mulher segura cartão de crédito

Longe dos juros do rotativo: como usar o cartão de crédito sem ficar no vermelho

Novo teto para os juros do rotativo do cartão de crédito é de 100% do valor da dívida; educadora dá dicas para evitar inadimplência

Por Beatriz de Oliveira

17|01|2024

Alterado em 23|01|2024

Desde o dia 3 de janeiro está em vigor o novo teto para os juros do rotativo do cartão de crédito. Quem não conseguir pagar a fatura terá os juros limitados a 100% do valor da compra. A medida representa um avanço no combate ao endividamento no Brasil, uma vez que uma grande parcela dos brasileiros tem dívidas no cartão de crédito, conforme aponta Pesquisa de Endividamento e Inadimplência do Consumidor (Peic).

Juros do rotativo: quando o consumidor deixa de pagar o valor total da fatura do cartão de crédito até o seu vencimento, a dívida entra automaticamente em crédito rotativo, com a cobrança de juros sobre o valor que não foi quitado.

A nova regra dos juros do rotativo vale para dívidas contraídas a partir de 3 de janeiro de 2024. A mudança está prevista na lei que criou o Desenrola Brasil, programa de renegociação de dívidas do governo federal. Em outubro de 2023, quando foi sancionada, a lei determinava o prazo de 90 dias para a regulamentação de um novo modelo para o rotativo do cartão de crédito. Como não houve acordo entre as instituições financeiras, passou a valer o teto de 100% do total da dívida ao longo de um ano, modelo utilizado no Reino Unido.

Antes da mudança, os juros do rotativo se configuravam como os mais altos do mercado de crédito no país, podendo chegar a mais de 400%. Não à toa, 87,7% do total de inadimplentes fazem uso da modalidade, segundo Pesquisa de Endividamento e Inadimplência do Consumidor (Peic), divulgada em dezembro de 2023. O estudo aponta ainda que a maior parte dos devedores são de baixa renda e que as mulheres relatam ter maior dificuldade de pagar as dívidas em dia.

Dicas para usar o cartão de crédito sem entrar em dívidas

Apesar da significativa diminuição nos juros do rotativo, a taxa ainda é alta, então, o melhor caminho é buscar organização financeira para pagar as faturas em dia.

“O cartão de crédito não é um vilão. O crédito pode ser super positivo quando bem utilizado.

A questão é que, normalmente, a gente não tem educação financeira e acaba ficando inadimplente por conta disso”, afirma Bia Santos, educadora financeira e CEO da Barkus, startup que visa democratizar a educação financeira.

A educadora menciona algumas dicas de como usar o cartão de crédito de maneira saudável e evitar a inadimplência:

1

Usar o cartão de crédito para compra de bens duráveis

Bia Santos recomenda o uso do cartão para a compra e parcelamento de bens duráveis, como móveis e eletrodomésticos, por exemplo. Ao priorizar a compra desses bens essenciais e evitar os gastos supérfluos e pontuais no cartão, se evita um descontrole financeiro.

2

Entender o cartão de crédito como forma de pagamento, não como renda extra 

“Muitas pessoas olham para o limite do cartão como se fosse um acréscimo do salário delas”, pontua a educadora. Por isso, vale a pena começar a enxergar o cartão como forma de pagamento, não como renda extra. 

3

Organizar o seu orçamento mensal 

Seja no caderno ou no bloco de notas do celular, anotar as despesas mensais é essencial para o bom andamento das finanças pessoais. Isso vale, inclusive, para as compras no cartão de crédito. “Se eu compro um tênis de R$100 com o cartão, no mês seguinte preciso deixar esses R$100 na conta [para pagar a fatura]”, explica a educadora financeira. 

Como quitar dívidas do cartão de crédito?

Para quem já está inadimplente, há alternativas para fugir dos altos juros do crédito rotativo. No início do endividamento, a dica é tentar cortar gastos durante alguns meses, a fim de juntar dinheiro para quitar as dívidas. Outra possibilidade é trocar a dívida por uma mais barata, como por exemplo, pegar um empréstimo pessoal com juros menores para quitar o crédito rotativo.

Existem também os “feirões de limpa nome”, que oferecem descontos significativos para os devedores, e o programa Desenrola Brasil, que facilita a renegociação de dívidas. Entrar em contato diretamente com a instituição financeira para negociar o débito também é uma alternativa.

Além disso, a partir de 1º de julho passa a vigorar a norma do Conselho Monetário Nacional (CMN) que permite a portabilidade da dívida do rotativo para outra instituição financeira, que ofereça melhores condições de negociação. “É uma mudança positiva, porque gera uma certa competição saudável entre as instituições financeiras”, pontua Bia Santos.