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O que são ultraprocessados e como identificá-los?

Os ultraprocessados são descritos por uma classificação chamada NOVA, que leva em consideração como o processamento de alimentos impacta na saúde

Por Beatriz de Oliveira

09|04|2024

Alterado em 09|04|2024

É provável que você já tenha consumido algum produto ultraprocessado ou que alimentos desse tipo façam parte do seu cotidiano. Certamente, você também sabe que eles fazem mal à saúde. Mas, afinal, o que são os ultraprocessados? Como identificá-los? E qual é a relação deles com o cenário de insegurança alimentar enfrentado pelas mulheres negras? Respondemos essas e outras perguntas nesse texto. Confira!

Alimentos in natura, processados e ultraprocessados 

No Brasil, assim como em grande parte do mundo, os alimentos que consumimos são definidos com base em uma classificação denominada NOVA, que avalia o impacto do processamento de alimentos impacta na saúde. Em 2014, o método deu embasamento para a criação do Guia Alimentar para a População Brasileira, que apresenta uma série de recomendações sobre o preparo e consumo de alimentos. 

A classificação NOVA divide os alimentos em quatro categorias:

Alimentos in natura ou minimamente processados: são aqueles alimentos que temos acesso diretamente da natureza, como folhas, raízes, frutas e ovos. A categoria inclui também os alimentos que precisam de algum processamento para chegar ao consumidor, como grãos de feijão, que são apenas secos e embalados, e grãos de trigo, que podem ser em farinhas, cuscuz e massas. 

Ingredientes culinários processados: aqui estão os itens usados para o cozimento e preparo dos alimentos vistos no primeiro grupo. Para chegar ao consumidor passam por processos como prensagem, centrifugação e concentração. Azeite, manteiga, sal e açúcar são alguns exemplos. 

Alimentos processados: nessa categoria estão alimentos modificados por processos industriais simples, com adição de algumas substâncias, como sal, açúcar ou gordura. Pães artesanais, queijos e conserva de legumes são alguns exemplos.

Alimentos e bebidas ultraprocessados: são os alimentos criados por meio de  formulações de substâncias exclusivamente de uso industrial, que incluem o uso de corantes, aromatizantes, emulsificantes, espessantes e outros aditivos. Entre eles estão os refrigerantes, salgadinhos, bolachas, nuggets, salsichas e hambúrgueres. 

Os problemas dos salgadinhos, bolachas recheadas e similares

Conforme descrito pela classificação NOVA, “os processos e ingredientes usados para fabricar alimentos ultraprocessados são desenvolvidos para criar produtos altamente lucrativos”, com ingredientes de baixo custo e longa durabilidade. Sua praticidade, hiperpalatabilidade (sabor de intensidade extrema) e marketing agressivo conferem a esses alimentos vantagens de mercado sobre os outros grupos.

Diversos estudos científicos já demonstraram os malefícios dos ultraprocessados para a saúde, podendo levar, por exemplo, ao aumento da obesidade, diabetes, doenças cardiovasculares e até depressão. Uma pesquisa da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ) constatou que quase 99% dos alimentos ultraprocessados comercializados no Brasil apresentam alto teor de sódio, gorduras, açúcares ou aditivos para realçar cor e sabor.

Insegurança alimentar de mulheres negras

Um estudo da Rede Brasileira de Pesquisa em Soberania e Segurança Alimentar (Rede PENSSAN) mostrou que, em 2022, seis em cada dez lares comandados por mulheres enfrentavam insegurança alimentar. Além disso, quase metade dos lares chefiados por mulheres negras com baixa escolaridade viviam em situação de insegurança alimentar grave ou moderada. 

Nesse cenário, a sobrecarga e a falta de renda fazem com que os ultraprocessados se tornem a única opção para a vida de muitas mulheres negras, como afirmou a pesquisadora Veruska Prado em entrevista ao veículo Gênero e Número.

Além disso, um estudo da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) concluiu que moradores de periferias tendem a consumir mais ultraprocessados do que os que vivem em bairros mais ricos. Falta de informação, baixa disponibilidade de alimentos saudáveis a preços acessíveis dos ultraprocessados são algumas das explicações fornecidas pelos entrevistados.

Como saber se um produto é ultraprocessado?

O Guia Alimentar para a População Brasileira oferece uma dica simples para identificar se um produto é ultraprocessado. Basta verificar a lista de ingredientes no rótulo: se conter cinco ou mais ingredientes, nomes poucos familiares e não usados do cotidiano da cozinha, provavelmente ele é ultraprocessado. Alguns exemplos de itens presentes nessa categoria são: gordura vegetal hidrogenada, óleos interesterificados, xarope de frutose, isolados proteicos, agentes de massa, espessantes, emulsificantes, corantes, aromatizantes e realçadores de sabor.

Outra aliada na escolha dos alimentos é a nova rotulagem, que entrou em vigor em outubro de 2022 e alerta para altos teores de açúcar adicionado, gordura saturada e sódio em produtos processados e ultraprocessados.