Mãe solteira e a compra do primeiro material escolar

Hoje fui em uma papelaria comprar algumas canetas, até aí normal. Dentro do estabelecimento, que fica em Santana, me dei conta que foi lá que minha mãe comprou meu primeiro material escolar. E daí? Em 1991, há 25 anos, minha mãe estava desempregada, eu tinha 7 anos e tinha que ter material escolar para o […]

Por Redação

01|08|2016

Alterado em 01|08|2016

Hoje fui em uma papelaria comprar algumas canetas, até aí normal. Dentro do estabelecimento, que fica em Santana, me dei conta que foi lá que minha mãe comprou meu primeiro material escolar. E daí?

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Priscila Gomes e sua mãe Cleuza Gomes na colação de grau de Priscila como jornalista em janeiro de 2012


Em 1991, há 25 anos, minha mãe estava desempregada, eu tinha 7 anos e tinha que ter material escolar para o ano todo, era minha 1ª série. A lista, exigida pela escola estadual, era enorme e com pedidos de marcas como Faber Castel, dicionário Aurélio etc.
Eu era criança, mas já percebia as dificuldades que estávamos passando. Nunca esqueci.
No meu primeiro dia na escola minha mãe disse: “você não vai pedir nada a ninguém. É filha de mãe solteira, mas você não vai pedir nada emprestado. A gente dá um jeito. Qualquer coisa me liga que vou te buscar”.
Já era só ela, eu e as dificuldades. Morávamos com alguns parentes, por enquanto “de favor”. Almoçávamos na escola. Ela ia procurar emprego e muitas vezes não conseguia chegar no horário para me buscar, eu saia no horário da tarde. Eu ia para a diretoria e ficava até os alunos do período noturno chegarem. Às vezes eu chorava, mas sabia que ela estava em entrevista de emprego ou em algum local longe. Tinha medo de acontecer algo com ela e eu ficar sozinha.
Até que uma mãe de dois alunos, que eram da minha sala, ficou com dó de mim e resolveu falar com minha mãe para eu esperar aquelas horas na casa dela. Mas eu não quis, tive medo da mulher me sequestrar ou nunca mais me devolver para minha mãe. Fora que, um dos filhos dela era apaixonado por mim. Tinha a minha idade, o Yan. E eu também, já nessa idade, não queria ficar perto dele, pois eu não gostava dele e nem dessa paixão (risos).
Até que minha mãe, graças a Deus e ao seu esforço, arrumou emprego e não precisei ficar esperando por ela na saída por muito tempo.
Comentei com a moça da papelaria que ali foi onde minha mãe comprou meu primeiro material escolar. Ela riu e disse: “essa papelaria é muito antiga”.
Na hora suspirei fundo e me veio essas memórias. Do esforço da minha mãe para eu nunca pedir nada emprestado pra ninguém, mesmo com as nossas dificuldades.
Priscila Gomes da Silva- 32 anos, jornalista, moradora do bairro Vila Zilda, na zona norte da capital