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Auxílio Brasil e Eleições 2022: confira o relato de beneficiárias

Aumento do benefício pode garantir mais votos a Jair Bolsonaro; beneficiárias acham o valor baixo.

Por Beatriz de Oliveira

16|08|2022

Alterado em 16|08|2022

“R$ 400 é uma ajuda, mas pelos preços que as coisas estão hoje, a gente pode dizer que é quase nada”. “R$ 400 não paga nem o jantar deles [políticos]”. Essas são algumas das falas que o Nós, mulheres da periferia ouviu em entrevistas com mulheres que recebem o Auxílio Brasil, para saber suas percepções sobre o aumento do benefício e as eleições deste ano. Ambos os comentários expressam opiniões parecidas, porém as escolhas políticas divergem: uma delas pretende votar em Lula (PT), e a outra em Jair Bolsonaro (PL).

O aumento de R$ 400 para R$ 600 do Auxílio Brasil começou em agosto e vale até dezembro. A mudança está prevista na PEC (Proposta de Emenda à Constituição) 1/22, que inclui ainda outras medidas que só valem até o fim do governo Bolsonaro.

Monica Oliveira, assessora parlamentar e integrante da Rede de Mulheres Negras de Pernambuco, explica que o movimento é uma tentativa do atual presidente conseguir mais votos na disputa eleitoral de 2022. Para ela, a estratégia será em parte bem sucedida, “porque ainda existe na população brasileira uma certa noção de ‘gratidão’, que é aproveitada nessa estratégia do candidato Bolsonaro”.

Diante disso, a assessora aponta que “é importante lembrar que o presidente está se aproveitando da desgraça, da vulnerabilidade dessas pessoas, uma vulnerabilidade que foi aprofundada justamente pelas medidas tomadas por ele em seu governo”.

Segundo pesquisa do PoderData, Lula é o favorito entre os candidatos que recebem o Auxílio Brasil. O levantamento realizado entre 31 de julho e 2 de agosto, mostrou que o ex-presidente tem 58% das intenções de voto dos beneficiários, já Bolsonaro tem 25%.

“Não dá pra manter uma família com R$ 600”

Apesar das divergências políticas, todas as mulheres que ouvimos consideram que o Auxílio Brasil é uma “ajuda”, mas que o valor é baixo diante da alta da inflação. Entre elas, está Symone Gomes Ferreira, que vive na cidade de Nossa Senhora do Socorro (SE). Mãe de cinco filhos e desempregada, ela define o aumento do benefício como uma enganação para possibilitar a reeleição.

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Symone Gomes Ferreira é mãe de cinco filhos e está desempregada.

©arquivo pessoal

“Eles aumentam o auxílio e as coisas vão à milhão também, o alimento, o gás, o aluguel, aumenta”, afirma. Symone pretende votar em Lula nas eleições de outubro, e explica o porquê: “Quando Lula ganhou a eleição muita coisa mudou, muito pobre nunca tinha chegado nem na porta da faculdade e começou a estudar. Muitos conseguiram sua casinha, seu carrinho. E agora muitos já estão se desfazendo, por causa das dívidas, tem o carro e já não consegue colocar gasolina”.

Assim como Symone, Elizabete Viela está desempregada. Ela vive com as seis filhas em uma casa alugada em Paraisópolis, zona sul da cidade de São Paulo (SP). Sobre o benefício que recebe a cada mês, diz: “R$ 400 é uma ajuda, mas pelos preços que as coisas estão hoje, a gente pode dizer que é quase nada”.

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Elizabete Viela mora em Paraisópolis, zona sul da cidade de São Paulo (SP).

©arquivo pessoal

Em razão desse cenário de dificuldade, a dona de casa ficou sem esperança na política, e chegou a pensar em não comparecer nas votações este ano. Mas o aumento do auxílio a fez mudar de ideia. Decidiu dar mais uma chance ao presidente Jair Bolsonaro. “Não é só pelo auxílio, ele é uma pessoa cristã, eu também sou”, diz.

A assessora parlamentar Monica Oliveira pontua que o Auxílio Brasil não tem o objetivo de superação da pobreza. Para ela, é preciso que o eleitorado reflita sobre a alternativa do voto em Lula como um caminho para “resgatar o país das mãos dessa elite perversa e retomar a dignidade da população mais pobre, garantindo a ela melhores condições de vida”.

A operadora de caixa Priscila dos Santos Silva concorda: “meu ponto de vista é que o PT sempre ajudou os pobres, os outros ajudavam mais os ricos”. Para a moradora do bairro de Campo Grande, em Recife (PE), o voto em Lula já está decidido. Sobre o Auxílio Brasil, ela afirma: “não dá pra manter uma família com R$ 600”.

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Priscila Silva mora no bairro de Campo Grande, em Recife (PE).

©arquivo pessoal

Joice Jesus Silva é mãe solo e consegue sua renda através de trabalhos como manicure e cabeleireira. Como sua renda mensal é incerta, ela está aliviada com sua aprovação para receber o Auxílio Brasil a partir de agosto. Define o valor mensal como “melhor do que nada”. A moradora do bairro de São Cristóvão, em Salvador (BA), confessa que não está pensando muito nas eleições de 2022, mas tende a optar pelo voto em Jair Bolsonaro.

Com o título de eleitor cancelado há 15 anos e sem possibilidade de pagar multa para regularizar o documento, Joseane Santos de Oliveira sabe em quem votaria em outubro: Lula. Mãe solo de cinco filhos, ela relata as dificuldades que enfrenta no Brasil de 2022: “eu não sei mais o que é comprar uma carne, eu vivo de ovo, que está caro também”. E se revolta ao pensar na diferença entre o seu prato e o dos políticos: “R$ 400 não paga nem o jantar deles [políticos]”, afirma se referindo ao valor do Auxílio Brasil.

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Joseane de Oliveira vive em Salvador (BA).

Ela, que mora em Salvador (BA), conta ainda dos anos em que recebeu o Bolsa Família durante o governo Lula. “Eu lembro até hoje, R$ 110 que eu recebia do Bolsa Família eu comprava muita coisa, nunca precisei comprar cesta básica fiado”.

O Bolsa Família foi criado em 2003 e se tornou referência mundial como programa de transferência de renda. De acordo com pesquisa do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), o programa reduziu a pobreza em 15% e a extrema pobreza em 25%, entre os anos de 2003 e 2017. O Bolsa Família teve fim em outubro de 2021 e no mês seguinte foi substituído pelo Auxílio Brasil.

Verônica Costa, de São Cristóvão, Salvador (BA), se diz insatisfeita com os últimos quatro anos de governo. “Bolsonaro não deu nada, só está tirando o que a gente tem. Hoje tá tão difícil ter casa própria, comprar um carro. Bolsonaro tirou muita oportunidade da gente. Ele é válido para quem tem dinheiro, pra quem não tem, ele não ajuda”.

A baiana decidiu não comparecer ao colégio eleitoral neste ano, dizendo não querer votar em nenhum dos dois candidatos que estão com maior percentual de intenções de voto.

Segundo o Ministério da Cidadania, o Auxílio Brasil atende mais de 20 milhões de famílias, com depósito de R$ 12 bilhões a cada mês. Recentemente, no dia 3 agosto, o presidente Jair Bolsonaro sancionou uma lei permitindo a contratação de empréstimo consignado através do benefício.