Mulheres constroem Cohab do Jardim Helena

No bairro do Jardim Helena, zona leste de São Paulo, dois conjuntos habitacionais vizinhos são conhecidos pelas histórias das suas antigas operárias e ainda hoje moradoras. Na década de 1990, quando a construção de moradias em regime de mutirão começou na cidade, foram as mulheres que mais participaram das obras dos residenciais Vila Mara e […]

Por Redação

26|09|2014

Alterado em 26|09|2014

No bairro do Jardim Helena, zona leste de São Paulo, dois conjuntos habitacionais vizinhos são conhecidos pelas histórias das suas antigas operárias e ainda hoje moradoras. Na década de 1990, quando a construção de moradias em regime de mutirão começou na cidade, foram as mulheres que mais participaram das obras dos residenciais Vila Mara e São Gonçalo do Rio das Pedras.
Hoje os residenciais servem de abrigo para 592 famílias. Com recursos vindos do Fundo Municipal de Habitação, suas construções fizeram parte do Programa de Mutirões, gerido pela Cohab (Companhia Metropolitana de Habitação).
Entre os moradores dos condomínios, as opiniões são semelhantes: a luta foi delas. ” Só vinha mulher mesmo. Uma vergonha. De homem só tinha eu e mais uma meia dúzia. O resto dos pais de família deviam ficar dormindo em casa. Tinha mulher se lascando de tanto carregar tijolos.”, conta Anísio Alves da Silva, 57, polidor de metalurgia. “Isso porque os serviços eram feitos aos finais de semana”, ressalta.
“Fomos mulheres guerreiras. Muitas tinham perdido o marido e tinham filhos também, então, vinham para a guerra pôr a mão na massa. Carreguei pedra e aprendi a fazer serviços de pedreiro mesmo. Se a gente não planta, não colhe”, conta a moradora e aposentada Zélia Francisca da Silva, 70.
Na época em que participou das obras, Maria Iriam de Lima, 67, trabalhava como doméstica em outras casas. Para ela “os maridos não tinham coragem de enfrentar a construção nos finais de semana, mas o motivo mesmo era a [falta de] fé. Eles não acreditavam que o programa daria certo. Muita gente tirou sarro de mim.” Ela também conta que muitos desistiram e até hoje pagam aluguel.
Os prédios da Cohab foram entregues em 1997, levando quase 10 anos para serem finalizados. Segundo o morador, José Gomes do Padro, 64, a gestão municipal da época prejudicou o programa, fazendo com que os moradores tivessem que suprir parte dos gastos por meio de vaquinhas ou parcerias com entidades do bairro. “O prefeito daquela época esqueceu totalmente dos mutirões e não nos enviava verba. Infelizmente, hoje isso voltou a acontecer em gestões mais recentes do governo e outras pessoas esperam para construir suas casas”, lembrou.
Atualmente, os moradores do conjunto do Jardim Helena se queixaram que o residencial está sem equipamentos de incêndio, como extintores, mangueiras e portas antifogo. “Faz três anos que a Cohab promete fazer as instalações. E olha que nós moramos aqui há 17 anos”, completa José.
Segundo a Secretaria Municipal de Habitação, o edital para licitação de instalação desses equipamentos foi publicado no início do mês e aguarda propostas até 20 de outubro. Após o procedimento, os serviços deverão ser executados.
No nome delas
Em 2005, foi sancionada a Lei 13.770 como forma de beneficiar as mulheres para aquisição de moradias construídas no sistema de mutirão. Isso possibilita que imóveis como o Vila Mara e São Gonçalo do Rio das Pedras sejam registrados prioritariamente no nome delas. Segundo o que afirma a lei, essa medida traz mais segurança para as famílias atendidas pelo programa.
Por Renata Asp
Fonte: http://mural.blogfolha.uol.com.br/2014/09/24/mulheres-constroem-cohab-do-jardim-helena/