Sateré Mawé, liderança indígena, Marcivana

Marcivana Sateré Mawé: “A cultura é a identidade carregamos conosco”

Conheça Marcivana Sateré Mawé, líder indígena e coordenadora da COPIME (Coordenação das Organizações dos Povos Indígenas de Manaus e Entorno).

Por Mariana Oliveira

01|09|2023

Alterado em 09|09|2023

Marcivana Sateré Mawé, líder indígena e coordenadora do COPIME (Coordenação das Organizações dos Povos Indígenas de Manaus e Entorno), desempenha um papel fundamental na proteção das tradições de seu povo e na busca por seus direitos. Nascida no território tradicional do povo Sateré Mawé, situado no Baixo Amazonas, na terra Andirá-Marau. Sua história transcende seu próprio nascimento, abrangendo a importância de suas raízes e a responsabilidade de sua família em preservar a memória cultural.

A líder traça sua herança até sua tataravó, Ana Rodrigues Paiva, cujo ancestral foi escravizado durante a Cabanagem, uma revolta popular ocorrida entre 1835 e 1840 em Belém (PA). Marcivana, por meio dessa linhagem genealógica, relembra a figura notável de Raimunda Rodrigues, destacando a vital importância das mulheres indígenas na continuidade das tradições culturais. Após as revoltas, seu povo finalmente recuperou sua liberdade, migrando para a cidade de Maués, (AM).

No início da década de 70, quando Marcivana tinha apenas dois anos, sua família foi viver na capital amazônica, Manaus. “Meus tios quiseram estudar e minha avó saiu do nosso território para que eles pudessem fazer faculdade”, relembra. Mesmo morando na cidade, afirma com orgulho que as tradições e culturas do seu povo permaneceram.

A cultura e a identidade são espirituais. Carregamos o território conosco e repassamos para os jovens.

Desde a infância, Marcivana sempre foi uma observadora atenta. Inicialmente, inspirada pela figura forte de sua mãe e, anos depois, influenciada pela religiosidade e por diversas pessoas que cruzaram seu caminho, ela embarcou em sua jornada como ativista de maneira despretensiosa. “Além de ter tido minha mãe como um exemplo de força, coragem e questionamento, tive também a sorte de encontrar pessoas que desempenharam um papel fundamental na minha formação política. Eu constantemente questionava o motivo de estar em lugares onde a água era inacessível, por exemplo”, ela compartilha.

Sateré Mawé, liderança indígena, Marcivana

Marcivana Sateré Mawé, líder indígena e coordenadora do COPIME.

©Arquivo pessoal

Depois de se mudar para um local novo, ela não apenas aprendeu o português, mas também concluiu sua graduação em ciências contábeis. Além disso, trabalhou na alfabetização de jovens e adultos. Ao entrar em contato com diferentes etnias indígenas e grupos não indígenas, cada um enfrentando realidades distintas, Marcivana abraçou sua própria identidade de maneira mais profunda. “Reconhecer-me como indígena era uma conversa que inicialmente se restringia à minha casa e minha família, mas esse processo de autoconhecimento abriu portas para que eu pudesse encontrar outras pessoas semelhantes a mim”, relata Marcivana.

Em 2004, ela se envolveu na criação de políticas públicas destinadas a fortalecer o protagonismo e a autonomia das comunidades indígenas. Um dos principais focos do grupo era combater o desaparecimento de dialetos locais. O resultado desse esforço conjunto foi a fundação da COPIME em 2011. Composta e liderada por indígenas, a organização se dedica a discutir projetos relacionados à educação, saúde, economia, direitos territoriais e moradia.

Nós nos organizamos nas comunidades e trabalhamos junto à prefeitura para garantir a contratação de professores indígenas. É crucial ocuparmos esses espaços para reivindicar políticas públicas mais eficazes para o nosso povo.

Marcivana também acredita que as próximas gerações têm o potencial para se tornarem líderes ainda mais capacitados, graças ao protagonismo construído ao longo do tempo. “Durante muito tempo, outras pessoas falaram em nosso nome, mas hoje em dia, a juventude está empenhada em assegurar o acesso à educação e a permanência nas universidades. Está surgindo uma geração muito bem preparada, munida de conhecimento. Essa nova geração está abordando temas como xenofobia e a comunidade LGBTQIA+ com profundo entendimento, algo que não se discutia antes”, conclui Marcivana.