Foto mostra o coletivo de teatro O Bonde

Cias pretas e periféricas para prestigiar em SP

A jornalista Lívia Lima indica companhias artísticas pretas e periféricas de São Paulo que estão com apresentações agendadas neste fim de semana e que vale a pena prestigiar. Confira!

Por Lívia Lima

Ainda no clima de consciência negra que celebramos em novembro, nesta edição queremos destacar o trabalho de companhias artísticas pretas e periféricas de São Paulo que estão com apresentações agendadas neste fim de semana e que vale a pena prestigiar. Confira! 

Cia. de Teatro Heliópolis

A Companhia de Teatro Heliópolis foi fundada em 2000, reunindo jovens da favela de Heliópolis, zona sul de São Paulo. 

O atual espetáculo do grupo, “Cárcere – ou porque as mulheres viram búfalos”, aborda o encarceramento em massa da população preta e periférica a partir do ponto de vista das mulheres. O título da peça se refere a um ‘itan’, lenda de Iansã na qual ela se transforma em búfalo para defender seus filhos e filhas.

Neste fim de semana, dias 3 e 4 de dezembro, a companhia se apresenta no Teatro Cacilda Becker, na Lapa (SP), com duas sessões no sábado, às 17h e 21h, e no domingo às 19h. Os ingressos são gratuitos. 

O Bonde

Formado em 2017 por artistas negros da Escola Livre de Teatro de Santo André (SP), o Coletivo O Bonde se notabilizou por espetáculos infantis. 

Durante a pandemia, estreou o primeiro trabalho adulto, Desfazenda – Me Enterrem Fora Desse Lugar”, com o qual foi premiado pela APCA como melhor espetáculo online de 2021.

A peça é livremente inspirada em uma história real, descrita no documentário “Menino 23 – Infâncias perdidas no Brasil” (dir. Belisario Franca), que parte da descoberta de tijolos marcados com suásticas nazistas em uma fazenda no interior de São Paulo, para onde, segundo registros históricos, 50 meninos negros de um orfanato foram levados e submetidos a trabalhos forçados, isolamento social e castigos físicos por três irmãos que faziam parte da Ação Integralista Brasileira, partido de extrema direita de ideário fascista e nazista.

O grupo apresenta o espetáculo agora de forma presencial, em temporada no Sesc Avenida Paulista a partir de 2 de dezembro até 14 de janeiro de 2023, às quintas, sextas e sábados às 20h, e domingos às 18h. Os ingressos custam de R$9 a R$30. 

Grupo Clariô de Teatro

O Grupo Clariô de Teatro surgiu em 2002, em Taboão da Serra, município da região metropolitana de São Paulo. Em 2005 inauguraram o Espaço Clariô, primeiro centro cultural da cidade, fortalecendo sua importância e identidade como um grupo de periferia e acolhendo diversas manifestações artísticas da região, para além dos trabalhos teatrais. 

Em novembro a companhia estreou “O Boi mansinho e a Santa Cruz do Deserto”, espetáculo com cantorias, bonecos e inspiração na cultura popular que conta a história do Caldeirão de Santa Cruz, irmandade que ousou propor uma sociedade mais justa no Cariri cearense, sob liderança do beato José Lourenço, nas primeiras décadas do século XX. 

A peça fica em cartaz até dia 11 de dezembro, de quinta a domingo, sempre às 20h, com ingressos gratuitos. O Espaço Clariô fica na R. Santa Luzia, 96 – Vila Santa Luzia, Taboão da Serra (SP). 

Cia. Lelê de Oyá

A Cia Lelê de Oyá foi fundada em 2010 por três mulheres de diferentes regiões da cidade de São Paulo que trouxeram consigo a experiência adquirida em outros grupos de cultura popular. A companhia está localizada em Itaquera, na zona leste, e tem no Maracatu Nação sua principal referência e fonte de inspiração. 

Neste sábado, dia 3, o grupo participa da 7ª edição do Preta Leste, evento promovido pela Oficina Cultural Alfredo Volpi, em parceria com a curadora e pesquisadora Kelly Santos, que tem como objetivo a valorização dos saberes culturais e rituais sagrados de origem afro-brasileira a partir da visibilidade às ações culturais dos coletivos artísticos e pesquisadores da zona leste que se relacionam com experiências afro-diaspóricas.

A partir das 15h, a companhia realiza seu tradicional cortejo, ritual anual de renovação e expansão do Axé, em que se evidencia o amor e a paz presente nas religiões de matriz africana, em reverência à essência da água, fonte principal da vida.

O cortejo contempla a louvação aos Orixás e a lavagem da escadaria da Igreja Nossa Senhora do Carmo, no Largo da Matriz, no centro de Itaquera, seguidas pelo xirê dos Orixás que seguem em cortejo até a Oficina Cultural Alfredo Volpi. 

Larissa Larc é jornalista e autora dos livros "Tálamo" e "Vem Cá: Vamos Conversar Sobre a Saúde Sexual de Lésbicas e Bissexuais". Colaborou com reportagens para Yahoo, Nova Escola, Agência Mural de Jornalismo das Periferias e Ponte Jornalismo.

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