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Karen Francis: cantora amazonense é destaque do Black Voice 2023

De Manaus para o mundo a cantora da Nova MPB inova ao mesclar ritmos brasileiros e africanos em seus hits

Por Mariana Oliveira

13|12|2022

Alterado em 15|12|2022

Com referências de ritmos africanos inseridos pelo afrobeat, a música da jovem Karen Francis, 22, vem ganhando espaço na chamada Nova MPB (Música Popular Brasileira). Com dois EP’s e dois singles, recentemente foi selecionada para fazer parte do YouTube Black Voice 2023, fundo da plataforma do YouTube que incentiva e capacita criadores e músicos negros, nacionais e internacionais.

“Eu olho para mim no passado e vejo que eu estou realizando o sonho daquela menina. Me visto como eu quero, corto e pinto meu cabelo como eu quero. Eu queria ser assim quando era criança”.

Filha de mãe moçambicana e pai brasileiro, Karen nasceu em Maués, interior do Amazonas, e cresceu rodeada por muitas referências musicais, já que o pai era missionário de uma igreja evangélica e ela bebeu diretamente dessas influências.

“Aprendi a tocar e, aos quatro anos, cantei sozinha pela primeira vez na igreja”, conta. Em pouco tempo, tornou-se responsável pelos louvores. Experiência que foi fundamental para sua formação enquanto artista: “Ajudou a desenvolver minha performance e a perder o medo do público”.

Introspectiva, encontrou na escrita uma forma de manifestar suas angústias e anseios. “Fui sentindo amor por isso”. Aos 13 anos começou a compor. “Era meu passatempo”. Se deu conta de que estava impactando outras pessoas, quando igrejas vizinhas incluíram seus originais no repertório.

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Karen começou na música cantando na igreja © Demi Brasil

Karen Francis trabalha com referências de ritmos africanos inseridos pelo afrobeat © Alonso Junior

A rapper foi selecionada recentemente para fazer parte do YouTube Black Voice 2023, fundo da plataforma do YouTube © Plácido Huascar

“Todo mundo botava fé”

Embora tenha aprendido muito sobre o universo musical na igreja. Como uma mulher lésbica, ela não se sentia mais pertencente, nem representada naquele lugar. “Eu não sentia tanto prazer em tocar na igreja, porque fui empurrada para o grupo de louvor, um compromisso que tive até os meus 17 anos”.

Nessa mesma idade, tomou a decisão de se afastar da igreja. Sair do círculo em que cresceu foi um processo longo e difícil, já que era filha de pastor e responsável pelo louvor em uma cidade pequena.

“Era uma cobrança muito grande em cima de mim, além de todo falatório. Tinha dúvida sobre tudo e ninguém me respondia. Além disso, desde a minha infância me entendo como mulher lésbica, essa foi uma das principais coisas que me fizeram despertar. Não posso estar em um lugar que não me respeita”.

Karen mudou-se para a capital Manaus para estudar música, o que a auxiliou no processo de aperfeiçoamento musical. Ao viajar para Moçambique com a mãe, conheceu o afrobeat, ritmo que hoje é a marca registrada de suas faixas.

Sua vivência itinerante, unida à nacionalidade da mãe, são as principais influências do estilo que desenvolve hoje. Suas composições trazem letras que falam de amor, relacionamentos e afetos. “Sempre trago tópicos [ligados] à questão racial e a representação da negritude no Amazonas”.

Afrobeat é um estilo musical originado na Nigéria, nos anos 60 com o cantor e multi instrumentista Fela Kuti. O ritmo é caracterizado pela repetição de groove e mistura de batidas do iorubá, jazz, highlife, funk e outros.

Dentro ou fora da igreja. Na capital ou no interior, Karen tem como principais motivadores para a carreira sua família, também sente apoio dos colegas da região. Com o nome fortalecido no mercado, considera ter uma chance de simbolizar o norte do país por meio da música. “Nesse momento, eu represento alguém que conseguiu e está conseguindo ter acesso maior a algumas coisas”.

Sonha em ganhar o Grammy, mas até lá espera que sua música atinja as pessoas de sua cidade. “A arte tem um papel transformador, espero que, de certa forma, meu trabalho cause alguma estranheza. Para as pessoas questionarem padrões colonizados, independentemente da geração”, finaliza.

Ouça Karen Francis:


Conteúdo publicado originalmente no Expresso na Perifa – Estadão