“As políticas públicas chegaram na minha vida muito antes dos sonhos”

Para mim, as eleições representam a chance de possibilitar que meninas como eu sejam capazes de sonhar com um presente e um futuro melhor

11|10|2022

- Alterado em 18|10|2022

Por Amanda Stabile

Na minha infância, as Eleições pareciam algo muito simples e fácil de ser desvendado. Se resumia àquele dia em que meus pais saíam de casa bem cedinho e não deixavam minha irmã e eu acompanhá-los porque o caminho até a cidade era longo e as filas deixariam duas crianças extremamente impacientes.

Naquele momento, obviamente, sequer passava pela nossa cabeça que aquelas ocasiões eram extremamente importantes para definir, por exemplo, a possibilidade de eu estar hoje, aqui, escrevendo esse artigo como jornalista. Na verdade, a faculdade sequer era um sonho porque, além dos meus professores e dos outros trabalhadores de serviços essenciais públicos, eu não conhecia ninguém que tinha Ensino Superior.

Eu não fazia ideia do que eram políticas públicas, mas elas chegaram na minha vida muito antes dos meus sonhos. Minha família foi beneficiária de todos os auxílios possíveis para pessoas de baixa renda e eu não acho vergonhoso lembrar que recebemos Bolsa Família, participamos de ações que distribuíam cesta de alimentos e de diversos projetos sociais.

Hoje eu sei que essas políticas, em geral, são realizadas com o objetivo de resolver problemas estruturais, como a fome, a distribuição desigual de renda e a falta de acesso à educação. Elas têm a importante missão de moldar o país que queremos e, por isso, é essencial termos governantes que se importem em cuidar do povo e um Estado que garanta o bem comum a toda a população.

Mas também tenho consciência que eu só sei disso porque outra política pública garantiu o meu acesso à faculdade: o Programa Universidade Para Todos (ProUni). E, assim como eu, no primeiro semestre de 2019, mais de 2,6 milhões de estudantes brasileiros haviam sido atendidos por esse programa que concede bolsas de estudo integrais e parciais em cursos de graduação em instituições privadas de ensino superior.

Por isso, na hora de escolher nossos representantes políticos, mais importante do que saber se eles têm a mesma religião que nós ou os mesmos valores morais, é essencial entender se em seus planos de governo eles preveem ações para resolver as desigualdades sociais e os diversos problemas que assolam os brasileiros.

Ainda, é importante lembrar que os governantes que elegemos têm o poder de decidir para onde vai o dinheiro público, além de quem come, quem estuda, quem é atendido por serviços de saúde de qualidade, quem mora e onde mora, quem vive e quem morre, dentre outras coisas.

Se os interesses do Estado estiverem centrados apenas em garantir a liberdade das empresas e defender as propriedades privadas, quem cuida da população mais pobre, que não tem nada para chamar de seu e que têm de escolher entre o almoço ou o jantar para ser a única refeição do dia?

Tudo isso diz respeito a nós e a quem amamos, mas também é preciso pensar naqueles que sequer conhecemos na hora de depositar o nosso precioso voto nas urnas. Nos importarmos uns com os outros e com os mais vulneráveis pode ser a chave para garantir que, um dia, um Brasil realmente igualitário tome forma.

Por isso, hoje, para mim, as eleições representam a chance de possibilitar que meninas como eu, que tiveram poucos acessos durante a infância, sejam capazes de sonhar com um presente e um futuro melhor, além de quebrar ciclos de pobreza e de baixa escolaridade. Na hora de votar, lembre que seu voto também é decisivo para alimentar esperanças e moldar o país que queremos.

Larissa Larc é jornalista e autora dos livros "Tálamo" e "Vem Cá: Vamos Conversar Sobre a Saúde Sexual de Lésbicas e Bissexuais". Colaborou com reportagens para Yahoo, Nova Escola, Agência Mural de Jornalismo das Periferias e Ponte Jornalismo.

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