Ju Costa: ‘ser artista plástica em Itaquera exige teimosia’
Artista plástica moradora de Itaquera, a artista Juliana Costa retrata mulheres com raízes africanas e indígenas. Também é fundadora do LabCasa espaço de cultura e formação aberto para moradoras do bairro.
Por Mayara Penina
28|05|2018
Alterado em 28|05|2018
A autora da frase é mesmo persistente e convicta. É possível dizer isso porque é sabido que os caminhos percorridos pelos artistas plásticos em uma cidade como São Paulo para viver de arte podem ser bem tortuosos. Para uma mulher, mãe e moradora da periferia, pode ser duplamente complexo. “É preciso persistência, convicção, quase teimosia”, diz a artista plástica Juliana Costa, a Ju.
Em entrevista ao Nós, mulheres da Periferia ela conta que tinha certeza que seria artista desde a infância. “Sou desenhista e me vi assim desde que me entendo por gente. Ainda na adolescência, comecei a participar de cursos livres na área, como desenho artístico, gravura e estêncil e ingressei na faculdade de artes só na fase adulta”, explica.
“Ser artista nessa região exige muita convicção, persistência, quase teimosia”.
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No Brasil, durante muito tempo, a maioria das mulheres esteve presente na arte apenas como inspiradora e musa, retratada à margem do processo criativo. Neste sentido, a arte tem um papel significativo, porque mostra movimentos históricos e mudanças sociais, das quais Juliana faz parte. “Tem dias que tiramos força de onde não existe. É resistência, mas poder acessar as pessoas com a arte é, no mínimo, gratificante, porque todos começam a perceber que arte é sim para todos”, compartilha.
Ju tem 35 anos, um filho de cinco e muitas obras produzidas em telas e espalhadas pelos muros da cidade de São Paulo. Nascida e crescida na zona leste leste, em Itaquera, entre indas e vindas, é neste bairro que decidiu se firmar e viver com o filho Miguel.
“Ativista ambiental e feminista” é como ela se define para contar sobre seu trabalho. São estes temas que trazem inspiração para sua produção, que vai além das pinturas. Ju é professora de várias técnicas artísticas.
É um projeto artístico que dialoga com as culturas ancestrais e suas vertentes contemporâneas.
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Dentre as suas muitas facetas, uma das vertentes de sua produção são os retratos de mulheres com raízes africanas e indígenas. E é por aplicar cores inesperadas em seus rostos que as imagens ultrapassam a fronteira do realismo convencional, as inserindo em um contexto mais amplo. Nos rostos vê-se tons de verdes, cinzas.
Alargando o horizonte banal que divide os grupos humanos segundo suas cores, ao mostrar que um único ser, através da luz que o ilumina contém em sua constituição toda a aquarela possível”, diz a sinopse de sua obra.
“É um projeto artístico que dialoga com as culturas ancestrais e suas vertentes contemporâneas. Nessas representações está a vivacidade desses grupos, representando sua riqueza cultural, artística e de resistência. Exaltando a diversidade, o singular que existe nessas expressões e, assim, apresentar a riqueza dessas composições em cores e feições. Nesse sentido, representar essas pessoas é representar as riquezas culturais nacionais, de um país multirracial e de raízes fortes”, finaliza.
Representar essas pessoas é representar as riquezas culturais nacionais de um país multirracial.
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LabCasa Cultural
Entendendo que as periferias precisam apresentar formas de resistência alternativas coletivas, e para desafiar a lógica competitiva e individualista das grandes cidades, a artista fundou o LabCasa Cultural. A casa é, ao mesmo tempo residência e espaço de arte e educação. A construção do Lab foi possível porque Ju alugou o imóvel por um valor abaixo do mercado pelas condições de conservação. “Eu precisava de um espaço para meus trabalhos de arte e oficina, então restaurei a casa com reutilização de materiais , como forro de caixa de leite e bocais de luz de latas de tintas e vasos. Tudo com as minhas com as próprias mãos”.
Ju gosta de deixar claro que “antes de mais nada, o Lab é um espaço feminista”. A casa recebe e está aberta a outras articulações culturais e atividades voltadas à formação e empoderamento feminino.O Lab possui um ateliê, galpão/oficina, área verde de plantio e quarto para lazer –infantil , para receber os filhos das mulheres. Como também tem formação em desenho industrial, a artista ministra aulas de matemática para mulheres à noite.
Tem dias que tiramos força de onde não existe. É resistência.
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Festivais de graffiti
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