“Desempregada, passei a fazer bolos e montei meu negócio”

Rosemeire Aparecida de Assis, 42 anos, é moradora da Vila Galvão em Guarulhos, região metropolitana de São Paulo. Desde 2009 é uma empreendedora e administra a empresa Mary House, realizando confecção e comércio de bolos e salgados para festas. A Mary House Eventos se tornou então um empreendimento formado por mulheres na cidade de Guarulhos que […]

Por Redação

02|09|2015

Alterado em 02|09|2015

Rosemeire Aparecida de Assis, 42 anos, é moradora da Vila Galvão em Guarulhos, região metropolitana de São Paulo. Desde 2009 é uma empreendedora e administra a empresa Mary House, realizando confecção e comércio de bolos e salgados para festas.
A Mary House Eventos se tornou então um empreendimento formado por mulheres na cidade de Guarulhos que tem por objetivo promover a geração de renda em Vila Galvão. Em 2013, a empresa de Rose ganhou o prêmio da organização Consulado da Mulher, ação social da empresa Consul.
 
Confira o relato de Rose sobre sua história:
Eu trabalhava como atendente na TELESP. Com a mudança para a empresa Telefônica, mudaram para outra cidade muito longe. Então sai do emprego. Um dia a noite, estava sentada no portão pensando em como iria fazer sem um sustento pra minha família. Foi quando a Suzana, uma conhecida que morava perto de casa, passou perguntando da minha vizinha. Ela queria convida-la para enrolar salgadinhos. A vizinha não estava em casa e eu aproveitei e perguntei se não poderia ser eu. E foi assim que tudo começou.
Fazia bolos em casa, nada profissional, mas já recebia elogios. Então fui trabalhar com a Suzana e ajudava ela no que era preciso: enrolar os salgados, confeitar os bolos, cortar salada etc. Comecei a fazer os cursos e aprender a confeitar ainda melhor os bolos. E eu sempre apoiava a Suzana em comprar coisas para o negócio, como carrinho de algodão-doce e de crepe.
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Depois de três anos trabalhando com ela, um dia, o marido da Suzana sofreu um acidente e faleceu. No mesmo final de semana, tínhamos uma festa de aniversário grande para fazer e a Suzana não tinha condições. E a cliente também ficou perdida, pois faltava um dia para a festa e não teria como encontrar outra pessoa que fizesse a festa.
Então eu e minha irmã fomos tocar a festa no lugar da Suzana. Tinha que bater massa de crepe e cortar tudo, coisas que só a Suzana fazia. Eu só via. Mas então acreditei e fomos lá. Fomos em seis pessoas para atender, servir e produzir algumas coisas na hora. Era um aniversário de criança e tinha umas 100 pessoas na festa. Montamos as barracas e fomos lá. Deu tudo certo.  Então pensei: depois dessa experiência poderia dar conta do meu próprio negócio.
A Suzana se mudou para São José do Rio Preto, mas antes ela me incentivou muito a criar a Mary House. Ela doou a máquina de algodão-doce para nós, tirou a placa de ‘Vende-se bolos e salgados para festas’ do portão da casa dela e pregou no meu, e indicou todos os clientes dela para mim. E até hoje, mesmo morando longe, ela me indica.
Eu não acreditava que as pessoas iam encomendar de mim, porque minha casa é simples. Com o apoio da minha irmã e das mulheres da comunidade, que já trabalhavam com a Suzana, fui criando mais coragem e fomos trazendo mais pessoas para trabalhar junto e mais cliente.
Hoje a Mary House faz Buffet para casamento, aniversário, aceita encomenda de bolos, docinhos, bem-casados. Temos as tendas e as máquinas de crepe e de algodão-doce. Faço mini-pizza, pastel, mini-hambúrguer, tudo. Nós produzimos e também servimos nas festas. E estou fazendo um curso de confeitar bolo com pasta americana, porque preciso estar sempre preparada. Fazemos umas 4 festas por final de semana. Esse ano está mais parado e estamos fazendo 3 por mês, porque em Guarulhos está faltando muita água.
São 3 pessoas que trabalham comigo e outras 9 que eu chamo conforme a demanda. Todas as pessoas moram aqui perto, na Vila Galvão mesmo ou no Parque São Rafael. E são pessoas que precisam de ajuda para conseguir um trabalho porque não conseguem com carteira assinada, formalmente. Eu incentivo muito elas a se cuidarem, se tratarem, a fazerem curso. E eu sempre fui assim. Minha mãe falava que eu ia ser assistente social porque sempre fui amigas de todos e ajudei todo mundo.
Nossa divulgação é no boca-a-boca e na indicação. Um cliente vai indicando o outro. Os clientes sempre voltam e vão adquirindo mais e trazendo outras pessoas. Outro dia, meu filho levou um pratinho de brigadeiros para uma festinha na escola. Gostaram tanto que a diretora da escola encomendou mais. Já foi bolo para Praia Grande e até para Campinas.
Agora em abril fizemos um casamento no sábado de aleluia em São Miguel Paulista. Era para 300 pessoas, mas apareceram 600. Pela primeira vez tinha tanta gente. E deu tudo certo. Foi ótimo.
O transporte é o grande problema e o que impede o grupo de crescer. Não temos uma perua, um carro, para transportar os itens. Pagamos mais barato com um conhecido nosso, mas mesmo assim sai muito caro. Meu sonho é comprar um carro, uma perua.
Uma amiga que trabalha na Coordenadoria da Mulher (Prefeitura de Guarulhos), a Regina, foi na minha casa e contou sobre o Prêmio do Consulado da Mulher, e sugeriu de inscreveram o Mary House. Eu fiquei muito empolgada e topei na hora. Esperei o resultado e achei que não daria em nada.
Quando ligaram para falar que ganhei o Prêmio fiquei muito feliz. Minha primeira ideia foi comprar a perua pra transportar o material, mas a educadora do Consulado da Mulher veio conversar comigo e explicou que meu espaço de produção não se adequava às normas de vigilância sanitária e que meu negócio poderia até ser fechado. Até chorei.
Concordei que a cozinha deveria ser a prioridade e o Consulado da Mulher fez todo o projeto de melhoria da cozinha. Agora tem mais espaço, é mais organizado, tenho pia de inox com duas cubas, janela e porta de inox. Agora tenho mais coragem, posso mostra minha cozinha com orgulho.
Com o Consulado passei por algumas capacitações e oficinas como precificação de produtos e das horas trabalhadas. Eu e todas as outras mulheres passamos pela oficina de correta manipulação de alimentos e foi muito importante para todas nós.
Antes minha renda era bem baixa. Tirava uns 600 reais por festa, o que não dava para pagar nem as contas. Com a assessoria minha renda cresceu, fora as melhorias que consegui fazer na minha casa.
Agora tenho um quarto, porque morava em um cômodo e cozinha. Dormíamos neste um cômodo e quando as pessoas vinham fazer encomendas a noite, tinha que tirar as crianças dos colchões para as pessoas entrarem em casa. É muito difícil ver meus filhos nestas condições. Agora consegui construir nosso quarto e comprar camas para eles. É uma melhoria muito importante para mim e para minha família.
Hoje tem hora que fico olhando pra cozinha quando acordo e fico admirando ela. Nem parece verdade que conquistei tudo isso. Com meu negócio, eu tenho a ideia de crescer mais. Quero montar uma doceria ou buffet próprio, num local fixo. Contratar funcionário e poder ajudar mais pessoas e famílias.
Com meu próprio negócio tenho uma visão maior, faço meus horários. As crianças ficam mais felizes comigo trabalhando em casa. Sou mais feliz, mais realizada. Conquistei mais coisas do que antes, faço amizade com todo mundo, gosto de ajudar as outras pessoas.