Jogos olímpicos: participação feminina enfrenta machismo

Em nosso editorial, apontamos que mulheres continuam enfrentando desafios ao disputar os jogos olímpicos, ligados à igualdade de gênero.

Por Redação

27|07|2021

Alterado em 18|08|2021

Os Jogos Olímpicos de Tóquio estão sendo marcados pela ampliação da participação de mulheres nas modalidades esportivas, que representam 48,8% do total de atletas.

Mesmo diante deste avanço, as mulheres continuam enfrentando desafios ao disputar os jogos olímpicos, ligados principalmente à igualdade de gênero.

São dificuldades que impactam diretamente no seu direito de escolha: seja na aparência, ainda relacionada como um fator de relevância, assim como a exposição ou não dos corpos das competidoras.

Competir com a vestimenta que consideram mais confortável; o poder de definir entre usar ou não maquiagem, assim como o simples fato de usar seus cabelos de maneira que não interfira em sua identidade. São fatores que deveriam estar superados, mas que, infelizmente, ainda permeiam as competições femininas, para além da performance esportiva das atletas.

Diferença da vestimenta dos times masculino e feminino de Handebol da Noruega

Exemplos não faltam, como é o caso das jogadoras de handebol de praia da Noruega, que foram multadas por se negarem a usar o “tradicional” biquíni e optar por shorts e top. Uma foto com a seleção masculina e feminina mostra a diferença da exposição dos corpos, sendo o das mulheres os mais expostos, claro.

Outra polêmica em torno da aparência perpassa não só o machismo, mas também o racismo, e diz respeito às nadadoras negras, que foram impedidas de usar toucas voltadas para cabelos crespos.

Barreiras que são impostas para além da desigualdade ainda existente na  participação feminina nos jogos olímpicos. Mesmo com o aumento de mulheres nas diversas modalidades esportivas, esta representatividade ainda é menor do que a dos homens.

Touca de natação para cabelos afrodescendentes

A falta de estímulos para que meninas pratiquem esportes competitivos, por vezes associados ao gênero masculino, pode estar atrelada ainda à baixa representatividade nos jogos.

Uma pesquisa realizada pelo Ministério dos Esportes, que detalha a prática esportiva no Brasil, aponta que 34,8% das meninas abandonam a prática até os 15 anos, percentual que cai para 19,3% entre os homens.

Outro dado coletado pela ONU Mulheres revela baixa auto-estima das meninas no período da puberdade. Em comparação com a dos meninos, esses níveis caem duas vezes, o que pode sinalizar que exigências físicas dos padrões de beleza, que são mais cobrados quando se é mulher, podem potencializar a ausência dessas garotas nessas competições.

A pressão para que esse quadro mude fez com que o Comitê Olímpico Internacional (COI) se movesse para garantir que mulheres possam competir em nível de igualdade.

Essa olimpíada entrou para a história como sendo a maior com participação feminina, com 48,8% de mulheres nas competições. O COI se comprometeu ainda em elevar de 20% para 40% o total de funcionárias no comitê.

É inegável o avanço para que mais mulheres possam competir nos Jogos Olímpicos. No entanto, a linha de chegada encontra obstáculos sociais como a sexualização, o racismo e a falta de representatividade.

Quando vemos meninas como Rayssa Leal levar prata na competição de skate street, prática esportiva associada ao gênero masculino, entendemos como ocupar esses espaços é um caminho sem volta.

Quando assistimos na dança rítmica a ginasta negra Rebecca Andrade se classificar para a próxima etapa da competição ao som de “Baile de Favela”, sentimos a esperança renovada para que essa linha de chegada fique menos custosa para nós, mulheres.

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