Lições que aprendi no Afropunk relacionadas com o ativismo climático

Colunista Amanda Costa conta as relações que notou com o ativismo climático durante sua experiência no Afropunk 2023, em Salvador (BA).

07|12|2023

- Alterado em 18|12|2023

Por Amanda Costa

Fala minha lindeza climática, belê?

No mês da Consciência Negra, ou melhor, da Paciência Negra, participei do Afropunk, o maior festival de música afro do mundo! O evento aconteceu nos dias 18 e 19 de novembro, apresentando mais de 20 atrações, como Bacu Exu dos Blues, Tasha e Tracie, Alcione, Ludmilla e muitos outros.

A história do Afropunk teve início com James Spooner, um jovem DJ que enfrentava uma crise identitária por ser um dos poucos negros que curtia o estilo de música punk-rock. Em 2003, Spooner criou o documentário AfroPunk, no qual entrevistou diversos amigos que passavam pela mesma situação, ou seja, pessoas negras inseridas em ambientes majoritariamente brancos (qualquer semelhança com pessoas negras envolvidas no debate climático NÃO é mera coincidência).

James Spooner viajou por diversas cidades dos EUA com o intuito de exibir o filme, e seu site tornou-se um famoso fórum de trocas, resgate e valorização da cultura negra. Em 2005, Matthew Morgan se uniu a Spooner, e juntos realizaram o primeiro festival do Afropunk, o “Liberation Sessions”, em comemoração à 100ª exibição do filme. Os produtores reuniram cerca de 2500 pessoas para assistir à seleção de curtas, ouvir boa música e se conectar com pessoas que faziam parte da comunidade afro.

No entanto, James se incomodou com o crescimento dos festivais, pois, em sua visão, os encontros chamaram a atenção das grandes empresas e perderam seu objetivo original (qualquer semelhança com as COPs, Conferência da ONU para as Mudanças Climáticas, sendo cooptada pelas grandes corporações NÃO é mera coincidência).

Apesar de tudo, o Afropunk explodiu e hoje é considerado o maior festival de música afro do mundo. É um lugar onde pessoas negras se aquilombam, se apreciam e se sentem seguras para sonhar com um novo mundo de igualdade, liberdade e acolhimento para todos.

Para mim, participar do Afropunk representou rebeldia, lutas sociais e manifestação da arte. Ele nasceu através de um movimento contracultural que legitimou a existência de corpos historicamente excluídos da sociedade, soando como um grito de resistência para a comunidade, o que me levou a refletir: ativistas climáticos também podem rebolar a raba!

O esgotamento dos nossos corpos também simboliza o esgotamento do nosso planeta: o trabalho excessivo, a extração de recursos, seja a nossa energia ou os recursos naturais da Terra, e a valorização do individualismo estão levando a humanidade rumo ao abismo (qualquer semelhança com a crise climática e a crise na psique – depressão, ansiedade e crise do pânico NÃO é mera coincidência).

Querida leitora, numa sociedade capitalista, marcada pela cultura workaholic e repleta de burnouts, o ato de descansar, celebrar e curtir com os amigos se tornou revolucionário!

Aprendi nos últimos anos de militância que celebrar é a arte de permanecer na luta. Para enfrentar a eco-ansiedade, precisamos tirar tempo para descansar, desfrutar e desacelerar. E quer saber a real?

Ativistas climáticas também rebolam a raba!

O fato de separarmos um tempinho para curtir não diminui a nossa capacidade de articulação, incidência e trabalho! A luta por justiça climática é longa, é uma missão de vida. E querida leitora, quer saber o que aprendi com o Afropunk que se relaciona com o ativismo climático? Para conseguirmos ter sustentabilidade a longo prazo e não sucumbir, bora aquilombar, defender nossos territórios e rebolar nossa raba nos festivais de afropop!

Larissa Larc é jornalista e autora dos livros "Tálamo" e "Vem Cá: Vamos Conversar Sobre a Saúde Sexual de Lésbicas e Bissexuais". Colaborou com reportagens para Yahoo, Nova Escola, Agência Mural de Jornalismo das Periferias e Ponte Jornalismo.

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