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Camila Aragão: ativista baiana na COP28 luta por acessibilidade e justiça ambiental

Camila Aragão é uma das nove lideranças que compõem a Rede "Vozes Negras pelo Clima" e levam as demandas de seus territórios para a Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas.

Por Mariana Oliveira

07|12|2023

Alterado em 18|12|2023

“Eu sou uma mulher preta, gorda e com deficiência visual”. É assim que Camila Aragão, ativista, consultora em acessibilidade e agente comunitária de saúde, em Salvador, Bahia, se descreve. Selecionada entre as nove mulheres da Rede “Vozes Negras pelo Clima”, que irão representar a Conferência das Partes (COP28), que este ano acontece em Dubai, nos Emirados Árabes, entre os dias 30 de novembro e 12 de dezembro, Camila afirma estar ansiosa para devolver à sua comunidade o conhecimento e ações que serão discutidas no evento. “Tenho a oportunidade de trazer, de verdade, as mudanças que minha comunidade precisa”, conta.

A COP tem o objetivo de avaliar a situação das mudanças climáticas a partir de uma reunião envolvendo lideranças mundiais. Camila sente a responsabilidade em ser uma das representantes do Brasil na conferência.

Espero conseguir atender as expectativas e contribuir em minha comunidade assim que retornar.

O início na militância

Criada no Subúrbio, na cidade de Salvador (BA), enquanto mulher negra e com deficiência visual, a ativista notou desde cedo os desafios e iniciou sua trajetória como militante de forma inconsciente. Durante a infância, acompanhou o tio, agente de saúde, conhecido como Roque Preto, durante os atendimentos domiciliares. “Eu sempre fui muito ‘conversadeira’, e eu conseguia descobrir coisas que às vezes ele não conseguia. As pessoas se sentiam confortáveis em conversar comigo”, lembra.

Na comunidade em que cresceu e nas que visitava com seu tio, muitas localizadas em Áreas de Preservação Ambiental (APA), Camila percebeu a precariedade no acesso à saúde, água potável, saneamento, escolas e transporte. “Sabia que precisava brigar para conseguir ter esses direitos. No começo, era apenas eu, mas as pessoas foram se juntando, e conquistamos tudo de forma coletiva” explica.

Inspirada pelo trabalho do tio, aos 18 anos tornou-se agente de saúde, e foi alocada para atender na mesma comunidade em que cresceu, onde testemunhou uma fonte de água natural se transformar em um córrego poluído. “Eu precisava mobilizar as pessoas para recuperação daquela bica, e consegui”. Desde então, Camila luta pelo “pertencimento ao ambiente”, o que considera uma forma de empoderar sua comunidade para viver em harmonia com a natureza, sem destruí-la.

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© Arquivo pessoal

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Ativa na comunidade, em coletivos de mulheres negras e no Movimento Brasileiro de Mulheres Cegas e de Baixa Visão, em 2015 buscou formação técnica para continuar trabalhando. Por duas vezes Camila foi aprovada no curso de Saneamento Subsequente, do Instituto Federal da Bahia (IFBA), mas o abandonou por falta de acessibilidade nas disciplinas.

Cursei até o quarto semestre e infelizmente abandonei. Eu não conseguia acompanhar as aulas pois não tinha acessibilidade.

Em 2016, realizou o sonho da casa própria por meio do programa de moradias do governo federal, “Minha Casa, Minha Vida”. Com a casa nova compreendeu o significado de racismo ambiental. “Não entendia porque o condomínio tinha acesso à água, e as comunidades ao redor não. Não tinham saneamento, escola, posto de saúde, nem transporte público. A população negra é a que mais ocupa esses lugares, e sofre com grandes enchentes e desmoronamentos”, conta Camila.

Mobilizando a comunidade e articulando com o poder público, conseguiu levar transporte público, Unidade de Saúde da Família (USF), campanhas de prevenção à gravidez na adolescência, e campanhas de vacinação na região. Ela diz que ainda há muito trabalho a ser feito, mas nota os resultados de seu ativismo nos lugares por onde passa. Ainda sonha em se formar no ensino superior, mas a prioridade atual é extrair o máximo de conhecimento e informação na COP28 e revertê-los para sua comunidade. “Eu vou conseguir cobrar o poder público para ter água sem necessidade de caminhão pipa nos vilarejos. Para que a gente não espere a época de chuvas chegar para propor soluções de contenção de enchentes, por exemplo”, finaliza esperançosa.