mulher assina papel em eleição

Como é ser prefeita no Brasil em números 

Prefeitas governam apenas 12% dos municípios brasileiros; cenário não deve mudar nas eleições de 2024

Por Beatriz de Oliveira

05|04|2024

Alterado em 05|04|2024

Nas eleições de 2024, os brasileiros escolherão em outubro os prefeitos e prefeitas que governarão as 5.568 cidades que formam o Brasil. Segundo pesquisa do Instituto Alziras, Censo das Prefeitas Brasileiras (Mandato 2021-2024), apesar de serem 51% da população, as mulheres comandam apenas 12% dos municípios. Já as mulheres negras, estão à frente de apenas 4% dos municípios. Sabendo disso, como é ser prefeita no Brasil?

O Censo das Prefeitas Brasileiras entrevistou 42% das 673 prefeituras em exercício entre 2021 e 2024. A principal constatação foi a disparidade na quantidade de homens e mulheres prefeitos. Além disso, as prefeitas se concentram municípios menores e governam para 9% da população. “Isso significa que 91% da população brasileira tem como sua referência principal no poder executivo um homem”, pontua Marina Barros, formada em Administração Pública, cofundadora e diretora executiva do Instituto Alziras.

Características comuns das prefeitas 

Um traço marcante que a pesquisa revela é que as mulheres prefeitas têm ampla experiência na gestão pública. Setenta por cento delas já foram eleitas para outros cargos, como prefeita, vice-prefeita e vereadora, e 70% já ocuparam cargos de confiança, a maior parte como secretarias nas pastas de educação, saúde e assistência social. Além disso, “as prefeitas têm mais anos de estudo do que os homens prefeitos”, diz Marina.

Ser prefeita no Brasil também significa passar por situações de desmerecimento do seu trabalho ou das suas falas e assédio e violência no espaço político. “A nossa sociedade é muito patriarcal e machista, e as mulheres sentem isso diretamente nesses espaços de poder”, afirma.

Sancionada em 2021, a Lei 14.192 combate a violência política contra a mulher durante as eleições e exercício do mandato. No entanto, segundo Marina, a sua implementação é insuficiente e cerca de metade das prefeitas não fizeram nenhum tipo de denúncia por acreditar que o caso não seria resolvido.

O principal obstáculo citado pelas entrevistadas é a falta de recursos para campanhas. Ao mesmo tempo, a maioria delas considera importante a decisão de 2022 que garantiu às campanhas de mulheres pelo menos 30% dos recursos do Fundo Eleitoral e do Fundo Partidário e do tempo de propaganda eleitoral gratuita em rádio e televisão.

Gestão de mulheres X homens 

Diferentes estudos mostram diferenças dos mandatos de homens e mulheres à frente de prefeituras e na política institucional como um todo. Uma pesquisa de 2021 feita pelo Insper mostrou que as cidades governadas por mulheres tiveram 44% menos mortes e 30% menos internações por covid-19 do que os municípios dirigidos por homens. Outro estudo, da Unicamp, revelou que o aumento da representatividade da mulher na política brasileira reflete em uma menor taxa de mortalidade em menores de cinco anos.

“A diversidade enriquece as soluções públicas que precisamos formular para os problemas que temos hoje. A paridade de gênero e de raça são elementos fundamentais para estruturarmos uma democracia que de fato responda aos problemas que enfrentamos”, afirma Marina.

“A diversidade enriquece as soluções públicas que precisamos formular para os problemas que temos hoje. A paridade de gênero e de raça são elementos fundamentais para estruturarmos uma democracia que de fato responda aos problemas que enfrentamos”, afirma Marina.

Eleições 2024

Infelizmente, para Marina Barros, a expectativa é que o percentual de prefeitas negras não aumente com as Eleições de 2024. “Os grandes partidos que governam a maioria das prefeituras brasileiras não tem uma base de trabalho com mulheres negras. E as mulheres negras que estão nesses partidos têm muita dificuldade de se posicionar de forma estratégica para conseguir uma indicação para uma chapa de prefeitura”, explica. 

mulher veste preto

Marina Barros é cofundadora e diretora executiva do Instituto Alziras.

©arquivo pessoal

“Estamos vendo uma eleição em que os partidos vão ter mais recursos para investir nas candidaturas, em que partidos foram anistiados no passado por não cumprirem devidamente as cotas de financiamento para mulheres e para pessoas negras, e um jogo de emendas parlamentares que vão privilegiar os candidatos que vão pra reeleição, que são na sua maioria homens brancos. Para as mulheres negras e novas lideranças disputarem esse espaço das prefeituras vai ser muito mais difícil, infelizmente”, acrescenta. 

Para a especialista, a estratégia para o movimento de mulheres negras é ocupar as câmaras de vereadores e, num segundo momento, disputar as prefeituras.