Dicas da Semana: Música preta para momentos de amor e ódio

É muito difícil conviver diariamente com o racismo no Brasil. No país que a cada 23 minutos um jovem negro é morto, a indignação é cotidiana. Nesta edição de dicas da semana, selecionamos artistas para escutar quando a raiva toma conta

Por Lívia Lima

04|02|2022

Alterado em 25|03|2022

Como o escritor norte-americano James Baldwin afirmou, “ser negro e relativamente consciente é estar quase sempre com raiva.” Mas esse sentimento nem sempre é negativo, ele impulsiona a seguir em frente. Como nosso poeta Sérgio Vaz também acredita: “muito amor, mas raiva é fundamental!”. 

É muito difícil conviver diariamente com o racismo no Brasil. No país que a cada 23 minutos um jovem negro é morto, a indignação é cotidiana. Nesta edição de dicas da semana, selecionamos artistas para escutar quando a raiva toma conta, mas também os que, por meio da música, conseguem nos acalmar porque, antes de tudo, precisamos nos cuidar e nos manter com a mente equilibrada para continuar lutando, né?!

Luedij Luna

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Na estrada há muito tempo, a voz de Luedj é um abraço apertado para o início e término dos dias

©Reprodução Youtube

Músicas que nos abraçam: Luedji Luna. Ela traz sensação de paz e amor, que como bell hooks afirmava, deve ser também um posicionamento político. Seu último disco, “Bom Mesmo É Estar Debaixo D’água” é acalanto para momentos de relaxamento, sem deixar de ser crítico. Cantora baiana na corrida para sobreviver da arte desde muito tempo, Luedj lançou seu primeiro disco em 2017 e, deste então, já disparou outros dois trabalhos, todos muito bem recebidos e aclamados pelo público.

Djonga

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Rapper lançou o clássico “Fogo nos Racistas”

©Divulgação

Escutar as batidas pesadas do Djonga é uma boa opção para extravasar a raiva. Sua voz ecoa como grito, e as letras do rapper mineiro dão força no combate ao racismo. Sensação sensacional! A música foi lançada em 2017, ele foi o 22º convidado do projeto semanal “Perfil”,  idealizado pela Pineapple Supply e o Brainstorm Estúdio.

 Elza Soares
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A voz do milênio nos deixou em 2022, mas seu legado é eterno

©Divulgação

A voz do milênio que nos deixou logo no início de 2022 não pode faltar. Desde o início da carreira, suas músicas trazem, na essência, motivos para a população negra existir e resistir. No álbum  Deus É Mulher, lançado em 18 de maio de 2018, a música ‘O que se cala’ é um manifesto que denuncia a violência brasileira e, ao mesmo tempo, reivindica este país como pertencente á vozes negras como a dela. Temas como violência doméstica, racismo e as desigualdades marcam sua passagem musical.  Sua história de vida, entre drama, romance e tragédia, foi uma obra de arte que será sempre uma inspiração.

Baco Exu do Blues

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O rapper passeia entre temas como política, afeto, masculinidade e ancestralidade

©Roncca

“Eu sinto tanta raiva que amar parece errado”. Com essa frase Baco Exu do Blues abre o novo álbum QVVJFA – Quantas vezes você já foi amado?, com composições sobre os dilemas e crises do homem negro em diferentes relações. Destaque para “Inimigos” para momentos de ressentimento. Com este trabalho ele entrou no top mundial dos dez maiores lançamentos da semana do Spotify, como o quinto mais ouvido no planeta. Outros álbuns do músico nascido em Salvador, na Bahia, também trazem convocam outras forças.  Em 2017 ele lançou Esú, álbum que viaja entre os tambores do Candomblé, aborda o bem e o mal  nas mitologias e reverencia sua origem nordestina e africana.


Emicida e 
Drika Barbosa 
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Contemporâneos, os dois frequentavam as mesmas rinhas de MC’c

©Divulgação

Emicida é um artista que possui uma diversidade de músicas para diferentes momentos, desde a raiva até o amor. O disco AmarElo provoca uma sensação de paz e bem-estar que é importante para o cuidado com a saúde mental. “Principia” e “AmarElo (com um sample do Belchior) ajudam como mantras! Além disso, ele tem ao lado uma das principais rappers brasileiras, Drika Barbosa. Em 2015, Drika participou da música “Mandume“, sua letra neste feat convoca o feminismo das pretas e reforça a reação das mulheres negras ás violências. Até então integrante do coletivo Rimas e Melodias, uma banca que uniu mulheres no rap, em 2017 ela passou a fazer parte do selo Laboratório Fantasma. O álbum lançado em 2019 traz músicas como “Herança“.


Clementina de Jesus
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Seu primeiro disco foi lançado em 1966, quando a cantora tinha 65 anos

©Arquivo / Reprodução

Não podia faltar a Rainha Quelé ou Clementina de Jesus, uma das vozes mais marcantes da música brasileira. Assim como a maioria das pessoas negras deste país, foi neta de escravizados e fez da sua trajetória musical um elo entre a cultura negra no Brasil e a África. Com cerca de 10 álbuns publicados, entre exclusivos e participações, as músicas são marcadas por cantos religiosos e tradicionais da população africana trazida para o Brasil na condição de escravidão. Suas músicas são carinhos para os momentos de dificuldade, as letras e o ritmo desenvolvem o mesmo papel que as religiões de matriz africana sempre cumpriram: recomposição.  Um exemplo é a música ‘Fui pedir às almas santas‘.