela ocupação de famílias de baixa renda em suas margens
Por Beatriz de Oliveira
09|10|2024
Alterado em 11|10|2024
Em 2025, a Represa Billings completará 100 anos. Assim como o reservatório, os problemas enfrentados pelos moradores que vivem às suas margens também são antigos. Entre eles, a convivência com o mau cheiro e a falta de saneamento básico.
Abrangendo os municípios de São Paulo, Santo André, São Bernardo, Diadema, Mauá, Ribeirão Pires e Rio Grande da Serra, a Represa Billings foi criada em março de 1925, quando a companhia canadense The São Paulo Tramway Light and Power Company, obteve do governo federal o direito de retificar o Rio Tietê e seus afluentes para a criação de uma nova barragem para geração de energia em usina hidrelétrica.
A Represa Billings foi criada em março de 1925
©reprodução internet
Atualmente, o reservário fornece água para abastecimento público dos municípios do Grande ABC e parte de São Paulo, além de transferir água para a represa Guarapiranga e para o sistema do Alto Tietê.
Recentemente, no início do mês de setembro, apareceram centenas de peixes mortos na represa, na região do Parque Municipal Estoril, em São Bernardo do Campo, município da Grande São Paulo.
Eventos semelhantes aconteceram em anos anteriores no Braço do Rio Grande, localizado em São Bernardo do Campo. É o que afirma Marta Marcondes, bióloga, pesquisadora, professora e coordenadora do Projeto IPH – Índice de Poluentes Hídricos, que monitora as águas de rios e reservatórios da Região do Grande ABC.
Marta Marcondes é coordenadora do Projeto IPH – Índice de Poluentes Hídricos
©arquivo pessoal
Segundo a bióloga, nas pesquisas realizadas pelo Projeto IPH foram observados poluentes químicos e esferas de polietileno de alta densidade (plástico rígido e resistente, amplamente utilizado na indústria).
“Cheiro insuportável”
Ao longo dos anos, desde a criação da Billings, famílias de baixa passaram a ocupar as margens da represa, devido aos altos preços encontrados nas regiões mais centrais. “A pessoa está morando numa área considerada como Área de Proteção Permanente, as APPs. E como não pode ter ninguém morando lá, também não pode-se levar processos de urbanização: água encanada, esgoto, etc. Mas, a pessoa foi impelida a ir morar naquele local, então você tem uma incompatibilidade da necessidade da pessoa ter uma moradia e da necessidade de proteção dos mananciais”, pontua Marta Marcondes.
A maior quantidade de ocupações às margens da represa ocorreu entre os anos de 1970 e 1980, mas não parou por aí. Segundo a Secretaria do Meio Ambiente, Infraestrutura e Logística (Semil), a população residente na bacia da Billings era de 534.421 pessoas no ano de 1991; já no ano 2000, evoluiu para 863 mil.
Conhecida como Lei Específica da Billings, a Lei n° 13.579 de 2009 determina áreas para proteção ambiental, buscando garantir a existência de vegetação que protege os rios e a represa da poluição. A Lei também estabelece algumas áreas que podem ser ocupadas mediante atendimento a critérios que garantam a proteção da represa.
Devido às pesquisas que realiza na Billings, Marta visita a população que mora às margens com frequência. Ela relata que a maioria das moradoras são mulheres negras e mães solo, que convivem com um “cheiro insuportável”. Soma-se a isso a ocorrência de doenças respiratórias e dermatológicas.
A convivência com o mau cheiro é antiga, como indica uma reportagem de 2013 do portal g1: “Os moradores que residem nas redondezas da represa Billings reclamam do mau cheiro vindo do local. Nesta época do ano, o sol e calor deixam o nível de água da represa mais baixo”.
Moradora da Vila Areião, em São Bernardo do Campo, Rosângela Marques conhece de perto os problemas vividos pelas pessoas que vivem à margem da represa. “Há falta de estrutura, saneamento básico, canalização de esgotos, a questão educacional de conscientizar para não jogar lixo na represa, a coleta de lixo é precária”, afirma a graduada em Direito, pós-graduada em Direitos e Segurança Pública, ativista da causa ambiental e conselheira Parque Estadual Águas da Billings.
Rosângela Marques mora na Vila Areião, em São Bernardo do Campo
©Sarará
Rosângela Marques destaca que a região é uma área de ocupação e que há esforços para a regularização por parte da população. Mesmo assim, são frequentes os episódios de pessoas expulsas de suas casas por desapropriação.
Outro problema é a própria qualidade da água, com alta concentração de cloro. “A água aqui tem um gosto e um cheiro diferente, em casa estamos comprando água de galão”, diz.
A ativista relata ainda que as conquistas conseguidas no bairro vieram a partir da mobilização popular, como a questão do asfaltamento, transporte público e escolas. “Tudo aqui no Areião sempre foi à base de muita luta”.
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