Foto mostra Patty Durães segurando microfone durante palestra

Conversa de Portão #67: Nutricídio nosso de cada dia

Semayat Oliveira conversa com Patty Durães, gastrônoma e pesquisadora de alimentos, sobre as consequências do aumento da fome no Brasil

Por Amanda Stabile

03|08|2022

- Alterado em 06|04|2023

Mais de 33 milhões de brasileiros e brasileiras estão em insegurança alimentar grave. Mas o que isso significa socialmente e o que a fome faz com os nossos corpos? Essas perguntas pautaram a 67ª edição do Conversa de Portão. Semayat Oliveira, cofundadora do Nós, mulheres da Periferia, bateu um papo com Patty Durães, pesquisadora de Culturas Alimentares, com foco na ancestralidade e sustentabilidade da produção alimentar das comunidades tradicionais quilombolas, sobre as causas e consequências do aumento da fome no Brasil.

Patty conta que, com 3/4 anos, já era apaixonada pelo universo das comidas do quintal de sua avó. Sua comida favorita é a “comida de verdade”. “Comida de verdade é a comida que tem no prato. A comida que a gente faz. Eu ainda sou apaixonada pela comida da casa das pessoas acima de tudo”, conta.

Sobre o contexto brasileiro, nos últimos anos, milhares de pessoas não têm conseguido manter a qualidade de suas refeições. Hoje, os mercados vendem carcaças de frango, soro de leite, dentre diversas outras sobras e produtos alternativos. 

“Tudo que antes era desperdiçado ou utilizado para fazer ração animal está sendo comercializado porque a indústria também está movimentando a sua economia a partir da fome”, explica a gastrônoma.

Patty explica que quem tem mais dinheiro, está comendo menos, mas com mais qualidade; e quem tem menos dinheiro, está comendo pior. Isso porque os produtos industrializados estão mais baratos do que os in natura

“Se a gente for olhar as questões nutricionais da alimentação das classes C, D e E no Brasil, a gente tem vontade de chorar porque ninguém está se alimentando do que precisa. Então comprar um macarrão instantâneo em qualquer vendinha é mais barato do que comprar uma manga, um mamão ou um quilo de mandioca”, pontua.

Por meio da limitação do acesso a esses alimentos naturais, mundialmente os corpos negros estão com números elevados de hipertensão, diabetes, doenças cardíacas e obesidade. “Se a gente não come bem, não produzimos bem intelectualmente. Então vamos mal no trabalho, na escola, nos relacionamentos. Adoecemos, ficamos dependentes da indústria farmacêutica. E é assim que esse projeto governamental de genocídio por meio da alimentação se dá”, alerta Patty.

O Conversa de Portão é um podcast produzido pelo Nós, Mulheres da Periferia em parceria com UOL Plural, um projeto colaborativo do UOL com coletivos e veículos independentes. Novos episódios são publicados toda terça-feira.