Lula, Simone Tebet, Marina Silva e Janja de mãos dadas

Quem serão as ministras de Lula?

Para a cientista política Tainah Pereira, os nomes cotados para ministras de Lula não são os mais adequados ao atual momento do país.

Por Beatriz de Oliveira

07|11|2022

Alterado em 07|11|2022

“É preciso ir além. Fortalecer as políticas de combate à violência contra as mulheres, e garantir que elas ganhem o mesmo salários que os homens no exercício da mesma função”, afirmou Lula (PT) sob aplausos em discurso feito após resultado do segundo turno das eleições presidenciais de 2022. Antes de iniciar a fala de mais de 20 minutos, Lula cumprimenta Simone Tebet (MDB) como alguém que somou forças à sua campanha após o primeiro turno, e aos três minutos de discurso comenta a chegada de Marina Silva (REDE), que o abraça.

Essas duas políticas estão entre as cotadas para assumir ministérios no governo Lula, conforme apontam matérias jornalísticas de diferentes veículos, que se inicia em 2023. Outro nome de mulher discutido para estar à frente de alguma pasta é Izabella Teixeira, bióloga e ex-ministra do meio ambiente. Na lista de pessoas negras estudadas para os cargos, além de Marina Silva, estão o advogado e filósofo Silvio Almeida, e o cantor Chico César.

Entre as novidades do terceiro governo Lula está a criação do Ministério dos Povos Originários, prometido pelo pernambucano. Também há o comprometimento com a recriação do Ministério de Igualdade Racial.

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Tainah Pereira é coordenadora política do movimento Mulheres Negras Decidem.

©arquivo pessoal

Para a internacionalista e mestre em Ciência Política Tainah Pereira, o perfil das mulheres cotadas para fazer parte da Esplanada dos Ministérios não é o mais adequado ao atual momento do país. “A demanda é por um avanço célere no aprofundamento da democracia, com a construção compartilhada de um novo projeto de Brasil. Pensando assim, nomes como Vilma Reis, Joenia Wapichana, Erica Malunguinho parecem mais condizentes por se tratarem de mulheres não-brancas que têm forte ligação com movimentos sociais, e experiências de gestão inclusiva”, afirma a também coordenadora política do movimento Mulheres Negras Decidem.

A cientista política explica que parte da vitória de Lula nas urnas se deve a mobilização de lideranças do movimento negro e que “o sucesso do novo governo está condicionado à inclusão dessas lideranças nos processos de decisão”. Nesse sentido, as negociações para cargos de segundo e terceiro escalão envolvem abertura para pessoas negras e indígenas.“Nomes como os de Douglas Belchior, Cida Bento e Silvio Almeida circulam como possíveis nomeados a partir de 2023”, aponta.

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Monica Oliveira é integrante da Rede de Mulheres Negras de Pernambuco.

©arquivo pessoal

Para a assessora parlamentar e integrante da Rede de Mulheres Negras de Pernambuco Monica Oliveira, não se trata de incluir homens e mulheres negras apenas pela representatividade. “Nós temos corpo técnico preparado para atuar no governo federal, e está mais do que comprovado que para a política pública avançar é preciso que você tenha sujeitos protagônicos das lutas envolvidos diretamente no processo. Então, para avançar no combate ao racismo no Brasil é sim necessário ter pessoas que estão vinculadas ao movimento negro atuando dentro do governo”, explica.

A ativista salienta ainda que “nós, do movimento de mulheres negras, estamos com a expectativa de que o presidente Lula cumpra com as promessas de que a composição de seu governo vai avançar na representação de mulheres, especialmente de mulheres negras”.

Entre as propostas mencionadas no plano de governo Lula para os próximos quatro anos estão o desenvolvimento de políticas públicas de combate à violência contra mulher e a igualdade salarial entre homens e mulheres que exercem a mesma função. Num dos itens do documento de 21 páginas se lê: “devemos enfrentar a realidade que faz a pobreza ter o ‘rosto das mulheres’, principalmente ‘das negras’, lhes assegurando a autonomia”.

O plano também aborda a questão racial, indicando a promoção de políticas públicas de igualdade racial e de combate ao racismo estrutural, destacando que essas lutas são feitas em conjunto ao enfrentamento à pobreza, fome e desigualdades.

Diante desses objetivos da gestão petista, se faz necessária a presença de homens e mulheres negras que estudam e vivenciam o que se pretende resolver no país. De acordo com Monica Oliveira, “não é possível construir saídas para esse país sem a população negra”.