Maternidades negras em perspectiva: a homenagem a quem cuida

"Potência é a mãe!": evento valoriza a maternidade negra na Câmara dos Vereadores do Rio de Janeiro

22|05|2024

- Alterado em 29|05|2024

Por Karoline Miranda

No dia 16 de maio, estive no evento “Potência, é a mãe! – Mães potentes potencializam suas crias”, que aconteceu na Câmara dos Vereadores do Rio de Janeiro. A convite da vereadora Thaís Ferreira, eu fui chamada para ser homenageada com uma Moção de Louvor! Além da solenidade, o evento ainda teve atividades ao longo de todo o dia incluindo uma feira de mães empreendedoras, rodas de conversa, apresentações de charme e roda de samba, além de exposição de fotos e com espaço para as crianças se divertirem, algo bem interessante para que as mães também pudessem desfrutar.

As homenagens foram dedicadas a mães que contribuem para a sociedade através de sua maternidade, posicionamento e ideias. Entre as homenageadas estavam Beatriz Macedo, Kenia Mello, Raquel Ayo e Evelin Moura, bem como instituições e organizações como o Ninho de Infâncias Afrikana e Mães de Wakanda foram algumas das homenagens distribuídas na noite. 

No meio de tantas mães potentes, passou um filme na minha cabeça de tudo o que me trouxe até ali. Tive meu primeiro filho  aos 19 anos e, ao longo dos últimos 10 anos,  aprendi, vivenciei, troquei e lutei por uma maternidade inclusiva, antirracista, com recorte de classes e, principalmente, desromantizada. Enfrentei muitos desafios, incluindo a doença não diagnosticada do meu filho mais velho, Gael.

Duas mulheres negras, uma vestindo um vestido estampado e outra uma blusa branca com calça azul marinho, posam para a foto segurando um documento de Moção de Louvor

Eu recebendo a Moção de Louvor das mãos da Thais (e super nervosa!)

©Michael Magalhães

Pude perceber o quanto estar entre outras mulheres potentes me acrescentou como mulher preta e revitalizou o meu maternar. Evelin Moura, emocionou a todos ao compartilhar sua história de luto e luta por Moreno, seu filho que morreu aos dois anos, por negligência médica na UPA (Unidade de Pronto Atendimento) da Cidade de Deus, favela da Zona Oeste do Rio de Janeiro. Tabatha Aquino, que sustenta a casa cantando nos vagões do MetrôRio, também me tocou profundamente com sua força e talento. Elas e tantas outras me fizeram perceber que eu sou porque nós somos.

O mais marcante foi  ver o que acontecia na porta da Câmara, na praça da Cinelândia. Mulheres e crianças dançavam, brincavam, se divertiam e ocupavam um espaço que é nosso nosso – a rua, a cidade. Era música, dança e troca que só nós, mulheres negras, somos capazes de fazer.

Para mim, a grande chave desta celebração foi a valorização das maternidades para construir uma sociedade mais saudável. Não existe sociedade sem maternar; o cuidado com as crianças é um ponto intrínseco para educarmos seres humanos mais com responsabilidade, que valorizem a equidade social, que construam uma relação mais sustentável com o planeta. É do maternar que surgem pessoas mais conscientes, mais inclusivas. E, sem dúvida, essa experiência é muito mais profunda quando falamos sobre maternidades negras.

Para a mulher negra, maternar ainda é – infelizmente – um privilégio. Do pré-natal à vida adulta, temos nossa maternidade dificultada em vários aspectos: a violência obstétrica, a dupla ou tripla jornada, o medo de que nossos filhos virem estatística nos noticiários policiais. Ainda assim, resistimos e buscamos uma maternagem respeitosa, valorizando e empoderando nossas crianças.

Expresso meu respeito a todas as mulheres que, através da maternidade, constroem uma sociedade mais saudável, forte e poderosa.

Larissa Larc é jornalista e autora dos livros "Tálamo" e "Vem Cá: Vamos Conversar Sobre a Saúde Sexual de Lésbicas e Bissexuais". Colaborou com reportagens para Yahoo, Nova Escola, Agência Mural de Jornalismo das Periferias e Ponte Jornalismo.

Os artigos publicados pelas colunistas são de responsabilidade exclusiva das autoras e não representam necessariamente as ideias ou opiniões do Nós, mulheres da periferia.