Climática na quebrada: estamos sofrendo tanto com o calor quanto com o frio

Campanha #PerifaNoInverno do Instituto Perifa Sustentável promove debate sobre as consequências da crise do clima na comunidade.

16|08|2023

- Alterado em 21|08|2023

Por Amanda Costa

Fala minha lindeza climática 🙂

Muitas de nós, quando pensamos em mudanças climáticas, achamos que todo o debate está ligado com o aumento da temperatura do planeta. A nossa imaginação volta para o passado e lembramos das aulas de geografia, na qual vimos aquele urso polar magrinho magrinho, sofrendo por conta do derretimento das geleiras.

Perifa Sustentável, Urso Polar, Justiça Climática, Aquecimento Global

©Extra

A questão é que a crise climática não está longe, afetando só os ursos do polo norte. Cada um de nós já consegue sentir seus impactos no dia a dia, seja observando a fauna e flora, seja sentindo os impactos na nossa própria pele. Algumas das consequências da crise climática são:

1

Perda da biodiversidade e extinção das espécies;

2

Crescimento do número de refugiados climáticos/deslocados ambientais

3

Aumento dos eventos climáticos extremos, como chuvas torrenciais, tempestades de areia, tornados, nevadas, furacões, secas prolongadas, ondas de calor ou frio;

Sim, o frio!

Embora o aquecimento global seja um dos principais efeitos das mudanças climáticas, isso não significa que o frio intenso vai desaparecer completamente. Na verdade, pode ocorrer o contrário quando analisamos o microclima de alguns distritos, bairros e regiões. E para compreender os impactos dessa crise em cada território, precisamos primeiro saber distinguir clima e tempo:

Clima: refere-se às condições atmosféricas médias em uma determinada região ao longo de um longo período de tempo, geralmente de 30 anos ou mais.

Tempo: descreve as condições atmosféricas em uma determinada região em um momento específico ou ao longo de um período curto, normalmente variando de dias a semanas.

Em outras palavras, quando o assunto é tempo, estamos analisando a temperatura de determinada região num breve período, como dias e semanas. Mas quando falamos de clima, a compreensão é a longo-prazo, ampliando nossas análises para anos e décadas. Fez sentido?

Desde que o Instituto Perifa Sustentável, ONG que co-fundei e atuo como diretora executiva, começou a desenvolver as ações no território da Brasilândia, escutamos diversos relatos dos moradores dizendo que tanto o calor quanto o frio estão cada ano mais intensos na região.

E para mim, não faz sentido nenhuuuuuum participar dos debates globais se eu não puder fazer algo para desenvolver o meu território, trazendo projetos, ações e atividades para promover justiça climática para a população da minha comunidade.

Pensar em crise climática na quebrada é entender que a nossa galera está sofrendo tanto com o calor quanto com o frio. Durante o inverno o pessoal sofre! A maioria da casas não tem vedação e as famílias precisam se desdobrar para enfrentar o frio: fazem fogueiras, enchem garrafas de água quente para enrolar em toalhas e colocar embaixo das cobertas e naquele dia que está um frio lazarento, vestem todas as roupas que têm.

Isso não deveria ser algo normalizado!!!
Depois de fazer muitas conversas de escuta com organizações, grupos e coletivos locais, decidimos lançar a campanha #PerifaNoInverno em parceria com o Instituto Caminho da Paz e o Espaço Múltiplo. Todo o rolê foi puxado pela Gabriela Alves, diretora de participação social do Instituto Perifa Sustentável, que fez um trabalho de excelência!

No dia 15 de julho, chegamos no espaço do Instituto Caminho da Paz bemmmm cedinho e começamos as arrumações. Logo depois chegou o Matheus com grande sacos de roupas de frio e meias que o Espaço Múltiplo coletou para nos apoiar com a ação.

Rafis, nosso diretor de comunicação, colocou todo mundo para trabalhar! Abrimos os sacos, separamos os itens, dobramos bonitinho e fizemos pequenas sacolinhas com as meias, que seriam distribuídas junto com as marmitas para a população do Jardim Paraná durante a hora do almoço. Olha só a graça que ficou:

Perifa Sustentável, Justiça Climática, ação social

©Arquivo Pessoal

E como saco vazio não para em pé, contamos com os lanchinhos feito pelo coletivo de mulheres #PerifaAlimenta, especialista em preparar uma comida gostosa, orgânica e muito saudável. Nosso cardápio estava chique demais, tinha bolinho e pão de ora-pro-nóbis, beliscão de goiabada e um chá MA-RA-VI-LHO-SO de capim santo! Depois de distribuir as marmitas e beliscar os lanchinhos, fomos para a segunda parte da ação: OFICINA DE PINTURA COM A CRIANÇADA!

Matheus, pedagogo, professor de arte e idealizador do Espaço Múltiplo, foi nosso oficineiro artístico que nos desafiou a pensar em sonhos.

Já parou para pensar que num espaço de intensa vulnerabilidade social, sonhar é uma habilidade que precisa ser desenvolvida?

Foi um dia precioso que vou guardar para sempre na memória! Quero ser uma agente de transformação na minha comunidade, combatendo a crise climática a partir do meu território. Essa ação foi só o começo de um projeto de desenvolvimento sustentável para a minha Brasilândia, afinal de contas, antes de querer mudar o mundo, quero mudar o meu bairro!

E a real-oficial é que não dá para fazer nada inovador com frio nos pés e de barriga vazia, né?
Essa não foi apenas uma ação emergencista de doação de roupas de inverno, mas foi o primeiro para trazer justiça climática para a minha quebrada.

Perifa Sustentável, Justiça Climática, ação social

©Arquivo Pessoal

Veja o vídeo da ação nesse link.

Amanda Costa Amanda Costa é ativista climática, diretora executiva do Instituto Perifa Sustentável e Jovem Conselheira do Pacto Global da ONU.

Os artigos publicados pelas colunistas são de responsabilidade exclusiva das autoras e não representam necessariamente as ideias ou opiniões do Nós, mulheres da periferia.

Larissa Larc é jornalista e autora dos livros "Tálamo" e "Vem Cá: Vamos Conversar Sobre a Saúde Sexual de Lésbicas e Bissexuais". Colaborou com reportagens para Yahoo, Nova Escola, Agência Mural de Jornalismo das Periferias e Ponte Jornalismo.

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