Mulher negra sorrindo

Mulheres protagonizam criação de espaços de cultura em suas quebradas

Em audiência pública, moradores da periferia da zona noroeste de SP denunciaram que gerem equipamentos culturais sem o devido auxílio do poder público.

Por Beatriz de Oliveira

25|08|2022

Alterado em 29|08|2022

Quebradas emanam cultura e há pessoas empenhadas em fazer com que suas diversas manifestações floresçam. “Nós, agentes culturais dos territórios, fazemos a diferença, porque conhecemos o lugar em que a gente mora, entendemos as demandas e estamos mais próximos da população”. A fala é de Suêrda Deboa, produtora cultural e moradora do Jaraguá, zona noroeste da cidade de São Paulo.

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Suêrda Deboa está à frente do espaço cultural Morada Jaraguá

©arquivo pessoal

Na luta pelo aumento de espaços culturais em sua quebrada, Suêrda acaba de comemorar uma conquista. No dia 20 de agosto, foi inaugurado o Morada Jaraguá, espaço cultural, artístico e pedagógico, gerido por ela. A construção do local foi viabilizada por meio do Programa para a Valorização de Iniciativas Culturais (VAI), que apoia financeiramente coletivos culturais da capital.

Para Suêrda, iniciativas como essa tem o potencial de transformar vidas, especialmente quando os espaços são geridos pela comunidade local. Em contrapartida a isso, ela cita equipamentos públicos que não compartilham a gestão com os moradores, e no caso do Jaraguá, não os atende de maneira afetiva. Segundo a produtora, os Centros Educacionais Unificados – CEUs são exemplos disso.

“Atividades culturais mobilizam outras coisas, como moradia, proteção ambiental, proteção da memória e do patrimônio”, ressalta.

O protagonismo dos periféricos na promoção de cultura em suas quebradas pôde ser visto na audiência pública da subcomissão de cultura “Território Noroeste: cultura e realidade local”. O evento, que aconteceu no dia 11 de agosto, foi o segundo de uma série de audiências organizadas pela vereadora Elaine Mineiro, da mandata coletiva Quilombo Periférico (PSOL). Pensado para discutir as demandas culturais das regiões periféricas da cidade, as audiências acontecem à noite possibilitando maior participação dos moradores.

Na noite de 11 de agosto, o local preparado para a audiência encheu e houve quem assistiu de pé a discussão que passou das 22h. Tudo aconteceu na Comunidade Cultural Quilombaque, em Perus. Cantos de jongo, tradição afro-brasileira, abriram a reunião.

Thaís Santos, cofundadora da Comunidade Cultural Quilombaque, parabeniza a iniciativa de descentralizar as audiências públicas. Para ela, “constrangimento” é a palavra que resume a imagem do poder público perante às falas ditas na reunião. “O incômodo foi posto para as pessoas que estavam representando as Secretarias, o constrangimento de estar pensando políticas públicas sem conversar com quem faz as ações nos territórios é o que valida essa ação descentralizada”, afirma.

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Thaís Santos é cofundadora da Comunidade Cultural Quilombaque

Entre os distritos que mais tem equipamentos públicos de cultura estão bairros centrais como República, Sé e Liberdade. Do lado oposto, entre os que menos apresentam esses espaços estão distritos como Jaraguá, Rio Pequeno e Cidade Ademar. A constatação está no Mapa da Desigualdade 2021, pesquisa realizada pela Rede Nossa São Paulo.

Em ano eleitoral, Thaís Santos ressalta a importância de periféricos e periféricas disputarem e acessarem cargos da política institucional para que suas demandas ecoem.