Peça discute machismo e capitalismo na Penha nos dias 21 e 22/5

“Cachorro? O melhor amigo do homem. Cadela? PUTA.Touro? Homem forte. Vaca? PUTA. Pistoleiro? Homem que mata muita gente. Pistoleira? PUTA. Homem aventureiro? Que gosta de viajar. Mulher aventureira? PUTA. PUTO? Homem com raiva, irritado. PUTA? PUTA!” O trecho acima, que mostra como o machismo aparece até mesmo nas expressões usadas no dia a dia, é […]

Por Jéssica Moreira

04|05|2016

Alterado em 04|05|2016

“Cachorro? O melhor amigo do homem. Cadela? PUTA.Touro? Homem forte. Vaca? PUTA. Pistoleiro? Homem que mata muita gente. Pistoleira? PUTA. Homem aventureiro? Que gosta de viajar. Mulher aventureira? PUTA. PUTO? Homem com raiva, irritado. PUTA? PUTA!”
O trecho acima, que mostra como o machismo aparece até mesmo nas expressões usadas no dia a dia, é apenas uma das diversas provocações que propõe a Kiwi Cia de Teatro com a peça CARNE. O espetáculo estará em cartaz no Teatro Martins Pena, localizado no Largo do Rosário, 20, na Penha, zona leste de São Paulo, nos dias 21 e 22/5 (sábado e domingo, às 20h e 19h, respectivamente). A entrada é gratuita! 
carne patriarcadoecapitalismo
A obra aponta como as relações entre patriarcado e capitalismo estão presentes em nossa sociedade, por meio de cenas que discutem o panorama da opressão de gênero e a situação específica da violência contra as mulheres no Brasil.  Inspirados peço modelo de teatro documentário, a peça é interpretada por duas atrizes e uma percussionista.
A montagem faz uma mistura de cenas “dramáticas” e “narrativas” com diversas referências a textos de análise que passam pela filosofia, história, sociologia, política e vão até estatísticas, artes populares e trechos de romances. O espetáculo também se utiliza da linguagem audiovisual, com projeção de imagens, composições originais, citações do cancioneiro tradicional e da MPB.
“Meu nome é Fernanda, mas poderia ser Maria da Penha
A Cia impressiona seu público do início ao fim do espetáculo. A sonoplastia também não deixa a desejar. Além de utilizar instrumentos convencionais, como flauta, percussão e berimbal, é composta também por panelas, colheres, latas com ervilha e muitos outros elementos também utilizados na própria peça, retratando um dos universos da mulher (já que ela está em tantos outros). A sonoplastia fez com que o público interagisse com a cena por meio das batidas e ritmos singulares, sendo que alguns até se mexiam em suas cadeiras, sentindo de fato o movimento das atrizes em palco.
A peça vai além de uma mera apresentação de cenas. É política, contestadora e crítica. Vários casos de violência contra a mulher são apresentados pelas atrizes. O cenário é indefinido. Podendo ser uma cozinha, um quarto ou apenas o palco do teatro. Essa desconstrução também é marcante, pois o cenário é flexível aos diferentes ambientes pelo qual todas as mulheres transitam todos os dias.
“Homem público é sinônimo de virtude, enquanto mulher pública é vergonha”, é uma das frases da cena que trata sobre a mulher na esfera pública, e como são temidas tanto na política como em qualquer outro espaço que denote poder. Inclusive na família, prevalecendo o patriarcado, ao passo que as mulheres são tão importantes quanto os homens no processo econômico de um país, ou da micro esfera da casa de qualquer casal.
Sexualização do corpo da mulher
Outra questão levantada é a sexualização do corpo da mulher pela mídia. Comerciais de cerveja, revistas que colocam a mulher abaixo do homem [literalmente], nudez explícita, só para citar alguns. A mulher é evidenciada pela mídia como apenas mais um produto de consumo da lógica de mercado, quanto mais se vende mais lucro obtém. Peito. Bunda. Carne. A mulher é transformada em objeto de desejo e assim seu corpo é vendido, consumido por homens cada vez mais machistas, que acreditam nas imagens que vêm na TV e bebem da mesma cerveja que tanto vulgariza a mulher.
Ficha técnica
Roteiro: Fernanda Azevedo e Fernando Kinas
Direção geral: Fernando Kinas
Assistência de direção: Luiz Nunes
Elenco: Fernanda Azevedo e Maria Carolina Dressler
Direção musical: Eduardo Contrera
Execução musical: Luciana Fernandes
Produção e operação de som: Luiz Nunes
Operação de luz: Clébio Souza (Dedê)
Assistência de produção: Daniela Embón
Programação visual: Paulo Emílio Buarque Ferreira
Artista plástica convidada: Marie Ange Bordas
Tratamento de imagem: Fernando Kinas (colaboração de Gavin Adams)
Sobre a Cia Kiwi:
Em 2008 a Companhia representou o Brasil no Seminário Internacional de Performance e Feminismo Actions of Transfer – Women‘s peformance in the Americas, organizado pela Universidade da Califórnia (UCLA), Estados Unidos. O grupo produziu, em parceria com As Atuadoras, o documentário Actions of Transfer – O olhar brasileiro, com apoio institucional da Secretaria Especial de Políticas para as Mulheres do Governo Federal.  Em agosto de 2009 a Kiwi Companhia de Teatro apresentou em Bogotá (Colômbia) a performance Carne – Histórias em pedaços no 7º Encuentro Ciudadanias en cena, organizado pelo Instituto Hemisférico de Performance y Política.
Serviço
O quê: Espetáculo Carne
Onde? Teatro Martins Penna
Quando? 21, às 20h, e 22/5, às 19h
Local? Largo do Rosário, 20, na Penha, zona leste de São Paulo