Caetana, cultura nordestina, música

Caetana: a cantora trans que mistura ritmos e rompe barreiras na música

Com sua turnê de estreia do álbum "Afronordestina", a cantora Caetana mescla a cultura nordestina com elementos do pop, funk e hip-hop.

Por Mariana Oliveira

16|06|2023

Alterado em 21|06|2023

A música popular brasileira é um verdadeiro caldeirão de referências e, em cada estado que se visita, somos apresentados a ritmos e características diversas. Uma das artistas que exemplifica essa mistura de influências é a cantora Caetana.

Nascida na capital pernambucana, Recife, Caetana foi criada pela avó desde cedo. Sua mãe faleceu muito jovem, mas ela guarda lembranças dos anos que viveram juntas, sempre ouvindo-a cantarolar. Foi nessa época que a paixão pela arte despertou. Durante a infância e adolescência, sempre esteve envolvida em projetos artísticos gratuitos na cidade.

Desde os 13 anos a artista estuda dança, teatro e música. Foi somente em 2011, aos 17 anos, que ela entrou profissionalmente no mundo artístico. Inicialmente, não pensava em cantar, mas incentivada por um professor de teatro, começou a cantar e não parou mais. Hoje, aos 29 anos, já realizou mais de 50 shows, incluindo seis festivais em Recife, sua cidade natal.

Caetana, cultura nordestina, música

Caetana durante apresentação.

©Ira Barillo

Caetana é uma mulher trans, que considera a religiosidade e a família como seus pilares. No entanto, apesar disso, não recebeu o apoio esperado ao decidir seguir carreira na música. “Eu não tive apoio da família em minha carreira. Em casa, eles ainda me tratam no masculino e têm a ideia de que pode ser alguém na vida quem seguir em profissões ‘mais respeitáveis’, como advogado ou médico. Quando contei para minha avó que eu queria ser cantora, ela riu”, conta.

As músicas de Caetana refletem aspectos de gêneros e danças típicas do nordeste, como coco de roda, maracatu, frevo e brega funk. Além disso, ela incorpora influências de outros gêneros como funk, hip hop e rap, além das referências do pop internacional. “Nem preciso falar da Beyoncè”, ressalta. Em 2020, lançou o single Odoyá, com participação de Deize Tigrona. Além das referências que cresceu ouvindo, ela atribui à sua idade a possibilidade de transitar entre os ritmos: à medida que consome o clássico, convive com o contemporâneo da música.

Em maio deste ano, Caetana realizou uma breve turnê com o disco “Afronordestina”, em espaços culturais negros e periféricos da cidade de São Paulo (SP). Essa experiência destacou para a artista a versatilidade e abrangência de seu trabalho “São Paulo, Rio de Janeiro são uma loucura, os mais diferentes tipos de pessoas te recebem, coisa que infelizmente não acontece no meu estado. Ainda mais mulheres como eu: cantoras independentes, pretas e trans”.

Caetana tem conquistado seu espaço aos poucos ao longo dos anos e, por mais que seja uma artista independente, atualmente consegue viver apenas da arte. “Hoje eu consigo contratar os músicos que vão tocar comigo. Consigo montar meus figurinos. Eu consigo pagar minhas coisas sem depender de editais. Não é muita grana, mas não tenho dor de cabeça pensando em como conseguir esse dinheiro para pagar tudo”.