Rede em SP articula propostas para o bem-estar de jovens LGBTQIA+

A Rede IJ - Rede Intersetorial Infância e Juventude LGBTQIA+, promove atividades e mentorias focados em crianças e jovens LGBTQIA+ em Sapopemba, zona leste de São Paulo (SP).

Por Mariana Oliveira

10|02|2023

Alterado em 13|02|2023

A Rede Intersetorial Infância e Juventude LGBTQIA+ de Sapopemba e Vila Prudente, zona leste de São Paulo (SP), é um fórum criado há pouco mais de um ano e atende às demandas em prol de direitos dos jovens LGBTQIA+. A Rede conta com o apoio de profissionais de diversas áreas, representadas por serviços como a Diretoria Regional de Ensino, o Sistema Único de Assistência Social (SUAS), o Sistema Único de Saúde (SUS), a Supervisão Técnica de Saúde (STS), o Conselho Tutelar e coletivos regionais.

A Rede IJ nasceu quando Lígia de Menezes, psicóloga do Centro de Defesa dos Direitos da Criança e do Adolescente (Cedeca) Sapopemba, atendia um garoto de 14 anos que passava por dificuldades burocráticas durante processo de transição de gênero, Lígia buscou orientações para auxiliá-lo e presenciou relatos de crianças com problemas de saúde mental e funcionários sem preparo em Unidades Básicas de Saúde (UBS) e Centros de Atenção Psicossocial (CAPS). Com uma demanda aparente, Lígia se uniu a representantes de instituições públicas para propor medidas de auxílio aos jovens, às famílias e às instituições.

Lígia compartilha a coordenação da Rede com Vanessa Souza, assistente social da Supervisão Técnica de Saúde (STS) Vila Prudente/Sapopemba e está à frente de pautas relacionadas aos direitos humanos, entre elas a questão LGBTQIA+ e prevenção a violência.

“Quando surgiu a proposta da Lígia, busquei por pessoas dentro da Saúde que poderiam somar conosco. Percebi que os familiares levam adolescentes LGBTQIA+ ao CAPS pensando que a criança ou o adolescente tem algum problema e precisa ser curado, ou estão sendo levados por uma moda ”, explica Vanessa.

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Rede IJ e parceiros durante reunião mensal.

©Ligia Menezes

Buscando assegurar o cumprimento do artigo quinto do Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA), a organização visa naturalizar discussões de gênero com crianças e jovens entre 10 e 17 anos vinculados ao Centro da Criança e do Adolescente (CCAA) e grêmios estudantis. “Muitas crianças e adolescentes se identificam como LGBT, mas as famílias não aceitam, não querem enfrentar junto e tem medo de sofrer violência na rua. Essas crianças reconhecem que o amigo transexual não está acessando o banheiro e a problemática disso. Ao mesmo tempo, os adultos chegam com muita insegurança”, explica Lígia.

O artigo quinto do Estatuto da Criança e do Adolescente define que “nenhuma criança ou adolescente será objeto de qualquer forma de negligência, discriminação, exploração, violência, crueldade e opressão, punido na forma da lei qualquer atentado, por ação ou omissão, aos seus direitos fundamentais”.

A Rede não dispõe de uma sede e as atividades circulam em espaços disponibilizados por parceiros e escolas municipais. Para este ano, a ideia é que se torne um pólo na região, um espaço seguro de acolhimento e prestação de serviço para a comunidade. Para os próximos anos, há a proposta de implementação de subseções em outras regiões da cidade de São Paulo.

Recentemente o vereador Rubinho Nunes (União Brasil) criticou o Hospital das Clínicas (HC) da Universidade de São Paulo (USP) por atender e acompanhar cerca de 280 crianças e adolescentes trans. Em pedido encaminhado à Câmara Municipal, o vereador alega que a criança não tem “maturidade, legal e psicológica, suficiente para ser submetida a tratamento hormonal”.


O ambulatório transdisciplinar do HC é responsável pelo processo de transição de gênero em São Paulo e atende gratuitamente pais e crianças trans, auxiliando em intervenções médicas, hormonização e atendimento psicológico.