O sonho de Miguel e a luta de Mirtes: fazer a diferença no Judiciário

A história e os sonhos do menino Miguel Otávio são contados pela mãe, Mirtes Renata, que busca por justiça também estudando Direito e fazer a diferença no Judiciário. Confira no perfil abaixo!

Por Jéssica Moreira

08|06|2021

Alterado em 26|07|2022

Já passava das 4h da segunda-feira de 17 de novembro de 2014, quando Mirtes Renata Santana de Souza sentiu as primeiras contrações. Era Miguel Otávio Santana da Silva pedindo para ver o mundo. Recepcionista em um clube aquático do município de Orobó, região agreste de Pernambuco, Mirtes só parou de trabalhar porque o médico alertou que o menino poderia nascer no ônibus, enquanto ela fazia o trajeto.

Era o primeiro dia de trabalho de Paulo, seu companheiro, como pedreiro. Mirtes estava sozinha. Tomou banho, as dores não cessavam, e ela não suportava sequer andar. Chamou pela prima que morava ao lado e a família foi às pressas para a maternidade da cidade, onde foi transferida para o Hospital de Vitória de Santo Antão, a 78km de onde estavam.

O caminho era pedregoso e cheio de buracos. “Um sacolejo tão grande, eu pensava que iria ter Miguel no caminho. Aquele vuco-vuco todinho, tinha tudo para ter ele ali. Eu só não tive no caminho porque realmente não tinha passagem pra ele”, conta.

Quando chegou na maternidade, os médicos ainda tentaram parto normal. Estouraram a bolsa, ela fez força, mas não conseguiu. “Ainda queriam que eu subisse em cima de uma bola. Eu não conseguia nem me mexer direito, de tanta dor, de contrações uma atrás da outra. Eu cheguei com 8 centímetros de dilatação, mas não deu pra Miguel sair”.

Foi caminhando sozinha para a sala de parto. “Me jogaram de uma maca a outra nas carreiras e, no momento que a dor aliviou, deram a [injeção] raqui. Deitei. Só sentia aquele vuco-vuco e uma enfermeira olhando pra mim”.

Às 7h42 daquele dia 17 chegava Miguel Otávio, pesando 4.530 kg e medindo 52 cm. “Aquele menino grandão, aquela bolinha, fazendo um berreiro. O médico disse: ‘Já nasceu gritando’. Aí a enfermeira que estava do meu lado falou: ‘Mãezinha, não tinha como a senhora ter esse menino normal não, ele era muito grande’.”

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Miguel Otávio recém-nascido em 17 de novembro de 2014

©Arquivo pessoal

‘Nasceu do jeitinho que eu sempre sonhei’

“Miguel nasceu adubado”, conta Mirtes, que  foi recomendada a se alimentar bem durante a gestação. “Comia muita raiz, muita macaxeira. Tinha que ser macaxeira do vizinho, senão fosse eu não conseguia comer. Miguel nasceu adubadinho, bem rolicinho, do jeito que eu sempre sonhei: gordinho, cabeludinho, bem gostosinho mesmo”.

O garoto nunca teve nenhum tipo de doença, tampouco dava trabalho para comer. “Não tinha frescura”. Gostava de tudo, mas muito mais de cuscuz com coxinha de galinha. “Ou só o cuscuz puro, só com pouquinho de margarina, ou então com galinha, mas tinha que ser coxa, ele adorava”.


“Miguel nasceu adubadinho, bem rolicinho, do jeito que eu sempre sonhei: gordinho, cabeludinho, bem gostosinho mesmo.”

Lasanha e macarronada não tinham vez no cardápio. “Preferia um arroz, feijão, galinha, pirão, mas lasanha e macarronada rebuscada, ele não gostava, não. Ele gostava do simples”.

As primeiras pisadas foram aos dez meses, quando se equilibrou sozinho. Entre os cinco e seis meses, já tentava falar. Mas foi com um ano e quatro meses que ele soltou a fala: “Papá, papai. Depois água e depois mamã”, conta Mirtes dando risada.

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As primeiras palavras de Miguel foram Papá, água e Mamã

©Arquivo pessoal

Foi nesse período, em meados de 2016, que Mirtes passou a trabalhar como empregada doméstica na casa de Sari Corte Real, ex-primeira dama de Tamandaré (PE). Mirtes já havia trabalhado como garçonete, recepcionista, auxiliar de cabeleireira e professora de Informática. Contrariando o machismo, atuou até mesmo como carpinteira em pelo menos três obras em Recife. Foi seu primeiro registro em carteira.

“Depois eu parei de trabalhar como carpinteira, até porque eu engravidei, e eu precisava cuidar de mim para conseguir cuidar do meu filho. Não poderia me arriscar. Procurei emprego em outras áreas, mas não consegui, porque infelizmente o preconceito pra quem é negro, gordo e mora longe prevalece”, conta.

O marido da patroa, Sérgio Hacker (PSB), era prefeito de Tamandaré (PE) e mesmo sendo funcionária particular da família, Mirtes e também sua mãe, Marta, foram contratadas pela prefeitura.

“Quando o marido dela ganhou as eleições, o tio dele, que era prefeito, voltou a morar em Recife, e uma das condições para eu ficar recebendo era ir ao apartamento dele fazer faxina pelo menos uma vez na semana”, conta Mirtes, que não teve escolha, pois precisava do emprego.

A situação não perdurou por muito tempo. “Me desgastava, me sacrificava pra não ganhar nada mais”. Até então, não desconfiava das falcatruas da família.

“Eu não sabia que era errado eu receber pela Prefeitura, porque tinham outras pessoas e funcionários da casa que também recebiam. Eu precisava daquele emprego para sustentar meu filho. Eu já não estava conseguindo emprego em outras coisas, então me vi numa situação de agarrar essa oportunidade, pra tentar me estabilizar financeiramente. Era o tempo de correr atrás de outra coisa”.


‘Trabalhei mesmo com Covid-19’

Assim que a pandemia se intensificou em Recife, Sari seguiu para Tamandaré com toda a família para se proteger. Não deu outra opção para os funcionários e Mirtes também se mudou com o filho e a mãe. “Aí não me deram outra opção. Eu tive que ir. Eu precisava trabalhar, precisava receber”.

O isolamento só durou um mês. Depois, a família passou a receber visitas, deixando os funcionários expostos. Mirtes voltava a Recife para limpar o apartamento da família, mas o patrão continuava saindo. “Ele dizia que era uma doencinha. ‘É melhor pegar logo, porque tem anticorpos e se livra’, dizia. Mirtes se contaminou. 

“Ele pegou primeiro, depois eu fiquei com Covid-19. Dentro do apartamento eu trabalhava sem máscara. Mesmo doente, eu continuei trabalhando. Com certeza peguei dele. Eu me protegia ao máximo”.

O Ministério Público do Trabalho processou o ex-prefeito, patrão de Mirtes, por improbidade administrativa, por pagar funcionárias com dinheiro público, mas o casal Corte Real recorreu à condenação de pagar indenização de R$386 mil por dano moral coletivo. A justiça também determinou o pagamento de R$100 de multa rescisória para Mirtes e Marta. Mas os Corte Real também recorreram e o caso corre na justiça.

‘Era uma criança muito dócil’

Para trabalhar, Mirtes passou a deixar Miguel no Hotelzinho, em Recife, um espaço dedicado ao cuidado de crianças liderado por Dona Sueli, uma senhora que Miguel chamava carinhosamente de Vó Sueli.

Com o tempo, se tornou o mais velho da turma, e a cada nova criança que chegava, ele dizia à mãe que queria levar para casa. “Às vezes, ele me pedia para levar os nenéns para casa. Tem uma menininha que chegou lá antes de tudo isso acontecer, o nome dela é Sophia, mas ele chamava de ‘Popia’.”

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Mirtes Renata e seu filho Miguel

©Arquivo pessoal

Antes de ir embora, ele dava um cheiro no pé de ‘Popia’, beijo e abraço em ‘Popia’. “Ele era muito carinhoso. Muito doce, acolhedor, amigável com todo mundo e muito feliz. Ele não só sorria com os lábios, mas com os olhos também. Miguel era ativo, sempre dei graças a Deus por meu filho ser uma criança saudável”.

O dia começava cedo na casa de Mirtes. Logo de manhã, arrumava o garoto, deixava no Hotelzinho. Aos dois anos e meio, também ingressou em uma escola de Educação Infantil, em frente ao espaço de cuidado no contraturno.

“Eu preferi dessa forma porque a escola é próxima, uma escola boa perto de casa, além da praticidade por conta das meninas do Hotelzinho, que podiam ir lá buscar ele pra mim”.

Dali, seguia para os afazeres da casa de Sari. Entre eles, cuidar de seus filhos. Voltava por volta das 17h30, era o tempo de aproveitar Miguel, que costumava imaginar muitas brincadeiras na sala de casa. A avó, Marta, era sua companheira de travessuras. Subia nas costas da senhora e juntos inventaram a brincadeira de ‘bu-boi’.

Amava andar de bicicleta. “Era o xodó dele”, conta Mirtes, que lembra com carinho do menino juntando em um cofre as moedas de 50 centavos que ganhava dos pais ou vizinhos. 

“Vi uma promoção de e resolvi adiantar o presente do Dia das Crianças. Quando abri o cofrinho, tinha R$100. Coloquei mais R$150 e comprei a bicicleta. Ele dizia que ele tinha comprado. Queira ou não, ele também comprou, porque juntou o dinheiro”.

Na sala de casa, os carrinhos ganhavam asas. “Era muito imaginativo”, conta. O patinete também era um dos seus brinquedos favoritos. Antes do dia 2 de junho, o cofrinho estava sendo avolumado por moedas guardadas para comprar um hoverboard – um skate elétrico. Não deu tempo.

Quando a noite caía, não deixava a mãe terminar a novela. “Mamãe, deite comigo, eu quero dormir”. Mirtes desligava a televisão e deitava com o menino. “Aí rezava um pai nosso, o santo anjo do senhor, aí conversava um pouquinho e ele apagava. Às vezes, eu apagava antes, porque estava muito cansada de ter trabalhado o dia todinho. Aí ele passava por cima de mim e ia assistir televisão. ‘Olha, o menino tá acordado’, mainha me dizia. Eu dizia ‘Ô, menino, vem se embora deitar, tu não me chamou? Tava me aperreando pra dormir, agora bora deitar aqui comigo’. Ele botava a cabeça aqui assim, ficava cheirando meu cangote e dormia”.

Aos domingos, acompanhava a avó Marta na missa. Quando o sino da igreja próxima à casa tocava, ele falava  “Vovó, vamos para a igreja ver Jesus”. Era seu jeito de nomear o padre.“Aí se arrumava, botava a calça. Eu queria colocar uma bermudinha, mas ele não queria. Queria calça, camisa polo. Pegava minha bíblia pequenininha e dizia que era dele e ia se embora com mainha pra igreja”.

‘Era um menino cheio de sonhos’

“Era um menino cheio de sonhos”, lembra Mirtes com ternura. Quando bem pequeno, queria ser gari. “Achava muito massa os meninos correndo, pegando o lixo, se pendurando no caminhão. Toda vez que ele via um gari ele dizia ‘amigo, amigo’ e  dava tchau”.

Depois, o sonho era ser policial. “Mamãe, quando eu crescer, eu vou ser policial, pra andar nessas motos”, dizia o menino à Mirtes. Certa vez, ele viu um policial do outro lado da rua e ficou encantado. “Amigo, amigo”, gritava.

“‘Mamãe, meu amigo não falou comigo’. ‘Ele tá trabalhando’, eu explicava. O policial viu, deu tchau, chegou perto e ele falou ‘quando eu crescer, eu vou ser policial’. O policial disse ‘olhe, estude mais um pouquinho, vai ser um médico, é melhor’. Eu falei: ‘Oh seu policial, não se aperreie, é criança, deixa ele sonhar”.

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Miguel era muito dócil e amigo

©Arquivo pessoal


‘Se ela tivesse pego ele pela mão’


No dia 2 de junho de 2020, no entanto, os sonhos de Miguel foram todos interrompidos. Enquanto Mirtes levava os cachorros da Sari Gaspar Corte Real para passear no condomínio de luxo Pier Maurício de Nassau, no bairro de Santo Antônio, centro do Recife. O menino sentiu a falta da mãe e começou a chamar por Mirtes.

As câmeras de segurança mostram o momento em que, no 5º andar, Sari abandona o garoto no elevador e aperta o último piso, no 9º, mesmo sabendo que a mãe estava no térreo. Sem nenhuma pessoa adulta por perto, a criança fica sozinha no elevador. Quando as portas se abrem, cai de uma altura de 35 metros. Mirtes só soube da queda na volta. O menino já não tinha mais vida. A patroa foi quem lhe contou.

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Sari Corte Real e o marido Sérgio Hacker

©Reprodução Facebook

Para uma testemunha que perguntou por que Sari não segurou as mãos do menino, a patroa apenas respondeu: “não era da minha alçada”. Na época, foi presa em flagrante, por homicídio culposo (sem a intenção de matar), mas foi solta em seguida depois de pagar fiança no valor de R$20 mil. Um inquérito da Polícia Civil aponta que Sari realmente deixou a criança intencionalmente no elevador. Ela ainda foi indiciada por “abandono de incapaz com resultado de morte”, mas continua em liberdade.

“Se ela tivesse um pouquinho mais de paciência, se ela tivesse pego ele pela mão ao invés de ficar só falando, pegasse ele pela mão e tirasse, meu filho tava hoje comigo”, é o que disse Mirtes à época, para a TV Jornal.

A defesa do outro lado tem tentado uma tática de adultização de Miguel, apontando o garoto como culpado pela morte. Defendem a inocência de Sari alegando que ela não poderia prever o ocorrido e que não era possível controlar Miguel  “Dizem que ele coagiu Sari, que ela se sentiu coagida com aquela situação”, conta Mirtes.

“Ele tinha apenas 5 anos. Eles falam que ela não poderia prever que ele pularia do prédio, mas poderia prever que algo ruim poderia acontecer com uma criança abandonada dentro do elevador”, explica. 

“Não era filho dela pra ela pegar e fazer aquilo. A gente tem que ter cuidado. Da mesma forma que eu tinha cuidado com os filhos dela. Protegia os filhos dela, ela podia ir pra onde fosse, mas sabia que os filhos estavam protegidos, bem guardados e seguros. Mas ela fez isso com o meu único bem, o mais precioso”.

Memória e justiça

Diante da separação com o ex-companheiro, Mirtes entendeu a importância de levá-lo a um psicólogo. Durante um ano Miguel teve o acompanhamento de uma profissional. O fato tem sido utilizado contra a criança para alegar que ele era ‘doente’.

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Mirtes Renata durante Ato pedindo Justiça por Miguel

©Rafaella Gomes


“Estão querendo dizer que meu filho tinha transtornos, tinha problemas. Meu filho não era criança doente, quem frequenta psicólogo não é doente. Eu procurei a ajuda de uma profissional de Psicologia para me ajudar. Miguel começou a gostar de ter duas casas, morar aqui e de vez em quando ir pra casa do pai no interior, andar de cavalo, brincar com os primos”.


“Estão querendo dizer que meu filho tinha transtornos, tinha problemas. Meu filho não era criança doente, quem frequenta psicólogo não é doente.”

Para a mãe, esta é uma estratégia de defesa baixa e estão fazendo isso justamente para machucá-la. “Eu não aceito isso. Qual é a mãe que aceita ouvir de um advogado  que o filho dela é problemático?”.

Nesse um ano, os advogados ganham tempo, enquanto Mirtes continua em luta constante. “Não vejo esforço da parte deles para defendê-la. Estou lutando para que duas testemunhas sejam ouvidas a favor dela. Não era nem pra estar fazendo isso, mas eu só tô fazendo isso porque eu preciso que o processo do meu filho ande”.

Em meio ao processo, uma das testemunhas – uma funcionária da casa da família Corte Real em Tamandaré – deu um endereço errado e não a encontraram. 

“Ouviram uma testemunha de forma sigilosa. Meus advogados e eu não fomos informados dessa oitiva e estamos devidamente habilitados dentro do processo, acompanhando tudo, e não fomos informados. Quanto mais tempo o processo vai andando, mais eles vão ganhando e ela ganhando também, porque está solta e ganhando tempo”.

Para Mirtes, não era para ela ainda estar reivindicando o óbvio no caso de seu filho. “Se o Judiciário fosse pelo certo, se o judiciário daqui não fosse classista e racista”, critica. Segundo Mirtes, se desde o ocorrido o delegado inicial do caso tivesse visto as imagens da câmera e enviado o caso para uma audiência de instrução, provavelmente Sari poderia já ter sido condenada. 

“Infelizmente, isso não aconteceu, porque ela é branca, porque ela é rica, porque ela é ex- primeira dama da cidade [da Tamandaré], por ela fazer parte da família Hacker [ do marido Sérgio] e da Família Corte Real, famílias muito influentes aqui em Pernambuco, principalmente no litoral sul. Há deputados, estão muito envolvidos na área política. Isso influenciou muito para que hoje ela estivesse solta”.

“Infelizmente, isso não aconteceu, porque ela é branca, porque ela é rica, porque ela é ex- primeira dama da cidade [da Tamandaré]. Isso influenciou para ela estivesse solta.”


Isso influencia também na morosidade do processo de seu filho. “Eu tô numa briga de cachorro grande. Eu tô brigando com gente grande, mas é pelo meu filho, porque ela cometeu um crime. Ela é uma criminosa e tem que ser presa. Ela pode ter o nome que for, o estado social que for, mas ela tem que pagar. O judiciário tinha que agir pelo certo, não era pra estar nessa situação”.

‘Eu não pude viver o luto pela morte do meu filho’

No último dia 2 de junho, completou um ano da morte do menino Miguel. O desejo de Mirtes era permanecer em casa, em silêncio, cuidando de sua dor. Mas a injustiça em torno da criança a obriga a estar nas ruas, mesmo em meio à pandemia.

“Eu estava muito mal, eu queria estar em casa, comigo mesma, sentindo aquela dor, mas infelizmente eu não pude, eu precisei ir pras ruas, pedir por justiça. Lembrar a morte do meu filho. Passei quase um ano sem passar em frente àquelas torres gêmeas [prédio onde Miguel caiu], e no dia 2 eu fui lá. É um ano pra mim não só de dor, mas de luta, muita dificuldade mesmo.”

A Caminhada por Miguel ocorreu em frente ao Palácio da Justiça, em Recife, e manifestantes foram até o condomínio luxuoso onde o garoto morreu. Esse um ano sem Miguel não foi nada fácil. “Eu não pude viver o luto pela morte do meu filho, eu tive que me manter de pé e lutar. Lutando por Miguel, lutando por justiça”.

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Mirtes está no 2º semestre de Direito e quer ajudar outras famílias

©Rafaella Costa


‘Quero fazer a diferença no Judiciário’

Se antes da pandemia o objetivo de Mirtes era cursar Administração, com a morte do filho, os planos mudaram e agora ela caminha para o segundo semestre do curso de Direito. “Por estar passando por essa situação, eu entrei no curso de Direito, para entender melhor o processo de Miguel”, conta a estudante, que no futuro quer ajudar outras pessoas que possam vivenciar situações semelhantes.

“Quero fazer a diferença no Judiciário, porque está bem difícil mesmo lidar com essas pessoas. Quando a gente estuda Direito, a gente aprende a defender a todos, independente de cor, raça ou religião, mas na prática não é isso que acontece”, desabafa.

“Há essa questão do preconceito, do classismo, do racismo. Não bastasse eu passar racismo estrutural, eu estou passando agora pelo racismo institucional [no judiciário]. É bem difícil, mas eu tô firme. Tá cansativo? Tá. Está doloroso? Está. Mas eu tô de pé pelo meu filho”.

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Mirtes Renata e sua mãe Marte durante ato por Justiça para Miguel

©Rafaella Costa

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