Maria Punga, a barista negra dona do primeiro café de São Paulo

Maria Punga, a barista negra dona do primeiro café de São Paulo

Na São Paulo escravocrata, uma mulher negra atraia clientes com a venda de café e quitutes em casa; conheça a história de Maria Punga.

Por Beatriz de Oliveira

13|04|2022

Alterado em 19|04|2022

Entre 1850 e 1860, uma mulher negra, ex-escravizada e liberta, torrava, preparava e vendia café em sua casa, acompanhado de quitutes e doces. Seu nome é Maria Emília Vieira, a Maria Punga. Neste Dia do Café, 14 de abril, o Nós, mulheres da periferia conta quem foi a barista dona do primeiro café da cidade de São Paulo que se tem registro. 

O café de Maria Punga ficava próximo ao Pátio do Colégio, no Centro de São Paulo. Ela só servia a bebida quando chegavam três pessoas, pois o bule rendia três xícaras. Numa reportagem do jornal O Estado de S. Paulo, intitulada “Os primeiros cafés”, de 30 de março de 1933, lê-se uma descrição do local: “casa térrea, de duas janelas de rótula e uma porta, nela demoravam todos os passantes, a saborear ‘em grandes xícaras de louça branca’ o magnífico café que, com requintes de capricho, ela torrava, moía e preparava”. 

Uma parte da clientela de Maria Punga era os estudantes da Faculdade de Direito da Universidade de São Paulo, também no Centro de São Paulo. Foi pesquisando em diários destes alunos, homens brancos de classe média, que os integrantes do coletivo Cartografia Negra encontraram relatos sobre o café de Maria Punga. 

O Cartografia Negra se propõe apensar, revisitar, conhecer e ressignificar alguns territórios negros históricos da cidade. Lugares de resistência ou espaços que foram utilizados para venda, tortura ou execuções de pessoas escravizadas e que hoje têm nomes e significados que apagam essas histórias – muitas vezes inclusive as contradizem. O grupo realiza a Volta Negra, caminhada no Centro da cidade em que contam parte da história da população negra que foi apagada. 

Raíssa Albano, Pedro Alves e Carolina Piai do coletivo Cartografia Negra. Crédito: arquivo pessoal