Associação apoia audiovisual negro com fundo da Netflix

A intenção do financiamento é incentivar que criadoras e criadores negros não se afastem das suas atividades no período da pandemia. As inscrições serão abertas a partir de 21 de março.

Por Redação

16|03|2021

Alterado em 16|03|2021

A Associação de Profissionais do Audiovisual Negro (APAN) recebeu uma doação no valor de R$3 milhões da Netflix. O recurso será destinado a um fundo que tem como objetivo apoiar profissionais autônomos na área do cinema.

As inscrições estarão abertas a partir de 21 de março no site da APAN, dia que marca a “Luta Internacional contra a Discriminação Racial”.

Um ano após a pandemia ter abalado profundamente a comunidade criativa ao redor do mundo, e em meio a uma nova onda no Brasil, a intenção do financiamento é incentivar que criadoras e criadores negros não se afastem das suas atividades.

O objetivo é que o fundo beneficie pelo menos 875 profissionais autônomos e 275 representantes legais de empresas vocacionais, dedicadas à produção de conteúdo identitário e que entendem a necessidade de uma transformação na cadeia de produção.

Associação de Profissionais do Audiovisual Negro (APAN)
Um dos pilares da organização é valorizar a negritude e defender os interesses de uma perspectiva inclusiva, com atenção ao recorte racial em relação a todos os elos da cadeia produtiva audiovisual, desde a concepção até a exibição.

Para as lideranças da associação, o cinema negro não é e nem deve ser tratado como um gênero. É uma revolução. Com a internet, a conexão entre profissionais negros apresentou uma nova janela para as essas narrativas. Mas, na prática, continuam enfrentando disparidades.

“Há um desnível de profissionalização, principalmente na tríade criativa – roteiristas, produtores e diretores negros – e faltam recursos para que a gente possa realizar”, afirmou Rodrigo Antonio, sócio – diretor da associação.
Para ele, esta é a primeira ou segunda geração de criadores pretos brasileiros que têm a oportunidade de derrubar os muros que separam as produções nacionais de uma narrativa verdadeiramente plural.

“Palavras como diversidade e representatividade não dão mais conta da multiplicidade da negritude. Nossas histórias são urgentes, ao passo em que mais pessoas querem se ver refletidas em diferentes telas. Como realizador preto e amazônico, reconheço essa responsabilidade de não só consumir, mas produzir conhecimento, em forma de arte”, ressaltou.

Liderança feminina

Recentemente, a então diretora da associação, Viviane Ferreira, deixou esse cargo para assumir a presidência da SpCine, empresa municipal do setor de audiovisual na cidade. O anúncio foi feito pelo secretário da Cultura da cidade de São Paulo, Alê Youssef no dia 19 de fevereiro. Viviane é especialista em políticas públicas para o audiovisual, advogada e cineasta. Em 2020, foi a representante brasileira no Comitê de Seleção do Oscar.

Com a saída, Thais Scabio é umas das lideranças femininas da APAN, ocupando a posição de sócia-diretora junto com Rodrigo Antonio. Cineasta paulistana e produtora executiva da Cavalo Marinho Audiovisual, ela realiza projetos de formação audiovisual em periferias de São Paulo e é criadora e diretora artística da MIIA – Mostra Itinerante Infantil Juvenil de Audiovisual. Atualmente, é gestora de desenvolvimento de negócios da Todesplay.

Outra mulher que ocupa uma posição de direção é Joyce Prado,  diretora, roteirista e fundadora da Oxalá Produções. Em 2020, estreou seu primeiro longa Chico Rei entre Nós (doc, 2020) na 44ª Mostra Internacional de Cinema de São Paulo,  dirigiu e roteirizou ‘Memórias de Um Corpo no Mundo’ (doc, 33’39”, 2018), documentário musical sobre a primeira turnê nacional de Luedji Luna. Diretora premiada no Womens Music Event em 2018, tem dentre seus principais projetos o curta Calmon (em produção), a websérie Cartas de Maio ( 2018); os curtas Okán Mímó (doc, 2017) e Fábula de Vó Ita (fic, 2016).


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