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Ativista de causas raciais, Carla Zulu ‘descobriu’ sua negritude no hip hop

A produtora cultural Carla Zulu compartilha sua jornada no movimento hip hop, revelando como essa cultura a conduziu ao letramento racial e ao reconhecimento de sua própria identidade.

Por Mariana Oliveira

13|12|2023

Alterado em 13|12|2023

Ativista, produtora cultural, mulher preta e pesquisadora sobre cultura negra. Carla Zulu tem uma trajetória no setor cultural desde o ano 2000. Foi no movimento hip hop que ela desenvolveu uma compreensão mais profunda de sua negritude e teve seu primeiro contato com o letramento racial.

Com formação em Gestão Pública, Carla já foi coordenadora de políticas para a juventude da cidade de São Paulo (SP). E atualmente preside a Ong Hip Hop Mulher, integra o corpo diretivo da Zulu Nation Brasil, grupo de conscientização da cultura hip hop, e é porta-voz do Museu das Favelas.

Quem vê todo esse currículo de Carla, não imagina que ela começou trabalhando aos 13 anos como office girl, entregando documentos na região central de São Paulo.

Naquela época, as pessoas se reuniam para dançar, e lá ficavam Nelson Triunfo, Thaíde e DJ Hum, eu achava muito interessante. Eu sou da época em que a gente dançava ‘é o tchan’, que tipo de letramento tem nisso? Nenhum, pelo contrário, era uma exaltação dos seus corpos.

Criada em Diadema, região metropolitana de São Paulo, Carla destaca que muitas de suas vivências com cultura negra foram aprendida na Casa de Cultura Hip Hop de Diadema. “Estar naquele espaço é como reencontrar uma vertente nossa. A música que mais domina entre nós da periferia é o rap, porque ela é um protesto, fala quem são as pessoas oprimidas e minorizadas por esse sistema que nos pressiona há tantos anos”.

Em casa, alimentada pela música e arte negra, diz ter crescido em um “conto de fadas”, e até a adolescência desconhecia o racismo. Foi no mercado de trabalho que foi sofreu discriminação por sua cor de pele pela primeira vez. “Naquele momento, eu entendi que não era mais a queridinha do meu pai e da minha mãe. Eu era uma pessoa negra sendo xingada apenas por existir”, lembra. Apesar de deixar marcas negativas em sua autoestima, Carla recorreu à formação acadêmica como forma de empoderamento. “Comecei a ler Maya Angelou, Audre Lorde. Fui entender o que o sistema carcerário faz com as pessoas pretas. Porque, nós que construímos esse país, somos pessoas mal vistas dentro dele. A partir daí, começo a ter letramento e levá-lo para dentro da minha casa. Ensino minha mãe, minhas filhas, e agora minha netinha”, relata

Carla confessa ser uma pessoa curiosa, o que a leva a permanecer ativa na pesquisa e disseminação da cultura negra através da arte. Além disso, sente-se privilegiada em ser uma referência para outras pessoas. “Eu sempre pedi muito para os meus orixás me guiarem no caminho do que é certo, para estar no caminho das coisas que pudessem favorecer e empoderar pessoas como eu. Acredito que meus orixás e meus ancestrais estão felizes pelo meu trabalho, em saber que eu não pisei ninguém”, finaliza alegre.