BBB23: o que levam as pessoas a consumirem reality shows?
Um dos maiores programas de entretenimento do país lança hoje (16) sua 23º edição. Ouvimos mulheres para entender a motivação por trás da expectativa de estreia.
Por Mariana Oliveira
16|01|2023
Alterado em 18|01|2023
Estreia hoje, 16 de janeiro a 23º edição do Big Brother Brasil (BBB), um dos reality shows mais conhecidos da televisão brasileira. O programa seleciona e restringe competidores em uma casa cenográfica, sem acesso a televisão, internet e nenhuma possibilidade de comunicação com quem está de fora da casa. Além disso, os participantes são monitorados por câmeras 24 horas por dia, durante os três meses de duração do reality.
Os competidores concorrem a recompensas e disputam provas, sujeitos à eliminação. O vencedor recebe um prêmio em dinheiro. O programa é um fenômeno: segundo dados do PNT (Painel Nacional de Televisão), divulgados em 2022 pela TV Globo, emissora detentora do programa, durante a exibição da última edição, o BBB22 foi responsável pela maior audiência da emissora.
Dado a característica popular do programa e a recorrente associação de que quem assiste são pessoas menos críticas, ouvimos algumas mulheres que acompanham reality shows para entender o que as levam assistir programas nesse formato.
Em seu artigo, “Reality shows: uma abordagem psicossocial”, publicado em 2006, a psicóloga e doutora em psicologia social, Marília Pereira Bueno Millan, diz que acompanhar um espetáculo é uma forma de se ausentar provisoriamente da própria vida. Ela explica que, pelo recurso de câmeras os acompanharem a todo instante, os espectadores têm a possibilidade de se sentirem como Deus, presentes e participantes de tudo.
“O sucesso do “Big Brother” confirma a volatilidade da experiência humana pós-moderna: não queremos sentir, pensar ou agir, abdicamos da angústia existencial para que outros, nem atores e nem personagens, vivam por nós, hipomaniacamente, o que restou do verdadeiro e profundo sentido de nossa existência”, diz um trecho do artigo.
O entretenimento
Com a intenção de “esquecer dos problemas”, a enfermeira Michelli Pontes acompanha o BBB e outros programas semelhantes. Diante do estresse da rotina, conta encontrar neste tipo de programa um modo prático de fugir da realidade. Com as diversas opções de categorias de realitys, ela tem preferência pelos que mantêm uma rotina de atividades e eliminação de participantes. “Gosto de realitys que têm provas, punição por atitudes dos participantes. Enfim, do tipo que gera um entretenimento voltado para o jogo, para ver as estratégias dos participantes”.
Michelli revela ouvir algumas críticas por assistir ao programa, mas à mesma medida nota uma grande quantidade de pessoas acompanhando diariamente, durante cada edição.
“Não vejo problema nenhum em uma pessoa se alienar um pouco, vejo que as pessoas buscam uma fuga. Mas é importante que elas não vivam em função disso”.
Para a designer Gabriela Lucena, esses espetáculos são “um tipo de programação fútil”, mas assim como Michelli, utiliza do recurso como alternativa para fugir da realidade. Ademais considera como uma oportunidade de conversar com várias pessoas sobre o mesmo tópico. “Eu adoro uma fofoca e o reality gera esse espaço”.
Para ela, o interessante é acompanhar os mais diversos tipos de reality, principalmente os que fogem por completo de sua realidade. “É engraçado perceber como outras pessoas pensam e que rumo dão para suas vidas. Julgar, me emocionar e levar lições para minha própria vida, me faz sentir um pouco melhor e perceber que minha vida não está tão confusa. É puro entretenimento”.
Além do tradicional formato televisivo desses programas, Gabi consome performances originais e exclusivas de criadores de conteúdo em redes sociais, como o Tik Tok. “Tenho acompanhado principalmente os de reforma, progresso de animais resgatados, limpezas de ambientes abandonados, ou a rotina de animais exóticos”.
Mesmo consumindo uma grande variedade de estilo dos programas, presencia comentários de rejeição a respeito.
“Já escutei pessoas dizendo que assistir esse tipo de programa é perda de tempo, que seria melhor ler um livro. Mas, existem livros horríveis e às vezes é melhor perder uma horinha em reality, que várias em um livro de gosto duvidoso”.
A jornalista Rafaela Oliveira produz conteúdo sobre o tema em veículos de entretenimento. Para ela, mesmo o público que não assiste acaba sendo atingido pela programação pois os tópicos abordados entre os participantes viram polêmicas muito comentadas na internet. “Apesar de serem programas da massa, existe um nicho de pessoas que não consomem, mas percebo que grande parte acompanha justamente por ser um dos assuntos mais comentados na internet”.
Enquanto fã, tem preferência por programas que envolvem dinâmicas que podem ser alteradas entre as edições. Além disso, também tem como favoritos aqueles que oportunizam participantes mesmo após o encerramento. “Muitas pessoas conseguiram conquistar coisas que antes não tinham condições. É bem comum vermos o participante entrar dizendo que quer ajudar a família com dinheiro”.