Primeira infância: pesquisa revela como pais e mães cuidam dos filhos

A pesquisa Primeiríssima Infância – Interações: Comportamentos de pais e cuidadores de crianças de 0 a 3 anos mapeou como agem os adultos que convivem e são responsáveis direta ou indiretamente pelo bem-estar e cuidados de crianças na primeira infância.

Por Redação

16|12|2020

Alterado em 16|12|2020

Possibilidade e potencialidade. Vulnerabilidade e atenção. Para sobreviver e crescer, a criança na primeira infância precisa de um adulto que o apoie, alguém que o segure literalmente nos braços e o alimente. Para se desenvolver plenamente, necessita de interações e estímulos – e, neste caso, o adulto assume papel constitutivo no vínculo que estabelece com o bebê.

A Fundação Maria Cecilia Souto Vidigal lança o estudo “Primeiríssima Infância – Interações: Comportamentos de pais e cuidadores de crianças de 0 a 3 anos”. Inédita, a pesquisa mapeou como agiam, antes da pandemia, pais, mães, avôs, avós, tios, tias ou outros parentes que convivem e são responsáveis direta ou indiretamente pelo bem-estar e cuidados de crianças nos três anos iniciais de vida. No total, participaram 1 mil homens e mulheres de todo o Brasil, entre 16 e 65 anos, representando as classes A, B, C e D.

Sobre os cuidados das crianças e divisão de tarefas domésticas todos os dias, 76% dos pais afirmaram participar destes cuidados, indicando que já estavam inseridos na realidade imposta pela covid-19. Porém, entre as mães pesquisadas, isso foi tido como fato cotidiano em apenas 56% dos casos. A controvérsia entre eles e elas se repete quando aferida a frequência da participação dos pais no banho dos pequenos, ao alimentar a criança ou colocá-la para dormir. De acordo com as mães, 31% reportaram a participação constante dos pais. Para eles, esse índice sobe para 46%. Vale acrescentar que as mães declararam ler e brincar com as crianças com maior frequência do que os pais (32% x 27% na leitura diária e 77% X 70% nas brincadeiras).

O estudo aponta outras questões importantes, entre elas, que o trabalho afeta a interação com os filhos; cerca de 30% dos bebês de até 1 ano já estão expostos a TVs, smartphones e tablets pelo menos quatro vezes por semana, e a prática de conversar calmamente com a criança é citada por entre 24% e 44% dos respondentes como instrumento de disciplina.

Os resultados foram aprofundados por reflexões da consultoria Conhecimento Social, especializada em desenvolvimento infantil, e de um time de profissionais – entre eles, o médico pediatra, palestrante e escritor Daniel Becker, a psicóloga Juliana Prates, a economista Flávia Ávila, fundadora da consultoria InBehavior Lab, e Tânia Savaget, comunicadora e facilitadora de diálogos – com trajetória reconhecida nos campos de interesse da pesquisa: pediatria, psicologia, economia e comunicação.

Para Juliana Prates, os dados da pesquisa revelam uma leitura social importante sobre o fato de a sociedade brasileira reconhecer muito qualquer ação paterna e cobrar muito qualquer “falha” materna, revelando o peso à mulher e mãe. “É importante refletir sobre que tipo de participação do pai é essa nas atividades domésticas, que pode ser entendida como mera ajuda, e não como responsabilização”, avalia.

Como a primeira infância envolve ainda outros adultos, o estudo investigou também quem são as pessoas que costumam ajudar nos cuidados e no desenvolvimento da criança. A classe D é o estrato da sociedade que mais aciona os avós da criança, assim como amigos e outros familiares, porém é a que demonstrou maior fragilidade na rede de apoio do ponto de vista de diversidade de pessoas com quem contar.

“Nos contextos de vida da classe D (considerando a densidade populacional), pode-se pensar, a princípio, que há mais pessoas para ajudar, mas efetivamente elas são poucas, porque estão todas sobrecarregadas de trabalho e elas próprias já são responsáveis por outras crianças”, esclarece a psicóloga.

Já a classe A/B1 foi a que compareceu com a rede de apoio mais ampla, incluindo, em 10% dos casos, a presença da contribuição terceirizada de uma babá. “A gente pasma ao constatar que os que mais precisam de apoio são justamente os que menos tem”, avalia Daniel Becker.

Mariana Luz, CEO da Fundação Maria Cecilia Souto Vidigal, ressalta que as relações sociais, que se transformam em conexões especiais para a criança pequena, são vínculos que intervêm no processo de aprendizagem e no desenvolvimento integral dessa criança – físico, psicológico, intelectual e social – e, por isso mesmo, precisam ser positivos.

“Estudar e conhecer como são as interações e os comportamentos de pais e cuidadores é identificar os potenciais de desenvolvimento das crianças entre 0 e 3 anos”. Incentivadora de estudos como esse, a executiva adianta: “já estamos com o time de pesquisadores em ação para conferir como ficaram essas relações parentais durante a pandemia e os resultados deverão estar compilados ainda no primeiro semestre de 2021”.

Acesse aqui a pesquisa na íntegra.

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